São Paulo, domingo, 21 de fevereiro de 2010

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Escândalos conseguem abalar até bastiões de apoio ao presidente

DE JOHANNESBURGO

É das enormes "townships" (favelas) sul-africanas que Jacob Zuma sempre extraiu sua sustentação política.
Mas em lugares como Tembisa, moradia de 300 mil pessoas na periferia de Johannesburgo, já se percebem arranhões no que um dia foi apoio incondicional.
Para muitos, o "Babygate" não caiu bem. "Ele está se divertindo demais. Ele é o presidente, e o que está mostrando ao país não é bom", diz Yusuf Magembe, 30, que trabalha com a fabricação de medicamentos tradicionais africanos.
Tembisa é o típico lugar que vota maciçamente no Congresso Nacional Africano. Afastado do centro, é uma concentração de mão de obra barata em que a taxa de desemprego é alta e a impaciência com a criminalidade e a falta de saneamento básico e de moradia é crescente.
Partes do lugar já contam com casas feitas pelo governo, todas iguais com suas telhas alaranjadas, mas em outras áreas ainda há barracos de teto de zinco. As únicas atividades comerciais dignas de nota são marreteiros vendendo alimentos sob o sol e os inúmeros salões de beleza improvisados em casebres.
Ali, o direito de um homem à poligamia, tradicional na cultura africana e previsto em lei, é compreendido por praticamente todos. Mas também é comum um sentimento de que o presidente exagerou.
"Zuma poderia ter duas ou três mulheres, mas cinco é demais. Ele não tem tempo para cuidar de todas elas", afirma Eunice Makgobatlou, desempregada.

Oposição da igreja
Um problema adicional para o presidente é a oposição das igrejas cristãs, religião predominante no país, ao seu estilo de vida. A Conferência Sul-Africana de Bispos Católicos, por exemplo, partiu para a crítica aberta.
"Quando uma pessoa se torna uma figura pública de destaque, sua vida privada se torna de interesse de todos. O presidente está dando um mau exemplo ao mostrar que pode fazer o que quiser", afirma o padre Cris Townsend, porta-voz da conferência.
Em Tembisa, o desempenho de Zuma como presidente divide opiniões. Gertrude Navungwana, também desempregada, diz que o presidente está "tentando". "A população da África do Sul é grande demais, por isso as mudanças demoram", diz ela, que aponta algumas melhorias recentes no bairro, como uma nova biblioteca e uma clínica de saúde.
Tomando uma cerveja num "shebeen", um tradicional boteco encontrado na periferia de Johannesburgo, Simon Sekgbela diz estar decepcionado com o presidente. "Eu o apoiava, mas não mais. Ele chegou ao topo e se esqueceu de nós". (FZ)


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