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ARTIGO
Direitos humanos e o lamento de Milanés
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Com a interinidade de Raúl, a
situação dos direitos humanos
em Cuba melhorou, piorou ou
se manteve estável? É importante sabê-lo como um marco
de projeção para o futuro. De
acordo com relatório da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional
(CDHRN), o regime simplesmente mudou de táticas desde
que Raúl assumiu o poder.
No ano passado, o número de
dissidentes presos caiu de 283
para 234. Mas não é aceita a noção de melhoria, em razão do
fato de que somaram pelo menos 325 as prisões temporárias,
por dias ou horas, feitas "de
modo arbitrário".
As autoridades cubanas não
reconhecem a comissão. Dizem
que ela deve sua existência ao
apoio que recebe dos Estados
Unidos. Não teria autenticidade e tampouco credibilidade.
Mas seus relatórios e denúncias conseguem bons espaços
em publicações estrangeiras de
peso, como "Le Monde", de Paris, que divulgou denúncias de
dissidentes falando de "recrudescimento da repressão por
meio de prisões temporárias e
de manifestações de hostilidade contra opositores".
Payá e igreja
Um dos dissidentes de maior
prestígio, no entanto, Oswaldo
Payá, parece ter optado por fixar-se em outras questões, como se procurasse brechas onde
possa penetrar com suas conclusões e proposições.
Payá insiste em que a grande
novidade dos últimos meses é a
constatação de que "todos os
cubanos afinal pensam que o
fim do regime é possível". A
própria Igreja Católica sai aos
poucos de sua "discrição" e sugere como procedimento que
parece considerar viável a adoção de um "processo gradual de
mudanças".
Não chega a especificar que
transformações seriam essas.
Alguns bispos avançaram um
pouco mais, assegurando que a
população aguarda "com ansiedade" o que possa acontecer de
diferente das últimas décadas.
"Cuba deve se abrir ao mundo e
o mundo deve ser abrir a Cuba",
disse o segundo do Vaticano no
décimo aniversário da ida do
papa a Cuba.
Payá criou um novo movimento de dissidentes cujo nome identifica objetivos. É o Comitê Cidadão de Reconciliação
e Diálogo. Payá não quer traumas, golpes, invasões ou algo do
gênero. Propõe conversas de alto nível em Havana com o objetivo de determinar e liberar o
que os cubanos guardam na alma e de acertar a adoção de leis
que resguardem as liberdades
individuais.
Mandou um recado aos americanos. Não só o regime comunista deve perguntar aos cubanos o que eles querem. Também o governo Bush deve perguntar o que querem os cubanos, em vez de repetir discursos
agressivos que estariam dando,
como sempre, mais munição
aos detentores do poder.
Assunto na cabeça de qualquer agenda de diálogo é a proibição de viagens ao exterior, tema de uma das últimas composições de Pablo Milanés. Diz
ela: "Meu irmão Jacinto, que
vive em Havana, não sabe que
sua filha, que teve uma neta,
que ainda não conheceu, ficará
sabendo que sua mãe morreu
de repente. As autoridades não
deixam que ele saia". Fecha
com as seguintes reflexões:
"Valeu a pena, pergunto, não
sei. Valeu a pena, respondo não
sei". Milanês é amado em Cuba
e tornou-se cancioneiro do regime. Seu último show no México foi dedicado aos 80 anos de
Fidel Castro.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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