São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2007

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Chanceler de Israel vê chance de união entre moderados

Tzipi Livni diz que há oportunidade de solução consensual, sem unilateralismo

Ministra é bem mais popular que premiê Ehud Olmert; para ela, é "obrigação" que Israel e um futuro Estado palestino possam conviver

ARI SHAVIT
DO HAARETZ

A ministra israelense das Relações Exteriores, Tzipi Livni, tem um plano diplomático claro que está tentando promover. "O tempo não está do lado dos moderados de ambos os lados.
O tempo opera contra uma solução que inclua dois Estados", diz ela. Uma pesquisa divulgada pelo "Haaretz" nesta semana mostrou que Livni tem um índice de aprovação de 51%, enquanto o primeiro-ministro Ehud Olmert tem apenas 14% de aprovação.  

HAARETZ - A sra. acha que o estabelecimento de um Estado palestino durante o mandato do governo atual é uma meta possível?
TZIPI LIVNI
- Não gosto de fixar prazos. Não estou falando de um Estado palestino, mas de dois Estados-nações convivendo pacificamente lado a lado. Existe um público palestino que vê essa meta como sendo também sua. Os palestinos deixaram passar todas as oportunidades até agora. Eles poderiam estar comemorando o 60º aniversário de seu Estado -se tivessem aceitado o Plano de Partilha- ou, alternativamente, poderiam estar comemorando o sexto aniversário de seu Estado -se tivessem aceitado o acordo de Camp David. Mas acredito que existe mais uma oportunidade hoje. Os palestinos moderados precisam compreender que o extremismo religioso prejudica não apenas a Israel, mas a cada palestino que deseja um Estado-nação palestino.

HAARETZ - A senhora propõe a volta ao mapa do caminho?
LIVNI
- Acho que posso iniciar conversações com Abbas que deixem claro o que eles querem conseguir dentro da visão de dois Estados. Por um lado, quero ancorar meus interesses na questão da segurança, da desmilitarização e do problema dos refugiados, e, por outro, quero criar uma alternativa genuína para os palestinos, que inclua uma solução de seu problema nacional.

HAARETZ - A senhora é otimista.
LIVNI
- Qualquer pessoa que viva no Oriente Médio e tenha os pés no chão não pode se permitir ser otimista. Mas enxergo uma espécie de oportunidade. Por um lado, estamos cercados por uma ameaça crescente, extremismo e fanatismo. Mas, pelo outro lado, precisamente em função dessa ameaça, os países moderados e as facções moderadas na região compreendem, hoje, que seu problema não é Israel. Acho que não se deve jogar essa oportunidade fora.

HAARETZ - Enquanto isso, porém, foguetes Qassam estão atingindo Sderot. O que a sra. está propondo são negociações sob fogo.
LIVNI
- Mesmo enquanto [Ariel] Sharon estava no poder, eu disse que não deveríamos declarar que não negociaríamos sob fogo, mas que não faríamos concessões sob fogo. O plano do qual estou falando precisa oferecer uma resposta ao problema dos disparos. Essa é uma das razões pelas quais prefiro um processo diplomático consensual a um processo unilateral. O comportamento dos palestinos na faixa de Gaza após a retirada israelense cria um problema grande. Mas acredito que, na análise final, se for encontrada uma solução razoável para as questões de segurança, a maioria do público israelense vai apoiar este processo.

HAARETZ - Qual é sua visão?
LIVNI
- A visão é do Estado de Israel como lar nacional do povo judaico, que oferece uma solução para o problema do povo judaico e dos refugiados judeus, e, lado a lado com ele, um Estado palestino que seja o lar nacional da nação palestina, que ofereça uma solução total para o problema da nação palestina e dos refugiados palestinos. Sinto que tenho a obrigação de fazer isso acontecer.

HAARETZ - E a ameaça iraniana, quão séria ela é?
LIVNI
- O receio é de um efeito dominó. Muitos países da região compreendem que a combinação da ideologia iraniana com a bomba nuclear não é algo que eles possam tolerar. Se o Irã se nuclearizar, eles farão uma de duas coisas: ou vão competir com o Irã, ou vão se unir a ele. Isso terá duas consequências: a ampla proliferação nuclear não só a países, mas também a organizações terroristas, e, depois, os países moderados serão arrastados para mais perto dos países extremistas. O mundo não pode se permitir um Irã nuclear.

HAARETZ - Em sua opinião, a sra. cresceu e amadureceu e hoje é qualificada para ser primeira-ministra?
LIVNI
- Sou qualificada para ser primeira-ministra.


Tradução de CLARA ALLAIN


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