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GUERRA DO IRAQUE - 1 ANO DEPOIS
Um ano depois, nem o alto custo nem a perda de soldados parecem abalar a confiança dos americanos na campanha militar
Maioria nos EUA apóia Guerra do Iraque
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Enquanto centenas de milhares
de manifestantes protestam contra a ocupação do Iraque, um ano
depois do início de uma guerra
que estourou todas as previsões
de duração e de custos (financeiros e em vidas), a opinião pública
americana continua majoritariamente a favor da campanha no
Iraque e crente na mensagem de
liderança contra o terror emitida
pelo presidente George W. Bush.
A invasão iraquiana foi "vendida" como uma guerra rápida e
sem grandes gastos. Os soldados
norte-americanos entrariam no
país como "libertadores" e levariam uma onda de progresso sem
precedentes ao Iraque.
A realidade no país é bem diferente disso, mas, ao contrário do
que ocorre na maior parte do
mundo, a maioria dos norte-americanos ainda apóia a ação.
Cerca de 60% continuam
achando que os EUA acertaram
ao usar a força contra o regime do
ex-ditador Saddam Hussein e
81% confiam na liderança norte-americana na guerra ao terrorismo, segundo levantamento do
Centro de Pesquisas Pew.
O levantamento, feito em nove
países, mostrou também um isolamento dos EUA em relação à
Europa e a vários Estados árabes.
"Desastre"
"Quando ouço a expressão "desastre" para especular que a Guerra do Iraque foi a causa e não a
conseqüência de mais terrorismo
no mundo, eu me pergunto qual
foi, afinal, a causa do 11 de Setembro", diz Danielle Pletka, vice-presidente do AEI (American Enterprise Institute), "think-tank"
conservador de Washington.
O AEI é ligado ao Partido Republicano de Bush e promove ativamente seminários e informes em
defesa da "liderança" dos EUA
em várias frentes.
Boa parte da "alienação" dos
EUA tem a ver com um trabalho
meticuloso de autoridades e de
centros como o AEI em reforçar,
no dia-a-dia, o discurso monotemático de que os americanos continuam em perigo e em guerra
contra seus agressores.
Com raras exceções, a mídia
norte-americana, principalmente
as TVs, tem sido responsável por
manter o país nesse tom.
Na quarta-feira passada, por
exemplo, duas das principais organizações americanas contra a
guerra, a MoveOn.org e a WinWithoutWar, proveram um evento
em Washington para marcar o
primeiro ano da invasão. Além da
reportagem da Folha, estavam
presentes apenas mais quatro jornalistas.
O evento também contou com a
presença de vários familiares de
soldados mortos no Iraque, mas
não ganhou nenhuma visibilidade nas TVs ou nos jornais do dia
seguinte.
"A ação da Casa Branca consiste
em colocar medo nas pessoas, e os
EUA agem de modo totalmente
consciente nesse sentido", afirma
Patrick Cronin, vice-presidente
do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, outro "think-tank" de Washington, independente.
Custos da guerra
O clima de insegurança vigente
também não provocou até aqui
questionamentos mais duros em
relação aos custos da guerra para
a sociedade americana.
Em abril de 2003, a Agência de
Desenvolvimento Internacional
dos EUA (Usaid), responsável pela reconstrução do Iraque, fez
uma previsão oficial de gastos de
US$ 1,7 bilhão no país ocupado.
"Essa será a parte americana. Não
gastaremos nada além disso",
afirmou à época Andrew Nastios,
chefe da Usaid.
Cinco meses depois, Bush pediu
mais US$ 20 bilhões ao Congresso
e agora requisita outros US$ 75
bilhões para 2004 -sem contar aí
os custos totais da operação militar com os 130 mil soldados deslocados para a região.
"A idéia de que tudo se resolveria no Iraque em uma questão de
meses é absurda", afirma Richard
Perle, um dos ideólogos da política de ataques preventivos dos
EUA e principal criador de políticas para o Pentágono até meados
do ano passado.
Para Perle, que se diz "enojado"
pela maneira como os países árabes vizinhos ao Iraque toleraram
a existência de Saddam, "os EUA
estão pagando um custo alto pela
libertação do país".
Segundo ele, a opinião pública
já entende que, no longo prazo, a
determinação norte-americana
terá valido a pena.
"O fato de a Líbia de Muammar
Gaddafi ter levantado a bandeira
branca não é nenhuma coincidência, diante da disposição norte-americana de confrontar as
ameaças que surgirem pela frente", afirmou Perle -referindo-se
à recente decisão do ditador líbio
de abandonar programas de armas de destruição em massa e
abrir seu país ao Ocidente.
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