São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Oposição a Insulza faz ofensiva para tirá-lo da OEA

Chileno apoiado pelo Brasil é atacado nos EUA e ainda não tem apoio de chavistas

Secretário é candidato único, mas não se descartam novos nomes; eleição abre nova crise na entidade e debate sobre Carta Democrática


Juan Manuel Herrera -16.fev.2010/Efe
O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, que tenta se reeleger no cargo em 24 de março

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fraco, porta-voz da esquerda bolivariana, um dos responsáveis pela crise hondurenha -ou ao menos histriônico o bastante para deslegitimar a OEA (Organização dos Estados Americanos) no mais grave momento da região em anos.
Essas foram algumas das críticas com as quais o chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, foi bombardeado na mídia americana com eco na América Latina e em um editorial do "Washington Post".
Os ataques reverberam o lobby -especialmente caro à oposição republicana- que quer impedir que Insulza seja eleito no posto em 24 de março.
Ele é candidato único e diz ter ao menos 17 votos (dos 33 em jogo) para vencer. Mas nem os EUA nem a antípoda Venezuela declararam apoio e não parecem apressados em desfazer o suspense -nomes podem surgir até no dia da eleição.
"É tarde demais", vaticina Peter Hakim, presidente do influente "think tank" Diálogo Interamericano. Afirma que uma nova candidatura com a chancela de Barack Obama alienaria países-chave para a agenda os EUA Chile e Brasil, patrocinadores da reeleição.
A diplomacia brasileira também vê mais espuma que racionalidade nas movimentações.
Outro analista americano, Christopher Sabatini, do Conselho das Américas, é menos assertivo. Diz que Insulza propôs antecipar o pleito -seu mandato acaba em junho- por temer possíveis novos nomes.

Reformas e futuro
Capitaneada por Chile, Brasil e Venezuela, a disputadíssima vitória de Insulza em 2005 foi a primeira na história à revelia de Washington -se depender dos seus críticos, ele será o primeiro a não ser reeleito desde 1948.
A principal queixa dos conservadores é que Insulza se alinhou ao chavista Manuel Zelaya em Honduras. Nem tentou conter a escalada repressiva que vêem na Venezuela.
Hakim o defende: diz que ele tem agido com a anuência de todos. "Ninguém apoiaria intervenção na Venezuela."
Sabatini diz que Insulza precisava ser mais pró-ativo: "A OEA é fraca e depende excessivamente de liderança. Ele às vezes foi bem, como na crise entre Colômbia e Equador em 2009, mas deixou a inércia da entidade dominá-lo".
O desconforto de fundo parece se voltar de novo para o funcionamento da OEA, que, em eterna crise, viveu lampejos de otimismo em 2009. Primeiro, com o clima de "novo começo" na estreia de Obama na cúpula de Trinidad e Tobago em abril. Depois, com no consenso que anulou a resolução de 1962 que suspendia Cuba do grupo.
Aí veio o golpe em Honduras e o fracasso em revertê-lo, que reacendeu o debate sobre a efetividade da Carta Democrática, de 2001, para a defesa da "democracia representativa".
Na esteira da crise, a oposição venezuelana e nicaraguense estrila dizendo que OEA só protege o Executivo, e não outros aspectos da democracia, como liberdade de expressão ou independência dos Poderes.
Os dois pontos tocam na tensão entre soberania e não intervenção e defesa tranversal de direitos básicos. O próprio Insulza chegou propor ajustes na Carta Democrática para acomodar essas questões em 2006.
Mas um diplomata da OEA adverte que falar disso agora -no lançamento da sua candidatura em 3 de março, por exemplo- abrirá a "caixa de Pandora". "Nenhuma reforma vai ocorrer enquanto o hemisfério estiver tão terrivelmente dividido", diz Hakim.


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