São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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Problemas marcam votação no Haiti

Dados preliminares do segundo turno da eleição presidencial realizada ontem só serão conhecidos no dia 31

Chefe da missão da ONU no país afirma que o comparecimento dos eleitores foi maior do que no primeiro turno

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Abatido, o mecânico Michel Linord, 39, exibia a identidade: se ele votou no primeiro turno para presidente do Haiti, por que não achava seu nome na lista de votação ontem? Minutos depois, com a ajuda de um haitiano alfabetizado, apontou o sobrenome na parede.
"Estou feliz. Vou votar em [Michel] Martelly", disse.
Outros eleitores não tiveram a sorte de Linord. Seus nomes não constavam nas seções eleitorais do Liceu Nacional em Cité Soleil, a megafavela no norte da grande Porto Príncipe.
Apesar de problemas como o do mecânico, a avaliação de observadores e da ONU foi a de que o inédito segundo turno para escolher o novo presidente do Haiti foi menos turbulento que a primeira votação, em novembro, marcada por desorganização e fraude.
Nos próximos cinco anos, o cantor Martelly, 50, ou a acadêmica Mirlande Manigat, 70, governarão o país arrasado pelo terremoto de 2010, com 80% da população abaixo da linha da pobreza.
Em vários pontos de Porto Príncipe, falhas na entrega do material eleitoral atrasaram o início da jornada -para compensar, centros funcionaram uma hora a mais.
Segundo o chefe da missão da ONU (Minustah) no país, Edmond Mulet, a participação dos eleitores foi maior do que os apenas 23% do primeiro turno.
De acordo com a Minustah, chefiada militarmente pelo Brasil, houve um morto e um ferido em confrontos com os capacetes azuis. A polícia haitiana informou à Reuters que foram três os mortos em todo o país.
Não há pesquisa de opinião considerada confiável sobre a disputa. Na mais citada delas, Brides, Martelly é o favorito, com 53,4%, contra 46.6% de Manigat.
Em Porto Príncipe, a empolgação maior foi dos eleitores do cantor. Aos gritos de "tèt kale" -careca, em creole-, os apoiadores de Martelly constrangeram Manigat quando ela foi votar.
A jornada também foi marcada pela discrição de Jean-Bertrand Aristide. O ex-presidente-eleito e deposto duas vezes- voltou ao país na sexta-feira, após sete anos de exílio. Reclamou da exclusão de seu partido da eleição, mas não se pronunciou mais. Num episódio ainda confuso, o rapper americano-haitiano Wyclef Jean informou ter sido baleado na mão, sem gravidade, no sábado. Jean fez campanha para Martelly no segundo turno.
O país inicia agora uma longa espera -tradicionalmente tensa no país- porque os resultados preliminares só serão divulgados no dia 31. O novo presidente e a composição do Parlamento- quem vencer terá de negociar para eleger um premiê- só serão conhecidos oficialmente em 16 de abril.
"Foi uma jornada mais calma. Espero que os candidatos tenham maturidade e serenidade para esperar os resultados", disse o embaixador do Brasil, Igor Kipman.


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