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Classe média venezuelana só faz oposição virtual
Protestos convocados por ex-candidato presidencial esbarram em apatia política
Fatia que representa 16% da população sonha em emigrar e especula na internet sobre "lâmpadas de espionagem" cubanas
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Bastião da militância antichavista, a classe média venezuelana não atendeu até agora
aos pedidos do principal líder
opositor, Manuel Rosales, para
fazer uma "grande mobilização" contra os recentes anúncios de nacionalização e de concentração de poder feitos pelo
presidente Hugo Chávez.
Em vez das ruas, a concentração está em sites, onde, sem
rumo, os antichavistas expiam
a última derrota eleitoral, especulam sobre o "socialismo do
século 21" e sonham em emigrar do país. A classe média representa cerca de 16% da população, estimada em 26 milhões.
Se os oposicionistas chegaram a lotar comícios e manifestações em locais públicos de
Caracas, como a praça Altamira
e a autopista Francisco Fajardo, hoje eles se escondem sob
pseudônimos no noticierodigital.com, o maior site de discussões da Venezuela.
Inaugurado em 2004, o noticiero.com é o reduto virtual da
classe média: se transformou
no segundo site de notícias
mais visto e abriga blogs críticos a Chávez. Com cerca de 80
mil visitas únicas diárias, foi o
site mais visitado em 3 de dezembro, dia da reeleição de
Chávez, com mais de 1 milhão
de visitas únicas.
"Esta apatia que a campanha
presidencial de Manuel Rosales [segundo colocado nas eleições] conseguiu derrotar voltou novamente", disse à Folha
o diretor do site, Roger Santodomingo, 35, que define seu site como um "barômetro" da
classe média, camada em que
80% votaram contra Chávez,
que venceu com 63%.
"As pessoas deixaram até de
falar mal do Chávez. Para elas,
é impossível que ele saia com
as atuais regras eleitorais", afirmou Santodomingo, em entrevista na sede do site, que emprega seis jornalistas e ocupa
parte de uma mansão no bairro
nobre de Altamira, um reduto
oposicionista.
Com tantas dúvidas sobre o
que será o socialismo do século
21, boa parte dos fóruns especula sobre medidas propostas
por Chávez. Na sexta-feira, por
exemplo, havia o trecho de um
suposto projeto de lei sobre
imóveis, segundo o qual a pessoa terá a residência desapropriada caso seja maior do que
as suas necessidades. "Queimo
o meu apartamento antes", diz
um comentário.
Em outro fórum bastante
popular, as pessoas comentam
se rumores sobre ações do governo são verdadeiros ou falsos. Um dos temas recentes foi
se as lâmpadas distribuídas recentemente continham ou não
dispositivos de espionagem cubanos. "A classe média está
convencida de que Chávez quer
um país comunista e autoritário", afirmou Santodomingo.
Mequieroir.com
Outro sucesso entre a classe
média venezuelana é o site mequieroir.com, especializado em
orientar potenciais imigrantes
com qualificação.
De acordo com a diretora do
site, Esther Bermudez, o número de acessos únicos diários saltou de uma média de 20 mil para 45 mil depois do anúncio da
nacionalização do setor elétrico e da empresa de telecomunicações Cantv, no último dia 8.
"Isso já aconteceu antes",
disse Bermudez, que mantém o
site desde 2001. "Houve um aumento de 150% depois dos
acontecimentos políticos de
2002 [tentativa de golpe de Estado]. E tivemos 300% de aumento depois do resultado eleitoral do dia 3 de dezembro."
"A classe média venezuelana
aprendeu a emigrar", afirma.
"Éramos um país tradicionalmente imigratório, mas já há
redes de comunidades de venezuelanos em todas as partes do
mundo." De acordo com Bermudez, o perfil mais comum é
de jovens recém-formados que
buscam ir legalmente para países que incentivam a imigração
qualificada, sobretudo o Canadá e a Austrália -neste país, se
estima que haja cerca de 10 mil
venezuelanos.
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