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VIOLÊNCIA VIRTUAL
Sites recebem visitas de jovens e de seus pais
Gangues dos EUA invadem a Internet
EMMANUELLE RICHARD
do "Libération"
Para visitar os websites de duas
das gangues mais perigosas dos
Estados Unidos, basta clicar sobre
o revólver do homem perseguido
cuja figura aparece na home page
de cada uma delas.
Desde o ano passado as famosas
gangues rivais Bloods e Crips, ambas de Los Angeles, têm seus sites
próprios na Internet.
Os sites bloods.com e crips.com
oferecem a seus "Net Gangstas"
("gangstas" são os integrantes das
gangues) um "espaço gratuito para
exprimir seus talentos na Internet"
(desenhos, trechos de raps ou fotos
de seus amigos armados até os
dentes), um e-mail (endereço eletrônico) e até mesmo algumas fotos de "garotas gangstas".
Os sites não contêm pornografia,
apologia de drogas ou ameaças diretas à gangue inimiga. Eles respeitam essa surpreendente discrição
especialmente porque compartilham o mesmo servidor e o mesmo
webmaster, Dirk Lemmons, que
vive no Missouri, a milhares de
quilômetros de Los Angeles.
"Criar sites para as gangues é como instalar uma rede de basquete
num gueto e convidar todo mundo
a jogar", garante Lemmons, empresário de 41 anos que começou a
ganhar a vida instalando grades
nas janelas das casas dos bairros
violentos de Saint Louis.
Há quase um ano, tomou a iniciativa de lançar os sites das gangues e, logo depois, a gangue nova-iorquina dos Latin Kings aceitou
sua oferta, propondo-se a oferecer
"um centro para receber os jovens
seduzidos pelo crime" e proporcionar aos curiosos fascinados pela cultura das gangues um vislumbre de como é esse mundo.
Alejandro Alonso, 28, rosto redondo e bigode fino, é um antigo
gangsta de Los Angeles. Segundo
ele, as gangues dificilmente vão fazer muito uso dos sites criados por
Dirk Lemmons.
"Seus integrantes ainda estão
longe de dominar a Internet. Eles
vivem nos mesmos bairros, se comunicam por telefone e pager, às
vezes até pelo celular, mas, para
navegar na rede, é preciso saber ler
e escrever, o que nem sempre é o
caso deles", diz.
Para ele, Dirk Lemmons faz parte
de um grupo emergente de webmasters interessados em ganhar
dinheiro com os adolescentes da
classe média branca, fascinados
pelo gangsta rap.
No site crips.com, o internauta
pode comprar canetas dos Crips
por US$ 6,95 mais o custo do frete.
O detetive Chuck Zeglin, da polícia de Los Angeles e especialista
em gangues, calcula que "metade
dos sites de gangues é fajuta. A outra metade tem ligações mais ou
menos estreitas com gangues em
atividade".
Num cubículo pré-fabricado situado num estacionamento no
centro da cidade, Zeglin forma brigadas antigangues para navegar
em bancos de dados informatizados. Desde que os sites de gangues
começaram a aparecer, na metade
desta década, a equipe do detetive
já investigou cerca de 80 sites.
Chuck Zeglin explica que os sites
de gangues, frequentemente malfeitos, não representam perigo à
sociedade. "Não é nos sites que alguém vai encontrar informações
sobre os crimes que elas tramam",
diz. "Eles não hesitam em falar mal
da polícia, mas não a ameaçam diretamente."
Apenas um site suscitou uma investigação da polícia de Los Angeles: a killercop.com, que oferecia
recompensas aos visitantes que se
dispusessem a assassinar policiais
de Los Angeles. Por falta de provas,
os gangstas responsáveis pela oferta não foram presos, mas foram
forçados a fechar o site.
Dirk Lemmons afirma receber
milhares de visitas por dia, originárias de usuários em escolas, bibliotecas municipais e bases militares de todo o mundo, já que muitos antigos membros de gangues se
alistaram no Exército dos EUA.
Alejandro Alonso, em Los Angeles, prefere buscar material para
reflexão nos raros sites de membros de gangues que se encontram
atrás das grades, como um dos
fundadores da gangue dos Crips,
Stanley "Tookie" Williams.
Ele já passou 18 de seus 43 anos
na prisão e aguarda ser executado.
No site tookie.com, prega o evangelho antigangues: "Eu não esperava ver os Crips estragarem a vida
de tantos jovens".
"A Internet pode informar os
pais, sobretudo", observa Alonso.
Desde a Universidade do Sul da
Califórnia (USC), onde estuda
geografia, o ex-gangsta começou
há quatro anos a montar seu próprio site, o streetgangs.com, uma
mina de informações sobre as gangues de Los Angeles.
"Frequentemente recebo e-mails
de mães que temem que seus filhos
tenham entrado numa gangue,
porque começaram a usar roupas
diferentes e a fazer gestos estranhos com as mãos."
"Muitos pais chegam a nossa homepage por meio do site do departamento de polícia de Los Angeles
e nos perguntam como impedir
que seus filhos entrem para alguma gangue", conta Chuck Zeglin.
Tradução de
Clara Allain
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