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ANÁLISE
Descobrir um novo sentido para aliança é dilema ocidental
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a crise econômica e o
atoleiro afegão embotando
os sentidos dos ocidentais
envolvidos nas reuniões de
Lisboa, fica parecendo platitude o declarado objetivo de
dar à Otan um novo sentido.
Mas não é. Descobrir para
que serve a aliança militar
criada em 1949 para combater o comunismo é uma pergunta que estrategistas não
conseguem responder desde
o fim da Guerra Fria.
Afinal de contas, os inimigos são outros. O terrorismo e
a emergência da China no
contexto da crise. O "intervencionismo humanitário",
fantasia da esquerda liberal
europeia testado em Kosovo,
não está mais em pauta.
Assim, Barack Obama
apressou-se em proclamar o
"reinício" da relação com os
antigos antípodas, os russos.
Com a dissolução da
União Soviética em 1991, a
Otan expandiu-se a leste. A
Rússia, principal herdeira do
império comunista, com razão percebeu o assédio.
George W. Bush delineou
um sistema de defesa antimísseis alegando que precisava proteger o Ocidente do
Irã. A Rússia viu sua capacidade ameaçada -bem ou
mal das pernas, é a única potência nuclear que pode nos
aniquilar além dos EUA.
Próximos da paranoia anti-Otan, os russos deram seu
recado ao humilhar a Geórgia, país tão próximo do Ocidente que colocou Bush como nome de avenida, numa
guerra em 2008. Assim, escancarou a impotência ocidental. Aos poucos, voltaram
a cooperar já em 2009.
Aí entra o escudo. Obama
descartou-o, só para agora
reviver a ideia de um trabalho conjunto com Moscou e
com capacidades reduzidas.
Falam em Irã, mas no bastidor tentam seduzir a Rússia
com a ideia de que todos têm
de se unir contra o crescimento chinês. Parece difícil,
já que o Kremlin tem agenda
própria. É preciso ver a aprovação inicial dada ontem pelos russos com reserva.
E há divergências na própria Otan. A França não confia tanto no tal escudo como
a Alemanha porque tem suas
armas nucleares e quer mantê-las para dissuasão.
Hoje o Afeganistão e sua
guerra sem fim estarão na
pauta do encontro. Aí o problema é mais localizado: como sair de lá com o menor
dano político em casa.
Há protestos em Lisboa
contra tudo, da pindaíba local ao cancelamento do show
do Arcade Fire por conta da
cúpula, mas é improvável
que alguém saiba dizer qual
deve ser o papel da Otan.
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