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Democracia é "projeto inacabado" na
América Latina, diz elite regional
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ouvidos por estudiosos da
ONU, 231 personalidades da
América Latina puseram-se de
acordo em relação a dois pontos:
1) nunca houve tanta liberdade
política no continente; 2) a democracia na região é um "projeto
inacabado".
Manifestaram-se políticos, empresários, religiosos, funcionários
públicos e jornalistas. Há na lista
41 nomes de ocupantes ou ex-ocupantes das cadeiras de presidente e vice-presidente. Fernando
Henrique Cardoso é um deles.
Foram ouvidos entre julho de
2002 e junho de 2003. Filtrando os
raciocínios colecionados, os autores do estudo identificaram três
elementos que, na opinião dos entrevistados, constituem riscos à
democracia.
O primeiro: assédio do mundo
privado ao Estado. Manifesta-se
por meio de lobbies. Às vezes, recorre à "compra de votos". Pode
"fabricar" candidatos.
A pressão vem também de fora.
É balizada pelo humor dos mercados, sobretudo o financeiro.
Instaladas nos países latino-americanos, empresas estrangeiras
exercem influência exagerada.
O segundo: a desenvoltura do
narcotráfico. Além de ser um desafio interno, atrai a atenção dos
EUA, "gerando novas formas de
pressão externa que limitam ainda mais a esfera de ação dos governos".O "dinheiro sujo" se infiltra, de resto, na política e nas instituições.
O terceiro suposto fator de instabilidade é, na opinião de parte
das personalidades consultadas
pela ONU, o poder exercido pelos
meios de comunicação. Reconhece-se que contribuem com a fiscalização da atividade pública. Mas
alega-se que acabam predispondo
as sociedades contra seus governantes.
"Mentiras"
O documento da ONU anota os
nomes das pessoas consultadas.
Mas não individualiza as opiniões
de cada uma. Quando cita frases
entre aspas, omite o autor. No trecho que trata da imprensa, explica
que a atividade jornalística é percebida como risco especialmente
pelos políticos.
Natural que os políticos estejam
preocupados com a exposição
pública. Na pesquisa que ouviu
18.643 pessoas em 18 países, constatou-se que só 14% das pessoas
confiam em partidos partidos políticos. Para 96% dos entrevistados, os governantes eleitos não
cumprem as promessas de campanha. A grossa maioria (64,6%)
acha que resultam de "mentiras"
contadas apenas para ganhar a
eleição.
(JS)
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