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Zuma sofre chuva de ataques na África do Sul
No ano da Copa, presidente sul-africano é criticado por estilo de vida exuberante enquanto economia do país patina
Imagem de líder enfrenta dano extra por escândalo apelidado de "Babygate" após ter filho com amante; ele já tem cinco mulheres
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Foi demais, mesmo para um
país acostumado às aventuras
sexuais de seu presidente. A
notícia de que Jacob Zuma teve
seu 20º filho, e ainda mais de
uma amante, coroou um início
de ano infernal para ele.
O "Babygate", como vem sendo chamado, seria apenas mais
uma anedota na colorida vida
particular de Zuma, 67, não tivesse vindo num momento em
que a economia patina, sindicatos pressionam por mudanças,
denúncias de corrupção se avolumam e a população nas
"townships" (favelas) começa a
perder a paciência.
O país perdeu 1 milhão de
postos de trabalho em 2009, levando o desemprego a 25%. A
recuperação será mais lenta do
que o previsto: o FMI projeta
crescimento de apenas 1,7%
neste ano, e isso somente porque a Copa do Mundo contribuirá com 0,5% de aumento.
"Zuma afirma que esse será o
ano da ação. As pessoas começam a se perguntar então o que
ele vinha fazendo até agora",
diz Justin Sylvester, do Instituto para Democracia na África
do Sul.
No início do mês, Zuma fez
um discurso nos moldes do
"Estado da União" americano.
Saiu dele atacado por todos os
lados, inclusive por sua base
tradicional, os sindicatos.
"As palavras do presidente
não estão se traduzindo em
ações", afirma Patrick Craven,
dirigente da Cosatu, a maior
central sindical do país e parte
da coalizão de governo.
Zuma, concordam os analistas, está pagando o preço de
suas declarações na campanha
eleitoral de um ano atrás. Aos
sindicatos, prometeu mudar a
política econômica "neoliberal" de seu antecessor, o detestado Thabo Mbeki. Mas pilares
do liberalismo, como as metas
de inflação e o câmbio livre, sobrevivem. E o governo acena
com a flexibilização do mercado de trabalho. "A mudança radical não veio", diz Craven.
Parte de seu partido pressiona pela nacionalização do setor
minerador, um dos mais fortes
no país. De novo, Zuma rejeita.
O "Babygate" veio apimentar
a crise de credibilidade. Zuma
tem cinco mulheres, o que é
permitido pela lei sul-africana,
com base no respeito a culturas
poligâmicas tradicionais.
Na campanha, ele dizia que
isso era muito mais honesto do
que ocorre no Ocidente, em
que homens têm amantes. Mas
agora se sabe que o presidente
pratica o que criticava.
"Os últimos eventos cristalizaram na classe média a oposição a Zuma", diz Anneke Greyling, diretora do Ipsos-Markinor, principal instituto de pesquisa de opinião do país.
Na África do Sul, a lealdade é
muito mais ao partido governista (Congresso Nacional
Africano, que liderou a luta
contra o apartheid) do que ao
presidente. O "Babygate" enfureceu várias alas do partido e
obrigou o presidente a pedir
desculpas públicas.
A massa mais pobre, diz
Greyling, não gostou do escândalo, mas ainda está disposta a
permanecer leal ao governo por
mais algum tempo. A paciência
tem limite, como demonstraram ondas de distúrbios nas favelas em 2008 e 2009. Tudo
que o governo não quer é uma
repetição às vésperas da Copa.
Em novembro de 2009, o instituto fez uma pesquisa com
3.374 sul-africanos, em que
uma das conclusões foi a insatisfação com o desempenho de
Zuma em várias áreas.
Menos de 50% se disseram
satisfeitos com políticas de redução da desigualdade, geração
de empregos e combate à corrupção. E há os casos de corrupção revelados pela imprensa, envolvendo figurões do regime. Pelo menos nesse front,
Zuma decidiu agir. Anunciou
uma auditoria completa nas finanças dos membros da direção de seu partido.
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