São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

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Rússia ameaça romper acordo nuclear com Teerã

Moscou cessará remessa de combustível se Irã insistir em enriquecer urânio

Segundo o "New York Times", os russos estão descontentes com falta de pagamento por construção de reator atômico para o Irã

DA REDAÇÃO

A Rússia ameaçou interromper o fornecimento de combustível nuclear ao Irã se o país do Oriente Médio continuar se recusando a suspender seu processo de enriquecimento de urânio, informou ontem o jornal "New York Times".
Segundo a matéria do "Times", o ultimato foi dado, na semana passada, pelo secretário do Conselho de Segurança Nacional Russo, Igor S. Ivanov, ao segundo homem na cadeia de comando das negociações nucleares iranianas, Ali Hosseini Tash. O jornal atribui as informações a membros dos governos da Rússia e do Irã.
O combustível nuclear que os russos fornecem aos iranianos está incluso no contrato da construção de um reator no Irã. O reator de Bushehr, já quase pronto, não tem potencial bélico e vinha sendo tratado por Moscou como um assunto separado das pretensões iranianas de enriquecer urânio em escala industrial -pretensões essas que renderam a Teerã a imposição de sanções comerciais pela ONU.
O embaixador da Rússia na ONU, Vitaly Churkin, apressou-se a desmentir o "New York Times". "Posso lhes garantir que (...) não houve nenhum tipo de ultimato da Rússia ao Irã", disse.
Mas Churkin não foi rápido o bastante para impedir que a TV estatal iraniana repercutisse a reportagem, declarando que a Rússia está se tornando um "parceiro não-confiável" e que o ultimato é uma reação a pressões políticas.
A construção do reator de Bushehr já havia causado entre Teerã e Moscou um mal-estar, que veio a público na semana passada, quando a agência nuclear russa, Rosatom, afirmou que os iranianos estavam atrasados no pagamento das duas últimas parcelas mensais estabelecidas no contrato, de US$ 25 milhões cada uma. A Rosatom anunciara na ocasião que, enquanto não recebesse o dinheiro, não daria o combustível. O Irã reagiu dizendo que os pagamentos estavam em dia.
O atraso nos pagamentos iranianos é uma hipótese para o fato de Moscou ter subido o tom, ter envolvido a questão do urânio no problema e, assim, ter mudado uma posição que mantinha de resistência à pressão dos EUA para expandir as sanções ao Irã.
Outra possibilidade, aventada por diplomatas, seria o fato de que os negócios com o Irã estariam bloqueando as possibilidades de a Rússia firmar acordos com outros países no campo da energia nuclear. Esses acordos seriam a prioridade do novo presidente da Rosatom, que assumiu há duas semanas.
Por ter relações comerciais com o Irã, e pretender manter independência em relação aos EUA, Moscou sempre dificultou o processo de adoção de sanções, no âmbito do Conselho de Segurança (CS) da ONU, contra Teerã.

Debandada
Embora Moscou negue ter feito o ultimato, diplomatas europeus e americanos disseram que desde a semana passada técnicos russos estão deixando a usina de Bushehr, no Irã.
A pressão russa vem num momento ruim para Teerã, dado que está agendada para esta semana o início da reunião do CS da ONU que votará a imposição de mais sanções ao Irã. A primeira leva delas foi aprovada em dezembro. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deve falar na reunião.


Com agências internacionais


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