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Jornais do México omitem 90% dos crimes
Levantamento de fundação que preza pela liberdade de imprensa denuncia "buracos negros" de informação
Conforme estudo da Fundação Mepi, regiões sob os cartéis do Golfo e dos Zetas não reportam nem 5% dos episódios
GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO
Só 1 em cada 10 crimes relacionados ao narcotráfico
que acontecem no México
chegam às páginas dos jornais. É o que conclui um levantamento realizado pela
Fundação Mepi de Jornalismo Investigativo.
O levantamento pretende
comprovar que o chamado
"narcossilêncio", a autocensura que é imposta à mídia
mexicana pelo crime organizado por meio de ameaças,
sequestros e assassinatos,
não retrata casos isolados,
mas sim a situação do país.
"O poder do narco se espalhou nos últimos anos como
um câncer", afirma o documento. "Em seu avanço, de
cidade em cidade, os cartéis
criaram buracos negros de
informação, forçando os jornalistas ao silêncio."
O levantamento foi realizado durante o primeiro semestre deste ano com os jornais "El Noroeste", de Culiacán, "El Norte", de Monterrey, "El Dictamen", de Veracruz, "Mural", de Guadalajara, "Pulso", de San Luis Potosí, "El Mañana", de Nuevo
Laredo, "Milenio", de Hidalgo, "El Diario de Morelos", de
circulação nacional, e "Norte", de Ciudad Juárez.
Os pesquisadores compararam o número de reportagens contendo palavras-chave ligadas ao crime organizado com o de assassinatos
ocorridos na região.
Também foram entrevistados diversos profissionais do
setor. A maioria, descreve a
Mepi, admite não publicar
toda a informação que recebe e "confessa enfrentar uma
escolha difícil entre a ética e
a segurança pessoal".
Em Ciudad Juárez, fronteiriça com os EUA e a mais violenta do país, traficantes dos
dois cartéis que duelam pelo
controle da área -Juárez e Sinaloa- assassinaram 300 ao
mês, no período pesquisado,
mas só figuravam em 30 reportagens por mês.
TAMAULIPAS
Conforme a pesquisa, o Estado de Tamaulipas é aquele
em que a "narcocensura" se
instalou mais cedo e de maneira mais profunda.
Lá, data de 1986 o primeiro
caso de um jornalista assassinado depois de publicar informações que contrariaram
criminosos. Era Norma Moreno Figueroa, 24, colunista do
"El Popular", morta a tiros na
porta do jornal.
Seu "crime", diziam seus
colegas à época, foi publicar
uma coluna sobre o prefeito
Jesús Roberto Guerra Velasco, parente de Juan Nepomuceno Guerra, fundador do
poderoso cartel do Golfo.
No primeiro semestre deste ano, um dos jornais locais,
o "El Mañana", publicou, a
cada mês, até cinco textos
que mencionavam o narcotráfico e nenhum sobre assassinatos. Entretanto, no
mesmo período, morreram
em média três por dia.
CARTÉIS
Não por acaso uma das
conclusões apresentadas na
pesquisa da Mepi é a de que
os territórios onde o crime é
dominado pelo cartel do Golfo e o dos Zetas são os mais
silenciosos. Os grupos estão
"em guerra", sendo os Zetas
uma dissidência do Golfo formada por homens egressos
do Exército.
De acordo com o levantamento, nesses territórios, a
taxa máxima de divulgação
de crimes é de 5%.
Oito jornalistas que atuam
naquele Estado contaram à
Mepi que são intimados com
frequência pelo tráfico para
receber orientações sobre o
que será publicado. A primeira regra, relata a Mepi, é nunca expor os chefes do crime.
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