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Falhas prejudicam investigação de massacre
Chefe da equipe que apura morte de 18 camponeses no departamento boliviano de Pando em setembro diz que provas não foram preservadas
De acordo com o advogado Rodolfo Mattarollo, informe previsto para ser entregue em novembro deve apontar inação das autoridades
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado argentino Rodolfo Mattarollo, chefe da comissão da Unasul (União de Nações Sul-americanas) que investiga o massacre de Pando,
diz que falhas na preservação
de provas periciais devem comprometer a identificação dos
responsáveis pelo ataque a
camponeses bolivianos em setembro no departamento que
faz fronteira com o Brasil.
"Lamentavelmente temos a
impressão de que os promotores não tomaram todos os cuidados para a preservação das
provas, por falta de elementos
materiais ou uma certa inexperiência profissional", disse
Mattarollo à Folha, por telefone, de La Paz.
Questionado sobre se esse
problema dificulta a identificação dos agressores, Mattarollo
disse que "não ajuda em nada".
O especialista argentino informou que fará recomendações para sanar "deficiências
do sistema judicial" boliviano.
"Queremos mostrar nesse relatório diferentes aspectos como
o da inação das autoridades,
examinar a possível responsabilidade dos autores intelectuais, se os grupos armados são
grupos estruturados ou se o
ataque foi planejado", afirmou.
Segundo o argentino, as informações obtidas até agora confirmam a morte de 18 pessoas,
quase todas camponeses aliados de Morales.
Segundo Mattarollo, já foram ouvidas testemunhas na
Bolívia e no Brasil. Tais depoimentos estão sendo digitalizados e serão cruzados para que
se possa chegar a alguma conclusão. "A prova testemunhal
será a mais importante nesse
caso. Mas há outras provas que
estamos recolhendo. Há muitos vídeos. Um em especial, cuja autenticidade estamos tentando provar. Ele mostra gente
cruzando o rio a nado sob fogo
de metralhadoras. Se for autêntico, é muito forte", disse.
O relatório final da investigação será entregue só no final de
novembro. Mattarollo quer
que o documento sirva de referência em direitos humanos
para outros episódios na região. Na sexta-feira passada, o
advogado se reuniu com representantes das embaixadas da
União Européia na Bolívia.
"A UE ofereceu investigadores. Mas temos investigadores
muito bons na América Latina,
como resultado de nossa triste
história de ditadura militares.
O que falta não são técnicos forenses e antropólogos, mas recursos", disse Mattarollo, que
espera contar com apoio financeiro dos europeus. "Isso abre
as portas para uma futura colaboração entre UE e Unasul."
A comissão da Unasul é composta por representantes de todos os países da região, exceto
Paraguai, Suriname e Guiana.
O Brasil é representado por
Fermino Fechio, da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos (Sedh). Ele visitou opositores bolivianos que, depois do
confronto, se refugiaram na localidade fronteiriça de Brasiléia, em situação precária.
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