São Paulo, sábado, 20 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Descobrir um novo sentido para aliança é dilema ocidental

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a crise econômica e o atoleiro afegão embotando os sentidos dos ocidentais envolvidos nas reuniões de Lisboa, fica parecendo platitude o declarado objetivo de dar à Otan um novo sentido.
Mas não é. Descobrir para que serve a aliança militar criada em 1949 para combater o comunismo é uma pergunta que estrategistas não conseguem responder desde o fim da Guerra Fria.
Afinal de contas, os inimigos são outros. O terrorismo e a emergência da China no contexto da crise. O "intervencionismo humanitário", fantasia da esquerda liberal europeia testado em Kosovo, não está mais em pauta.
Assim, Barack Obama apressou-se em proclamar o "reinício" da relação com os antigos antípodas, os russos.
Com a dissolução da União Soviética em 1991, a Otan expandiu-se a leste. A Rússia, principal herdeira do império comunista, com razão percebeu o assédio.
George W. Bush delineou um sistema de defesa antimísseis alegando que precisava proteger o Ocidente do Irã. A Rússia viu sua capacidade ameaçada -bem ou mal das pernas, é a única potência nuclear que pode nos aniquilar além dos EUA.
Próximos da paranoia anti-Otan, os russos deram seu recado ao humilhar a Geórgia, país tão próximo do Ocidente que colocou Bush como nome de avenida, numa guerra em 2008. Assim, escancarou a impotência ocidental. Aos poucos, voltaram a cooperar já em 2009.
Aí entra o escudo. Obama descartou-o, só para agora reviver a ideia de um trabalho conjunto com Moscou e com capacidades reduzidas. Falam em Irã, mas no bastidor tentam seduzir a Rússia com a ideia de que todos têm de se unir contra o crescimento chinês. Parece difícil, já que o Kremlin tem agenda própria. É preciso ver a aprovação inicial dada ontem pelos russos com reserva.
E há divergências na própria Otan. A França não confia tanto no tal escudo como a Alemanha porque tem suas armas nucleares e quer mantê-las para dissuasão.
Hoje o Afeganistão e sua guerra sem fim estarão na pauta do encontro. Aí o problema é mais localizado: como sair de lá com o menor dano político em casa.
Há protestos em Lisboa contra tudo, da pindaíba local ao cancelamento do show do Arcade Fire por conta da cúpula, mas é improvável que alguém saiba dizer qual deve ser o papel da Otan.


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