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IRAQUE OCUPADO
General reformado americano indicado pelos EUA para estabelecer governo interino leva 400 assessores
Garner chega a Bagdá para formar governo
DA REDAÇÃO
Jay Garner, 64, o general designado pelos EUA para estabelecer
um governo interino no Iraque,
deve chegar hoje a Bagdá. Ele disse ao jornal americano "The Washington Post" que chegará à capital iraquiana com 400 assessores,
dando início ao processo de reestruturação pública do país.
Um de seus primeiros desafios
será lidar com o autoproclamado
"prefeito de Bagdá", Mohammed
Mohsen al Zubaidi. Ele já vem
dando declarações sobre seus planos, apesar de não estar claro se
sua autoridade será reconhecida
pelos americanos.
Ontem, Al Zubaidi disse que a
nova Constituição deve advir da
lei islâmica, uma tese que não é
vista com bons olhos pelos EUA.
"Já nos encontramos com legisladores para criar leis e abrir tribunais. Assim a vida pode começar a
ganhar legitimidade", disse.
Membro do Congresso Nacional Iraquiano (CNI) -que é liderado pelo xiita Ahmed Chalabi e
fazia oposição ao ex-ditador Saddam Hussein-, Al Zubaidi afirma ter sido eleito por um conselho interino de acadêmicos, xiitas,
sunitas, cristãos e escritores.
"Fui escolhido por líderes tribais e por gente educada -os
doutores da cidade e outras figuras proeminentes. Não somos um
governo de transição. Somos um
comitê executivo para gerir Bagdá", disse o "prefeito".
Os EUA ainda não reconheceram plenamente essa eleição. Em
sua entrevista ao "Post", Garner
disse que "tudo o que nos importa
é que os iraquianos estabeleçam
um processo democrático que expresse o desejo livremente eleito
pelo povo". Mas o general não
deu nenhuma previsão de data
para que o governo do Iraque seja
entregue aos iraquianos.
Chalabi amainou um pouco as
declarações de Al Zubaidi: disse
que não vê a formação de uma
teocracia islâmica no Iraque. Afirmou também que gostaria que as
tropas americanas permanecessem no país por ao menos dois
anos, até a realização de eleições.
De origem xiita -grupo que representa 60% da população do
país, mas reprimido pelos sunitas
durante a ditadura-, Chalabi advoga um Estado secular.
Em Washington, o presidente
do Comitê de Relações Exteriores
do Senado, o senador republicano
Richard Lugar, disse que não crê
ser possível a criação de uma democracia funcional no Iraque em
menos de cinco anos.
Além desse problemas de ordem prática, Garner deve enfrentar a desconfiança dos iraquianos
por causa de suas relações íntimas
com Israel. Ele é um dos 42 oficiais reformados que assinaram
uma declaração elogiando as forças israelenses por sua "destacada
moderação" ao enfrentar a Intifada (levante palestino).
O general entretanto tem a reputação de extrema competência
em administração logística, fama
que consolidou durante o reassentamento da população curda
no norte do Iraque em 1991, após
milhares deles terem fugido das
forças iraquianas.
Apesar disso, Garner não é unanimidade: ontem, o senador Lugar disse que o general reformado
está mal preparado para a tarefa
que enfrentará no Iraque.
Vida "normal"
Milhares de funcionários públicos de Bagdá compareceram aos
seus locais de trabalho ontem, dia
útil no Iraque, tentando recuperar
objetos e equipamentos. Encontraram a maioria dos prédios públicos em ruínas ou saqueados.
"Não posso acreditar que iraquianos tenham feito isso. Esse
não pode ser o Iraque intelectual e
bem educado que eu conheço",
disse Nawal Abdel Kaim, funcionária pública há mais de 19 anos.
Apesar da situação dos escritórios públicos, ontem foi o dia mais
"normal" no Iraque desde a deposição de Saddam Hussein. O fornecimento de energia elétrica foi
restabelecido na parte leste de
Bagdá duas semanas após o corte.
O "prefeito" Al Zubaidi disse
que a situação de segurança em
Bagdá é considerada a primeira
das prioridades em sua agenda.
Os saques que ocorreram na cidade após a queda do regime de
Saddam Hussein estão se tornando casos cada vez isolados.
Com agências internacionais
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