São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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AMÉRICA DO SUL

Juiz pede captura internacional do ex-presidente; do Chile, ele nega acusação de envolvimento com corrupção

Justiça argentina ordena prisão de Menem

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O juiz federal argentino Jorge Urso ordenou ontem a captura internacional do ex-presidente Carlos Menem (1989-99) e determinou que a Chancelaria argentina inicie o processo de sua extradição do Chile, onde mora.
A ordem foi dada depois que Menem faltou, pela quarta vez, a uma audiência na Justiça argentina. O ex-presidente seria interrogado em causa que investiga o superfaturamento na construção das penitenciárias de Ezeiza e de Marcos Paz, na Província de Buenos Aires, na qual Menem está imputado por suposta fraude fiscal.
O valor do superfaturamento está estimado em 60 milhões de pesos (mesmo valor em dólares na época). São previstas para esse crime a pena mínima de seis meses e a máxima de seis anos. A ordem do juiz é que a Interpol (polícia internacional) detenha Menem em sua casa no bairro Las Condes, em Santiago do Chile, até que saia a ordem de extradição.
A Argentina tem dois acordos de extradição firmados com o Chile, de 1891 e 1933. No entanto, de acordo com o diário "Clarín", o Chile somente aceita pedidos em casos de penas superiores a três anos.
Ontem pela manhã, antes do horário previsto para a audiência, o advogado de defesa de Menem, Luis Paglietti, apresentou um documento pedindo o afastamento de Urso, acusando-o de "parcialidade", "inimizade manifesta" e "falta de capacidade" para conduzir o processo. Porém o documento, que pedia ainda o adiamento da audiência, foi rejeitado.

Investigações
No ano passado, Menem se retirou do segundo turno das eleições quando as pesquisas indicavam sua derrota pelo atual presidente, Néstor Kirchner. O ex-presidente vive no Chile com sua mulher, a chilena Cecilia Bolocco, e com seu filho de cinco meses, Máximo Saúl, e vinha tentando obter um visto de residência no país.
Com um governo marcado por escândalos de corrupção, Menem enfrenta uma série de processos judiciais dentro e fora da Argentina. A principal acusação que pesa contra ele é a de ter omitido a suposta existência de contas bancárias na Suíça, em que estariam depositados US$ 600 milhões.
Naquele país, o ex-presidente é investigado pela existência de contas bancárias com recursos procedentes de operações ilegais, como lavagem de dinheiro e corrupção.
Em 2001, o mesmo juiz Jorge Urso determinou a prisão domiciliar do ex-presidente, acusado de liderar uma rede ilegal de contrabando de armas para o Equador e para a Croácia entre 1991 e 1995. Depois de seis meses, foi liberado pela Suprema Corte, que alegou falta de provas.
No último domingo, Menem disse que não pretende voltar à Argentina porque teme passar o restante de sua vida "na cadeia". "Não quero correr o risco de receber uma sentença tendenciosa de um juiz. Já fui preso três vezes", disse Menem. Este chegou a cumprir prisão domiciliar por cinco meses em 2001.


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