São Paulo, sexta-feira, 20 de novembro de 2009

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Em resposta a blogueira, Obama cobra Cuba

Americano repetiu que espera gesto cubano para seguir reaproximação em entrevista a Yoani Sánchez

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em entrevista à premiada blogueira cubana, Yoani Sánchez, o presidente dos EUA, Barack Obama, voltou a cobrar uma "ação" do governo de Cuba para seguir avançando na normalização dos laços bilaterais.
A Casa Branca confirmou que Obama enviou as respostas por escrito a Sánchez, numa deferência que reforça a repercussão internacional -e, de maneira incipiente, em Cuba- da blogosfera crítica ao regime.
Obama manteve o tom de aproximação cautelosa, para aplacar ataques da oposição no Congresso, crítica do degelo.
Questionado pela blogueira se conversaria com Havana sobre "tudo", e de igual para igual, como pede o dirigente de Cuba, Raúl Castro, ele rejeitou "falar por falar".
Obama defendeu a diplomacia direta e sem precondições, citou avanços de sua gestão, como a retomada de conversas sobre migração e correios e a liberação da viagens de cubanos-americanos.
Logo, porém, cobrou uma "ação" de Havana, dizendo que a relação direta deve servir aos "interesses americanos" e à "liberdade do povo cubano".
Havana tem elogiado as conversas com os EUA, mas rejeita o pedido de "gesto", argumentando que é vítima do embargo econômico e que a política interna não é "moeda de troca".
Para Jorge Piñón, professor da Universidade de Miami, a entrevista de Obama reforça a "dor de cabeça" que Sánchez, premiada por seu blog nos EUA e na Europa, é para o regime. Ela disse, há 12 dias, que apanhou de agentes do governo enquanto caminhava por Cuba com outros blogueiros.
Piñón diz que a blogueira é sintoma de um problema maior para os Castro: lidar com as novas tecnologias, celular incluído -Raúl liberou em 2008 a compra de celulares na ilha.
"Cuba fez uma abertura em telecomunicações. É uma área delicada. O governo deve estar analisando a eleição iraniana", diz, em referência aos protestos filmados por celular em Teerã.
Na entrevista, Sánchez, crítica do embargo, questionou Obama sobre a responsabilidade dos EUA na precariedade da internet em Cuba. Por causa do embargo, a ilha não tem cabos de fibra ótica ligando-a à Flórida, a solução mais barata.
O americano citou medida aprovada por ele, que permite empresas de telecomunicações dos EUA a negociar com Havana. Está em construção, porém, um cabo de fibra ótica ligando a aliada Venezuela à ilha, e essa seria a opção estratégica natural de Cuba, lembra Piñón.
Obama acaba de visitar a comunista China, lá defendeu a liberdade de expressão, mas não houve contato com dissidentes. "Fazer isso na China tem custo econômico. Falar com Sánchez tem risco zero", diz Piñón.
O marido de Sánchez, Reinaldo Escobar, disse à Associated Press que as perguntas foram enviadas a Obama há três meses. A blogueira publicou em seu site perguntas que disse ter enviado a Raúl Castro.
Obama respondeu Sánchez no momento em que a Câmara dos Representantes dos EUA discute projeto para liberar totalmente viagens de cidadãos americanos à ilha. Trechos do blog no qual ela ataca a proibição foram lidos no debate.


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