São Paulo, domingo, 21 de março de 2004

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GUERRA DO IRAQUE - 1 ANO DEPOIS

Um ano depois, nem o alto custo nem a perda de soldados parecem abalar a confiança dos americanos na campanha militar

Maioria nos EUA apóia Guerra do Iraque

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam contra a ocupação do Iraque, um ano depois do início de uma guerra que estourou todas as previsões de duração e de custos (financeiros e em vidas), a opinião pública americana continua majoritariamente a favor da campanha no Iraque e crente na mensagem de liderança contra o terror emitida pelo presidente George W. Bush.
A invasão iraquiana foi "vendida" como uma guerra rápida e sem grandes gastos. Os soldados norte-americanos entrariam no país como "libertadores" e levariam uma onda de progresso sem precedentes ao Iraque.
A realidade no país é bem diferente disso, mas, ao contrário do que ocorre na maior parte do mundo, a maioria dos norte-americanos ainda apóia a ação.
Cerca de 60% continuam achando que os EUA acertaram ao usar a força contra o regime do ex-ditador Saddam Hussein e 81% confiam na liderança norte-americana na guerra ao terrorismo, segundo levantamento do Centro de Pesquisas Pew.
O levantamento, feito em nove países, mostrou também um isolamento dos EUA em relação à Europa e a vários Estados árabes.

"Desastre"
"Quando ouço a expressão "desastre" para especular que a Guerra do Iraque foi a causa e não a conseqüência de mais terrorismo no mundo, eu me pergunto qual foi, afinal, a causa do 11 de Setembro", diz Danielle Pletka, vice-presidente do AEI (American Enterprise Institute), "think-tank" conservador de Washington.
O AEI é ligado ao Partido Republicano de Bush e promove ativamente seminários e informes em defesa da "liderança" dos EUA em várias frentes.
Boa parte da "alienação" dos EUA tem a ver com um trabalho meticuloso de autoridades e de centros como o AEI em reforçar, no dia-a-dia, o discurso monotemático de que os americanos continuam em perigo e em guerra contra seus agressores.
Com raras exceções, a mídia norte-americana, principalmente as TVs, tem sido responsável por manter o país nesse tom.
Na quarta-feira passada, por exemplo, duas das principais organizações americanas contra a guerra, a MoveOn.org e a WinWithoutWar, proveram um evento em Washington para marcar o primeiro ano da invasão. Além da reportagem da Folha, estavam presentes apenas mais quatro jornalistas.
O evento também contou com a presença de vários familiares de soldados mortos no Iraque, mas não ganhou nenhuma visibilidade nas TVs ou nos jornais do dia seguinte.
"A ação da Casa Branca consiste em colocar medo nas pessoas, e os EUA agem de modo totalmente consciente nesse sentido", afirma Patrick Cronin, vice-presidente do Centro Internacional de Estudos Estratégicos, outro "think-tank" de Washington, independente.

Custos da guerra
O clima de insegurança vigente também não provocou até aqui questionamentos mais duros em relação aos custos da guerra para a sociedade americana.
Em abril de 2003, a Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid), responsável pela reconstrução do Iraque, fez uma previsão oficial de gastos de US$ 1,7 bilhão no país ocupado. "Essa será a parte americana. Não gastaremos nada além disso", afirmou à época Andrew Nastios, chefe da Usaid.
Cinco meses depois, Bush pediu mais US$ 20 bilhões ao Congresso e agora requisita outros US$ 75 bilhões para 2004 -sem contar aí os custos totais da operação militar com os 130 mil soldados deslocados para a região.
"A idéia de que tudo se resolveria no Iraque em uma questão de meses é absurda", afirma Richard Perle, um dos ideólogos da política de ataques preventivos dos EUA e principal criador de políticas para o Pentágono até meados do ano passado.
Para Perle, que se diz "enojado" pela maneira como os países árabes vizinhos ao Iraque toleraram a existência de Saddam, "os EUA estão pagando um custo alto pela libertação do país".
Segundo ele, a opinião pública já entende que, no longo prazo, a determinação norte-americana terá valido a pena.
"O fato de a Líbia de Muammar Gaddafi ter levantado a bandeira branca não é nenhuma coincidência, diante da disposição norte-americana de confrontar as ameaças que surgirem pela frente", afirmou Perle -referindo-se à recente decisão do ditador líbio de abandonar programas de armas de destruição em massa e abrir seu país ao Ocidente.


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