|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Comunismo gera confusão entre chineses
Em palestra no Rio, acadêmicos são inquiridos sobre ausência de menção ao termo
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
Dois acadêmicos chineses
foram inquiridos por colegas
ocidentais por não mencionarem as palavras "socialismo" ou "comunismo" e citarem uma profusão de teóricos europeus e americanos
em seminário da Academia
da Latinidade, na última
quarta-feira, no Rio.
A mesa redonda da qual
participaram Tong Shijun,
vice-presidente da Academia
de Ciências Sociais de Xangai, e Wang Ning, professor
de literatura comparada da
Universidade Tsinghua (Pequim), discutiu se a China
pode representar uma "modernidade alternativa", que
não seja sinônimo de ocidentalização.
A resposta de ambos foi
"sim", e Wang disse que a
"modernidade com características chinesas" inclui tanto teorias marxistas adaptadas quanto o neoconfucionismo -tradição redescoberta com o fim do maoísmo e
que a China pretende exportar nos institutos Confúcio
espalhados pelo mundo.
Os dois citaram pensadores não chineses, incluindo o
alemão Jürgen Habermas,
teórico da democracia, o neomarxista americano Fredric
Jameson e o francês Jean-François Lyotard (1924-1998), filósofo do pós-modernismo.
"Acho que na China há
mais coisas sob o céu do que
as imaginadas por teóricos
ocidentais. Peço-lhes que sejam mais chineses", protestou o italiano Gianni Vattimo, professor de filosofia da
Universidade de Turim.
Vattimo lembrou que a
modernidade no Ocidente refere-se ao período iniciado
com as Descobertas e a Reforma, enquanto a pós-modernidade vem do fim "da ideia
colonialista de uma humanidade unitária".
Disse que queria saber, então, quais são as referências
concretas dos chineses.
O equatoriano Enrique
Ayala, reitor da Universidade
Andina Simón Bolívar, contou que "há décadas" participou de encontro com chineses que defenderam que o
"único caminho para a democracia é o socialismo".
"Suponho que muitos acadêmicos não têm mais essa
posição, mas senti falta da
palavra socialismo em seus
estudos. Há alguma conexão
entre socialismo e democracia?", perguntou.
Susan Buck-Morss, da
Universidade Cornell (EUA),
revelou que no início deste
mês foi instruída a tirar a palavra "comunista" do título
de uma palestra em Xangai,
na abertura de encontro do
Comitê Internacional de Museus de Arte Moderna.
O título era "Herdando a
Cultura, um Modo Comunista de Fazer História", e Buck-Morss não pretendia falar do
comunismo em si, mas fazer
uma "provocação" para contestar as normas sobre direitos autorais e defender o livre
trânsito de ideias, "desde
que com o devido crédito".
Segundo ela, seus anfitriões chineses lhe disseram
que era um momento delicado para "temas sensíveis",
devido à premiação com o
Nobel da Paz do dissidente
Liu Xiaobo.
"No Ocidente, a palavra
comunismo costuma causar
embaraço. Eu queria saber se
ocorre o mesmo entre seus
pares", pediu a Wang e Tong.
Num clima que o secretário-geral da Academia da Latinidade, Candido Mendes,
definiu como de "perplexidade", a resposta dos chineses
revelou um enredo de enganos: eles pensavam estar
agradando aos colegas deste
lado do mundo.
"A experiência nos mostra
que, quando um acadêmico
ocidental fala do comunismo, geralmente o faz de modo crítico, e era isso que seus
anfitriões chineses queriam
evitar", disse Tong a Buck-Morss.
Segundo ele, embora socialismo e comunismo sejam
termos controvertidos para
"alguns" chineses, sua percepção pela maioria ainda é
"bastante positiva".
"As pessoas não estão
muito satisfeitas com membros do PC e organizações locais. Mas estão bastante com
os dirigentes nacionais. É um
problema, porque os líderes
locais são criticados e as pessoas comuns dizem: "os líderes nacionais são legais, porque não seguem seus conselhos?"."
Texto Anterior: Nova Zelândia: Acidente em mina deixa 27 pessoas soterradas Próximo Texto: Jornais do México omitem 90% dos crimes Índice | Comunicar Erros
|