São Paulo, quarta-feira, 20 de outubro de 2004

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HOLOCAUSTO

Arquivistas anunciam descoberta de cartas, escritas em campo de concentração, da judia Helga Deen, 18, ao namorado

Holanda revela diário de vítima do nazismo

Arquivo Regional de Tilburg
Associated Press

A judia Helga Deen, que contou em diário sua vida em campo de concentração na Holanda


DA REDAÇÃO

Um diário da era do Holocausto que contém cartas de amor enviadas por uma adolescente judia a seu namorado holandês durante o tempo em que ela ficou presa num campo de concentração, em 1943, foi descoberto em Tilburg, na Holanda.
Arquivistas anunciaram ontem a rara descoberta, que lembra o famoso diário de Anne Frank. O diário foi escrito por Helga Deen, 18, durante seu último mês de detenção no campo de Vught, situado na Holanda. Ela ficou presa no local de abril a julho de 1943.
"Ela manteve um diário secreto para ajudar seu namorado a entender o que ela estava vivendo", disse Yvonne Weling, do Arquivo Regional de Tilburg.
Deen, seu irmão, seu pai e sua mãe foram enviados ao campo de concentração de Sobibor, na Polônia, em julho de 1943. Todos os quatro morreram no local.
Weling afirmou que a família do namorado de Deen, Kees van den Berg, doou o diário ao arquivo de Tilburg neste ano. Ao lado de um cacho do cabelo da namorada, Van den Berg guardou o diário depois que ela foi deportada.
No diário, Deen registrou algumas de suas experiências cotidianas e o que sentia durante o tempo em que ficou detida na Holanda, segundo Weling.
"Talvez o diário seja uma decepção para você, pois ele não contém muitos fatos. Mas talvez você fique feliz em encontrar-me nele: há conflito, dúvida, desespero, timidez, vazio", escreveu Deen a seu namorado.
Em outro dia, ela escreveu, aludindo à sua família: "Não temos casa nem país e devemos nos ajustar a esse modo de vida. O que tenho visto nos últimos meses é indescritível e, para alguém que nunca esteve aqui, inimaginável".
Em outra parte de seu diário, de somente 21 páginas, Deen resumiu a dificuldade da situação que vivia na Holanda em poucas palavras: "Quando minha força e minha vontade morrerem, morrerei também". Em 2 de julho de 1943, Deen escreveu pela última vez a seu namorado. Suas anotações são parcialmente ilegíveis, mas ela terminou uma frase assim: "(...) entre os pacotes, pois partimos em breve". Aparentemente, ela se referia a uma tentativa de enviar o diário ao namorado pela última vez, já que toda a sua família seria deportada em pouco tempo.
Partes do diário de Deen serão expostas em Tilburg, em 30 de outubro, e o arquivo da cidade negocia com museus a possibilidade de expor as cartas da adolescente judia em outros lugares.
Anne Frank escreveu seu famoso diário quando ela e seus familiares (judeus alemães) estavam escondidos no sótão de uma casa em Amsterdã, na Holanda. Mais tarde, eles foram traídos e entregues aos nazistas. Ela morreu de tifo, aos 15 anos de idade, em Bergen-Belsen, na Alemanha, em 1945, semanas antes de os britânicos invadirem o campo.
Somente seu pai sobreviveu à guerra. Ele coletou as notas de sua filha e as publicou. "O Diário de Anne Frank" se tornou o primeiro livro de sucesso sobre o Holocausto, e ela se transformou num símbolo do sofrimento dos judeus durante a Segunda Guerra.
Cerca de 6 milhões de judeus foram mortos no Holocausto, incluindo por volta de 100 mil da Holanda.

Com agências internacionais


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