São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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Democracia é "projeto inacabado" na América Latina, diz elite regional

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ouvidos por estudiosos da ONU, 231 personalidades da América Latina puseram-se de acordo em relação a dois pontos: 1) nunca houve tanta liberdade política no continente; 2) a democracia na região é um "projeto inacabado".
Manifestaram-se políticos, empresários, religiosos, funcionários públicos e jornalistas. Há na lista 41 nomes de ocupantes ou ex-ocupantes das cadeiras de presidente e vice-presidente. Fernando Henrique Cardoso é um deles.
Foram ouvidos entre julho de 2002 e junho de 2003. Filtrando os raciocínios colecionados, os autores do estudo identificaram três elementos que, na opinião dos entrevistados, constituem riscos à democracia.
O primeiro: assédio do mundo privado ao Estado. Manifesta-se por meio de lobbies. Às vezes, recorre à "compra de votos". Pode "fabricar" candidatos.
A pressão vem também de fora. É balizada pelo humor dos mercados, sobretudo o financeiro. Instaladas nos países latino-americanos, empresas estrangeiras exercem influência exagerada.
O segundo: a desenvoltura do narcotráfico. Além de ser um desafio interno, atrai a atenção dos EUA, "gerando novas formas de pressão externa que limitam ainda mais a esfera de ação dos governos".O "dinheiro sujo" se infiltra, de resto, na política e nas instituições.
O terceiro suposto fator de instabilidade é, na opinião de parte das personalidades consultadas pela ONU, o poder exercido pelos meios de comunicação. Reconhece-se que contribuem com a fiscalização da atividade pública. Mas alega-se que acabam predispondo as sociedades contra seus governantes.

"Mentiras"
O documento da ONU anota os nomes das pessoas consultadas. Mas não individualiza as opiniões de cada uma. Quando cita frases entre aspas, omite o autor. No trecho que trata da imprensa, explica que a atividade jornalística é percebida como risco especialmente pelos políticos.
Natural que os políticos estejam preocupados com a exposição pública. Na pesquisa que ouviu 18.643 pessoas em 18 países, constatou-se que só 14% das pessoas confiam em partidos partidos políticos. Para 96% dos entrevistados, os governantes eleitos não cumprem as promessas de campanha. A grossa maioria (64,6%) acha que resultam de "mentiras" contadas apenas para ganhar a eleição. (JS)


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