São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2006

Próximo Texto | Índice

AMÉRICA DO SUL

Blusa de lã do presidente eleito vira moda, e agência de viagem lança pacote turístico para sua cidade natal

Às vésperas de posse, Bolívia vive "Evomania"

Cézaro De Luca/Efe
Sacerdote andino purifica a roupa a ser usada hoje por Morales em cerimônia indígena de posse


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Biografias à venda em camelôs, roupas imitando seu estilo e até o apoio dos arquiinimigos no Congresso. O intervalo entre a vitória de Evo Morales nas eleições de 18 de dezembro e a expectativa em torno de sua posse oficial, amanhã, transformou o primeiro presidente indígena eleito da Bolívia numa coqueluche bastante parecido com a "lua-de-mel" que marcou o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Em La Paz, banquinhas de rua vendem como água uma pequena biografia de Morales, "Uma História de Dignidade", por apenas um boliviano (cerca de R$ 0,40). Na TV, uma agência de turismo anuncia um pacote para visitar a sua terra natal, a comunidade aimará Isallavi, perto de Oruro, a um custo de cerca de R$ 300.
A moda "Evo", como os bolivianos o chamam, inclui também a já lendária blusa de lã que ele usou no seu giro pela Europa. Uma fábrica da periferia de La Paz concentrou toda a sua produção desta semana na fabricação de uma cópia fiel da "chompa", o nome local da vestimenta. Até o início da semana que vem, a fábrica de 180 funcionários deve produzir mil peças, que atenderão encomendas até de França e Espanha.
"A idéia surgiu depois que muitas pessoas apareceram em nossas lojas pedindo uma "chompa" igual à do Evo", explica à Folha o gerente comercial da fábrica Punto Blanco, Videl Garcia, 24. Para ele, "Evo tenta se identificar com a realidade nacional, usando roupas do povo".
Garcia diz que, para sua surpresa, uma loja de Santa Cruz, a leste do país e principal foco da oposição a Morales, encomendou 200 peças. "Não sabemos exatamente por que, talvez de gozação."
Já a simpatizante Lili Salinas Velasco prepara para a "posse indígena", marcada para hoje, uma torta gigante de três metros de altura e cinco metros de comprimento, decorada com o rosto de Morales.
A cerimônia indígena será celebrada pela manhã nas ruínas de Tiwanaku, cidade pré-colombiana a cerca de 70 km de La Paz. O evento inédito deverá reunir cerca de 20 mil pessoas.
A "onda Evo", que assegurou sua vitória no primeiro turno com 53,7% dos votos -feito inédito na história recente da Bolívia-, não parou de crescer até agora. Pesquisa de opinião divulgada por uma rede de TV local mostra que seu governo começará com 75% de apoio popular.
A "lua-de-mel" teve impacto até no Congresso, onde o partido de Morales, o MAS (Movimento ao Socialismo), conseguiu eleger os presidentes do Senado e da Câmara com o apoio do arquiinimigo MNR (Movimento Nacional Revolucionário), do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, forçado a renunciar em outubro de 2003 após protestos encabeçdos por Morales e outros líderes de esquerda e indígenas.
A invasão estrangeira a La Paz também contribui para o clima favorável a Morales. Nos hotéis, várias equipes presidenciais preparam a chegada de 11 chefes de Estado, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela).
O ditador cubano, Fidel Castro, não irá por conta de "imprevistos de última hora", segundo a Embaixada de Cuba em La Paz. Mesmo assim, o número é recorde -na posse boliviana mais concorrida até agora, havia apenas cinco presidentes.
A Folha apurou que o candidato nacionalista de esquerda peruano, Ollanta Humala, líder nas pesquisas, também estará presente. Tudo sob as lentes e microfones de cerca de 1.200 jornalistas estrangeiros credenciados.
Mas é possível notar a ansiedade por resultados. No site do principal jornal boliviano, "La Razón", há a pergunta: "Como você qualifica os primeiros passos do presidente eleito, Evo Morales?". A resposta "bons" recebeu 50% dos votos. Por enquanto.


Próximo Texto: Renovação política boliviana também chega ao Congresso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.