São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010 |
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Oposição a Insulza faz ofensiva para tirá-lo da OEA
Chileno apoiado pelo Brasil é atacado nos EUA e ainda não tem apoio de chavistas
FLÁVIA MARREIRO DA REPORTAGEM LOCAL Fraco, porta-voz da esquerda bolivariana, um dos responsáveis pela crise hondurenha -ou ao menos histriônico o bastante para deslegitimar a OEA (Organização dos Estados Americanos) no mais grave momento da região em anos. Essas foram algumas das críticas com as quais o chileno José Miguel Insulza, secretário-geral da OEA, foi bombardeado na mídia americana com eco na América Latina e em um editorial do "Washington Post". Os ataques reverberam o lobby -especialmente caro à oposição republicana- que quer impedir que Insulza seja eleito no posto em 24 de março. Ele é candidato único e diz ter ao menos 17 votos (dos 33 em jogo) para vencer. Mas nem os EUA nem a antípoda Venezuela declararam apoio e não parecem apressados em desfazer o suspense -nomes podem surgir até no dia da eleição. "É tarde demais", vaticina Peter Hakim, presidente do influente "think tank" Diálogo Interamericano. Afirma que uma nova candidatura com a chancela de Barack Obama alienaria países-chave para a agenda os EUA Chile e Brasil, patrocinadores da reeleição. A diplomacia brasileira também vê mais espuma que racionalidade nas movimentações. Outro analista americano, Christopher Sabatini, do Conselho das Américas, é menos assertivo. Diz que Insulza propôs antecipar o pleito -seu mandato acaba em junho- por temer possíveis novos nomes. Reformas e futuro Capitaneada por Chile, Brasil e Venezuela, a disputadíssima vitória de Insulza em 2005 foi a primeira na história à revelia de Washington -se depender dos seus críticos, ele será o primeiro a não ser reeleito desde 1948. A principal queixa dos conservadores é que Insulza se alinhou ao chavista Manuel Zelaya em Honduras. Nem tentou conter a escalada repressiva que vêem na Venezuela. Hakim o defende: diz que ele tem agido com a anuência de todos. "Ninguém apoiaria intervenção na Venezuela." Sabatini diz que Insulza precisava ser mais pró-ativo: "A OEA é fraca e depende excessivamente de liderança. Ele às vezes foi bem, como na crise entre Colômbia e Equador em 2009, mas deixou a inércia da entidade dominá-lo". O desconforto de fundo parece se voltar de novo para o funcionamento da OEA, que, em eterna crise, viveu lampejos de otimismo em 2009. Primeiro, com o clima de "novo começo" na estreia de Obama na cúpula de Trinidad e Tobago em abril. Depois, com no consenso que anulou a resolução de 1962 que suspendia Cuba do grupo. Aí veio o golpe em Honduras e o fracasso em revertê-lo, que reacendeu o debate sobre a efetividade da Carta Democrática, de 2001, para a defesa da "democracia representativa". Na esteira da crise, a oposição venezuelana e nicaraguense estrila dizendo que OEA só protege o Executivo, e não outros aspectos da democracia, como liberdade de expressão ou independência dos Poderes. Os dois pontos tocam na tensão entre soberania e não intervenção e defesa tranversal de direitos básicos. O próprio Insulza chegou propor ajustes na Carta Democrática para acomodar essas questões em 2006. Mas um diplomata da OEA adverte que falar disso agora -no lançamento da sua candidatura em 3 de março, por exemplo- abrirá a "caixa de Pandora". "Nenhuma reforma vai ocorrer enquanto o hemisfério estiver tão terrivelmente dividido", diz Hakim. Próximo Texto: Entrevista: "Críticos nos EUA são pró-ingerência" Índice |
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