São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Casa Branca alenta laço entre Brasília e Havana, diz analista

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando a queda do preço do petróleo preocupa a Venezuela e os aliados a quem o vende subsidiado, em especial Cuba, Washington vê com bons olhos a aproximação entre Brasília e Havana, para além das cobranças nas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana que passou.
A opinião é do cubano-americano especialista em energia Jorge Piñón, professor da Universidade de Miami. "A Casa Branca quer o Brasil apoiando Cuba se a Venezuela não puder ajudar. Não querem uma crise profunda lá e podem conversar com Lula", diz Piñón, parte de um painel do Instituto Brookings sobre o futuro da ilha próximo à equipe de transição do presidente eleito Barack Obama.
Na visão americana, diz Piñón, melhor Brasília neste papel que Moscou, outra aposta de "apólice de seguro" caso cesse a torrente de US$ 3 bilhões em óleo entregue por Caracas à ilha em 2008, cálculo de Piñón.
Hugo Chávez diz que o Orçamento 2009 do país foi feito estimando o barril do petróleo a US$ 60 -e o preço já não ultrapassa US$ 40. "Caracas só entrega hoje metade do petróleo nos contratos facilitados. A última a sofrer corte será Cuba. Ainda assim, se decidirem reduzir mais a produção para forçar o preço, vai tirar dos aliados ou dos EUA que pagam?", diz Piñón, ex-presidente para a América Latina da multinacional petroleira Amoco Oil.
O especialista defende que a aposta brasileira na ilha em Cuba é pragmática: com a abertura econômica, demore o quanto for, Cuba vai ser porta de entrada para produtos brasileiros nos EUA, além de potencial produtora de álcool da cana.
O fato é que tanto a atual Casa Branca como os integrantes da futura abstiveram-se de criticar a retórica pró-Cuba e a iniciativa de formar uma OEA (Organização dos Estados Americanos) sem os EUA nas cúpulas da Bahia nesta semana. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que uma futura organização não "ameaça" a OEA e que, hoje, é natural sobreposição de entidades.
O futuro governo Obama não se pronunciou. "Obama será recebido com simpatia na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago em abril. A questão é se ele chegará lá já tendo feito um gesto a Cuba, como liberação de viagens de cubano-americanos, para potencializar esse efeito praticamente sem custo", diz Marifeli Pérez-Stable, vice-presidente do Inter-American Dialogue.
A analista cubana, proibida de pisar na ilha pelo regime dos Castro, pondera sobre as críticas aos líderes latino-americanos que se omitiram quanto à repressão em Havana. "A Espanha é quem mais fez pelos presos políticos cubanos e é criticada por não fazer diplomacia de microfone. Tenho certeza de que com o Brasil é o mesmo."


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