São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2010

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Movimento pró-imigrantes picha Lisboa

Frases manifestam repúdio à onda de hostilidades contra estrangeiros e à atuação do governo português

Monumentos históricos e igrejas da capital são atingidos; brasileiros consideram que ações só pioram clima no país

Mateus Parreiras/Folhapress
Pichação no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, em defesa de imigrantes no país

MATEUS PARREIRAS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM LISBOA

Revoltados com a piora nas condições de trabalho e com uma onda de hostilidades contra imigrantes, grupos que defendem os estrangeiros picharam frases de repúdio ao governo nas últimas semanas em paredes dos principais monumentos históricos e igrejas de Lisboa.
As ações em locais como a Igreja da Sé e o Mosteiro de São Vicente de Fora deixaram turistas perplexos. São críticas contra o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras) e o governo.
Imigrantes brasileiros repudiaram as pichações, dizendo haver outras formas de se manifestar sem depredar o patrimônio do país.
"O clima tem piorado. Os portugueses brigam com a gente o tempo todo. Mandam a gente voltar para nossa terra. Mas pichar um monumento prejudica a todos", afirma o comerciante carioca Fábio Abreu, 32, que vive há 5 anos em Lisboa e trabalha num quiosque no largo da Igreja da Sé.
A crise econômica mundial desencadeada pelos EUA em 2008 agravou os problemas de Portugal. Faltam empregos, e especialistas estimam que a parcela mais pobre tenha crescido em pelo menos 30% neste ano.
Uma greve geral alardeada por faixas e pichações por toda cidade foi marcada para o próximo dia 24 para protestar contra o orçamento do governo para 2011, marcado por aumento de impostos, queda de salários do setor público e ajudas sociais.
Um ensaio para a paralisação de vários setores, como transportes e serviços públicos, reuniu cerca de 100 mil pessoas -segundo a Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública- na praça Marques de Pombal, uma das mais importantes da capital, no último dia 6.
Esse descontentamento afetou os imigrantes no bolso e os tornou "bode expiatório" dos portugueses, diz o pintor Luciano Salazar, 40, há quatro anos em Lisboa.
"As condições de trabalho para o imigrante pioraram muito. Não recebemos mais horas extras e adicionais noturnos. O governo e os sindicatos fazem vistas grossas para isso, e os patrões se aproveitam", critica.
Antônio, um português que trabalha numa agência de aluguel de carros na capital e pede para não ser identificado, afirma que os problemas trazidos pelos imigrantes vão além do desemprego.
"Desde que abriu-se a União Europeia aos países do Leste Europeu houve aumento da violência e piora da qualidade de vida", disse.
Nenhuma pessoa que possa estar ligada ao grupo de pichadores foi presa.


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