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São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2003

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IRAQUE OCUPADO

General reformado americano indicado pelos EUA para estabelecer governo interino leva 400 assessores

Garner chega a Bagdá para formar governo

DA REDAÇÃO

Jay Garner, 64, o general designado pelos EUA para estabelecer um governo interino no Iraque, deve chegar hoje a Bagdá. Ele disse ao jornal americano "The Washington Post" que chegará à capital iraquiana com 400 assessores, dando início ao processo de reestruturação pública do país.
Um de seus primeiros desafios será lidar com o autoproclamado "prefeito de Bagdá", Mohammed Mohsen al Zubaidi. Ele já vem dando declarações sobre seus planos, apesar de não estar claro se sua autoridade será reconhecida pelos americanos.
Ontem, Al Zubaidi disse que a nova Constituição deve advir da lei islâmica, uma tese que não é vista com bons olhos pelos EUA. "Já nos encontramos com legisladores para criar leis e abrir tribunais. Assim a vida pode começar a ganhar legitimidade", disse.
Membro do Congresso Nacional Iraquiano (CNI) -que é liderado pelo xiita Ahmed Chalabi e fazia oposição ao ex-ditador Saddam Hussein-, Al Zubaidi afirma ter sido eleito por um conselho interino de acadêmicos, xiitas, sunitas, cristãos e escritores.
"Fui escolhido por líderes tribais e por gente educada -os doutores da cidade e outras figuras proeminentes. Não somos um governo de transição. Somos um comitê executivo para gerir Bagdá", disse o "prefeito".
Os EUA ainda não reconheceram plenamente essa eleição. Em sua entrevista ao "Post", Garner disse que "tudo o que nos importa é que os iraquianos estabeleçam um processo democrático que expresse o desejo livremente eleito pelo povo". Mas o general não deu nenhuma previsão de data para que o governo do Iraque seja entregue aos iraquianos.
Chalabi amainou um pouco as declarações de Al Zubaidi: disse que não vê a formação de uma teocracia islâmica no Iraque. Afirmou também que gostaria que as tropas americanas permanecessem no país por ao menos dois anos, até a realização de eleições.
De origem xiita -grupo que representa 60% da população do país, mas reprimido pelos sunitas durante a ditadura-, Chalabi advoga um Estado secular.
Em Washington, o presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, o senador republicano Richard Lugar, disse que não crê ser possível a criação de uma democracia funcional no Iraque em menos de cinco anos.
Além desse problemas de ordem prática, Garner deve enfrentar a desconfiança dos iraquianos por causa de suas relações íntimas com Israel. Ele é um dos 42 oficiais reformados que assinaram uma declaração elogiando as forças israelenses por sua "destacada moderação" ao enfrentar a Intifada (levante palestino).
O general entretanto tem a reputação de extrema competência em administração logística, fama que consolidou durante o reassentamento da população curda no norte do Iraque em 1991, após milhares deles terem fugido das forças iraquianas.
Apesar disso, Garner não é unanimidade: ontem, o senador Lugar disse que o general reformado está mal preparado para a tarefa que enfrentará no Iraque.

Vida "normal"
Milhares de funcionários públicos de Bagdá compareceram aos seus locais de trabalho ontem, dia útil no Iraque, tentando recuperar objetos e equipamentos. Encontraram a maioria dos prédios públicos em ruínas ou saqueados.
"Não posso acreditar que iraquianos tenham feito isso. Esse não pode ser o Iraque intelectual e bem educado que eu conheço", disse Nawal Abdel Kaim, funcionária pública há mais de 19 anos.
Apesar da situação dos escritórios públicos, ontem foi o dia mais "normal" no Iraque desde a deposição de Saddam Hussein. O fornecimento de energia elétrica foi restabelecido na parte leste de Bagdá duas semanas após o corte.
O "prefeito" Al Zubaidi disse que a situação de segurança em Bagdá é considerada a primeira das prioridades em sua agenda. Os saques que ocorreram na cidade após a queda do regime de Saddam Hussein estão se tornando casos cada vez isolados.


Com agências internacionais


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