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Escândalos conseguem abalar até bastiões de apoio ao presidente
DE JOHANNESBURGO
É das enormes "townships"
(favelas) sul-africanas que Jacob Zuma sempre extraiu sua
sustentação política.
Mas em lugares como Tembisa, moradia de 300 mil pessoas na periferia de Johannesburgo, já se percebem arranhões no que um dia foi apoio
incondicional.
Para muitos, o "Babygate"
não caiu bem. "Ele está se divertindo demais. Ele é o presidente, e o que está mostrando
ao país não é bom", diz Yusuf
Magembe, 30, que trabalha
com a fabricação de medicamentos tradicionais africanos.
Tembisa é o típico lugar que
vota maciçamente no Congresso Nacional Africano. Afastado
do centro, é uma concentração
de mão de obra barata em que a
taxa de desemprego é alta e a
impaciência com a criminalidade e a falta de saneamento básico e de moradia é crescente.
Partes do lugar já contam
com casas feitas pelo governo,
todas iguais com suas telhas
alaranjadas, mas em outras
áreas ainda há barracos de teto
de zinco. As únicas atividades
comerciais dignas de nota são
marreteiros vendendo alimentos sob o sol e os inúmeros salões de beleza improvisados em
casebres.
Ali, o direito de um homem à
poligamia, tradicional na cultura africana e previsto em lei, é
compreendido por praticamente todos. Mas também é
comum um sentimento de que
o presidente exagerou.
"Zuma poderia ter duas ou
três mulheres, mas cinco é demais. Ele não tem tempo para
cuidar de todas elas", afirma
Eunice Makgobatlou, desempregada.
Oposição da igreja
Um problema adicional para
o presidente é a oposição das
igrejas cristãs, religião predominante no país, ao seu estilo
de vida. A Conferência Sul-Africana de Bispos Católicos,
por exemplo, partiu para a crítica aberta.
"Quando uma pessoa se torna uma figura pública de destaque, sua vida privada se torna
de interesse de todos. O presidente está dando um mau
exemplo ao mostrar que pode
fazer o que quiser", afirma o padre Cris Townsend, porta-voz
da conferência.
Em Tembisa, o desempenho
de Zuma como presidente divide opiniões. Gertrude Navungwana, também desempregada,
diz que o presidente está "tentando". "A população da África
do Sul é grande demais, por isso
as mudanças demoram", diz
ela, que aponta algumas melhorias recentes no bairro, como
uma nova biblioteca e uma clínica de saúde.
Tomando uma cerveja num
"shebeen", um tradicional boteco encontrado na periferia de
Johannesburgo, Simon Sekgbela diz estar decepcionado
com o presidente. "Eu o apoiava, mas não mais. Ele chegou ao
topo e se esqueceu de nós".
(FZ)
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