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Direitos humanos saem da agenda dos EUA para China
Washington tem de "aceitar discordância" e focar na crise e no aquecimento global, diz Hillary
Viagem de secretária de Estado, há um mês no cargo, enfatiza pragmatismo nas relações com Pequim sob o governo de Barack Obama
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Direitos humanos, Taiwan e
Tibete não devem interferir na
busca por consensos em outras
áreas entre EUA e China, afirmou ontem a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Ela disse que é melhor
"aceitar a discordância" a respeito desses temas e focalizar a
relação entre os dois países nas
respostas ao aquecimento global e à crise econômica mundial e na contenção do programa nuclear da Coreia do Norte.
Hillary fez a declaração em
Seul, na Coreia do Sul, horas
antes de chegar a Pequim, na
noite de ontem. Hoje ela deve
se encontrar com o presidente
chinês, Hu Jintao, com o premiê Wen Jiabao e com o chanceler Yang Jiechi.
"Isso não significa que as
questões de Taiwan, do Tibete
e de direitos humanos não façam parte da agenda", disse Hillary. "Mas nós já sabemos bem
o que eles vão dizer."
Por anos, os EUA têm acusado a China de desrespeitar os
direitos humanos, pedido mais
autonomia à Província separatista do Tibete e vendido armas
ao governo de Taiwan, que a
China julga uma Província rebelde e para a qual tem mísseis
apontados no caso de a ilha tentar a independência.
"Nós devemos continuar a
pressioná-los, mas nossa pressão nessas questões não pode
interferir na crise financeira
global, na mudança climática e
nas crises de segurança", afirmou. "Precisamos ter um diálogo que leve à compreensão e
cooperação em cada um desses
temas."
Liberdade religiosa
A atitude pragmática revela o
novo papel da China para a diplomacia americana sob o governo de Barack Obama, empossado há um mês.
Contrasta ainda com o discurso da própria Hillary -que,
quando era primeira-dama, criticou abertamente o regime
chinês em 1995, em Pequim.
"Liberdade significa o direito
das pessoas de se reunirem, organizarem e debaterem abertamente. Significa respeitar as
opiniões daqueles que podem
discordar da visão de seus governos", dissera à época, sem
citar a China pelo nome.
"Quer dizer não tirar cidadãos de perto de seus entes
queridos e prendê-los, maltratá-los ou negar-lhes sua liberdade ou sua dignidade por causa da expressão pacífica de seus
ideais e opiniões", afirmara.
Organizações internacionais
de defesa dos direitos humanos, como Anistia Internacional, Freedom House e Campanha Internacional pelo Tibete
haviam pedido a Hillary que falasse sobre censura, torturas
nas prisões chinesas e abusos
contra ativistas e dissidentes.
Após as declarações da chanceler, a Anistia se disse "escandalizada e profundamente decepcionada", afirmando que
elas "prejudicam futuras iniciativas dos EUA em proteger esses direitos na China".
Mas Hillary não deve deixar
passar em branco a falta de liberdade religiosa no país. Ela
pretende ir a um culto amanhã.
A China tem estimados 40
milhões de cristãos (de mais de
1,3 bilhão de habitantes), mas
pelo menos metade deles frequenta cultos clandestinos, alguns até em residências. Oficialmente, a China só permite
igrejas com algum tipo de supervisão e direção do próprio
governo, oficialmente ateu.
No ano passado, o então presidente George W. Bush foi a
uma igreja protestante durante
a Olimpíada de Pequim, mas,
para evitar atritos, decidiu
atender ao culto em uma das
igrejas "oficiais".
Coreia do Norte
Em Seul, a secretária de Estado também afirmou que a Coreia do Norte deve "abandonar
suas provocações, que não ajudarão a melhorar as relações
com os EUA".
Ela anunciou ainda que o diplomata Stephen Bosworth será o enviado especial americano para a Coreia do Norte. Bosworth, ex-embaixador americano em Seul, trabalhará com a
Coreia do Sul, o Japão e a China
para tentar levar o regime de
Pyongyang de volta à mesa de
negociações.
Pequim é o ponto final da primeira viagem internacional de
Hillary como secretária de Estado, depois de visitar Tóquio,
Jacarta e Seul. Amanhã, ela embarca de volta a Washington.
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