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Casa Branca alenta laço entre Brasília e Havana, diz analista
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando a queda do preço do
petróleo preocupa a Venezuela
e os aliados a quem o vende
subsidiado, em especial Cuba,
Washington vê com bons olhos
a aproximação entre Brasília e
Havana, para além das cobranças nas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
na semana que passou.
A opinião é do cubano-americano especialista em energia
Jorge Piñón, professor da Universidade de Miami. "A Casa
Branca quer o Brasil apoiando
Cuba se a Venezuela não puder
ajudar. Não querem uma crise
profunda lá e podem conversar
com Lula", diz Piñón, parte de
um painel do Instituto Brookings sobre o futuro da ilha
próximo à equipe de transição
do presidente eleito Barack
Obama.
Na visão americana, diz Piñón, melhor Brasília neste papel que Moscou, outra aposta
de "apólice de seguro" caso cesse a torrente de US$ 3 bilhões
em óleo entregue por Caracas à
ilha em 2008, cálculo de Piñón.
Hugo Chávez diz que o Orçamento 2009 do país foi feito estimando o barril do petróleo a
US$ 60 -e o preço já não ultrapassa US$ 40. "Caracas só entrega hoje metade do petróleo
nos contratos facilitados. A última a sofrer corte será Cuba.
Ainda assim, se decidirem reduzir mais a produção para forçar o preço, vai tirar dos aliados
ou dos EUA que pagam?", diz
Piñón, ex-presidente para a
América Latina da multinacional petroleira Amoco Oil.
O especialista defende que a
aposta brasileira na ilha em Cuba é pragmática: com a abertura econômica, demore o quanto
for, Cuba vai ser porta de entrada para produtos brasileiros
nos EUA, além de potencial
produtora de álcool da cana.
O fato é que tanto a atual Casa Branca como os integrantes
da futura abstiveram-se de criticar a retórica pró-Cuba e a
iniciativa de formar uma OEA
(Organização dos Estados
Americanos) sem os EUA nas
cúpulas da Bahia nesta semana.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, afirmou que uma
futura organização não "ameaça" a OEA e que, hoje, é natural
sobreposição de entidades.
O futuro governo Obama não
se pronunciou. "Obama será
recebido com simpatia na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago em abril. A questão é se ele chegará lá já tendo
feito um gesto a Cuba, como liberação de viagens de cubano-americanos, para potencializar
esse efeito praticamente sem
custo", diz Marifeli Pérez-Stable, vice-presidente do Inter-American Dialogue.
A analista cubana, proibida
de pisar na ilha pelo regime dos
Castro, pondera sobre as críticas aos líderes latino-americanos que se omitiram quanto à
repressão em Havana. "A Espanha é quem mais fez pelos presos políticos cubanos e é criticada por não fazer diplomacia
de microfone. Tenho certeza de
que com o Brasil é o mesmo."
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