São Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Direitos humanos saem da agenda dos EUA para China

Washington tem de "aceitar discordância" e focar na crise e no aquecimento global, diz Hillary

Viagem de secretária de Estado, há um mês no cargo, enfatiza pragmatismo nas relações com Pequim sob o governo de Barack Obama

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Direitos humanos, Taiwan e Tibete não devem interferir na busca por consensos em outras áreas entre EUA e China, afirmou ontem a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Ela disse que é melhor "aceitar a discordância" a respeito desses temas e focalizar a relação entre os dois países nas respostas ao aquecimento global e à crise econômica mundial e na contenção do programa nuclear da Coreia do Norte.
Hillary fez a declaração em Seul, na Coreia do Sul, horas antes de chegar a Pequim, na noite de ontem. Hoje ela deve se encontrar com o presidente chinês, Hu Jintao, com o premiê Wen Jiabao e com o chanceler Yang Jiechi.
"Isso não significa que as questões de Taiwan, do Tibete e de direitos humanos não façam parte da agenda", disse Hillary. "Mas nós já sabemos bem o que eles vão dizer."
Por anos, os EUA têm acusado a China de desrespeitar os direitos humanos, pedido mais autonomia à Província separatista do Tibete e vendido armas ao governo de Taiwan, que a China julga uma Província rebelde e para a qual tem mísseis apontados no caso de a ilha tentar a independência.
"Nós devemos continuar a pressioná-los, mas nossa pressão nessas questões não pode interferir na crise financeira global, na mudança climática e nas crises de segurança", afirmou. "Precisamos ter um diálogo que leve à compreensão e cooperação em cada um desses temas."

Liberdade religiosa
A atitude pragmática revela o novo papel da China para a diplomacia americana sob o governo de Barack Obama, empossado há um mês.
Contrasta ainda com o discurso da própria Hillary -que, quando era primeira-dama, criticou abertamente o regime chinês em 1995, em Pequim.
"Liberdade significa o direito das pessoas de se reunirem, organizarem e debaterem abertamente. Significa respeitar as opiniões daqueles que podem discordar da visão de seus governos", dissera à época, sem citar a China pelo nome.
"Quer dizer não tirar cidadãos de perto de seus entes queridos e prendê-los, maltratá-los ou negar-lhes sua liberdade ou sua dignidade por causa da expressão pacífica de seus ideais e opiniões", afirmara.
Organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, como Anistia Internacional, Freedom House e Campanha Internacional pelo Tibete haviam pedido a Hillary que falasse sobre censura, torturas nas prisões chinesas e abusos contra ativistas e dissidentes.
Após as declarações da chanceler, a Anistia se disse "escandalizada e profundamente decepcionada", afirmando que elas "prejudicam futuras iniciativas dos EUA em proteger esses direitos na China".
Mas Hillary não deve deixar passar em branco a falta de liberdade religiosa no país. Ela pretende ir a um culto amanhã.
A China tem estimados 40 milhões de cristãos (de mais de 1,3 bilhão de habitantes), mas pelo menos metade deles frequenta cultos clandestinos, alguns até em residências. Oficialmente, a China só permite igrejas com algum tipo de supervisão e direção do próprio governo, oficialmente ateu.
No ano passado, o então presidente George W. Bush foi a uma igreja protestante durante a Olimpíada de Pequim, mas, para evitar atritos, decidiu atender ao culto em uma das igrejas "oficiais".

Coreia do Norte
Em Seul, a secretária de Estado também afirmou que a Coreia do Norte deve "abandonar suas provocações, que não ajudarão a melhorar as relações com os EUA".
Ela anunciou ainda que o diplomata Stephen Bosworth será o enviado especial americano para a Coreia do Norte. Bosworth, ex-embaixador americano em Seul, trabalhará com a Coreia do Sul, o Japão e a China para tentar levar o regime de Pyongyang de volta à mesa de negociações.
Pequim é o ponto final da primeira viagem internacional de Hillary como secretária de Estado, depois de visitar Tóquio, Jacarta e Seul. Amanhã, ela embarca de volta a Washington.


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