São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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IRAQUE SOB TUTELA

Decisão retira principal ponto de impasse para formação de governo; coalizão xiita deve indicar novo nome

Pressionado pelos EUA, premiê do Iraque sai

DA REDAÇÃO

Em uma reviravolta inesperada e sob intensa pressão dos EUA, o premiê do Iraque, Ibrahim al Jaafari, abriu caminho para que sua coalizão retirasse sua indicação para um novo mandato. A iniciativa pode pôr fim a meses de impasse na formação do novo governo iraquiano.
Após o anúncio, uma sessão do Parlamento que estava prevista para ontem foi adiada para amanhã, com o objetivo de dar tempo à coalizão xiita Aliança Unificada Iraquiana, de Jaafari, para indicar novo candidato ao posto.
Hussein al Shahristani, membro da Aliança, disse que o grupo decidiria a questão em uma votação interna "muito em breve".
Ao sinalizar sua retirada, Jaafari abre a possibilidade de solução para um dos principais pontos de impasses na formação do governo iraquiano.
Com as eleições parlamentares de dezembro, a Aliança se tornou o maior bloco parlamentar, com 130 das 275 vagas.
Isso deu direito à coalizão composta por sete partidos de nomear o premiê, cuja indicação está sujeita à aprovação do Parlamento. No entanto, os xiitas não têm votos suficientes para aprovar seu candidato sem o apoio dos partidos árabes sunitas e curdos.
Esses partidos, além de xiitas seculares, fazem forte oposição à eleição de Jaafari, a quem consideram um líder fraco por não conseguir conter a insurgência e a quem acusam de estimular conflitos sectários entre sunitas e xiitas.
Os árabes sunitas correspondem a 20% da população iraquiana, mas dominaram o país durante o regime do ditador Saddam Hussein. Os árabes xiitas são majoritários (60%). Já os curdos, que também são sunitas, respondem por 15% da população.
Até ontem, Jaafari se recusava a abrir mão do cargo de premiê. Na última quarta-feira, ele havia dito que uma desistência estava "fora de questão".
A retirada abre ainda caminho para o preenchimento de outros postos-chave no governo, incluindo os de presidente, vice-presidentes (dois) e porta-voz do Parlamento.

"Boas notícias"
"Estamos próximos de alcançar o pacote inteiro", disse o presidente Jalal Talabani, um curdo, sobre o preenchimento dos cargos. "Teremos boas notícias no sábado, notícias que irão agradar o povo iraquiano."
"Tenho confiança em que conseguiremos formar um governo de unidade nacional por que todos os iraquianos estão esperando", disse o porta-voz do Parlamento, Adnan Pachachi.
Na carta que divulgou pela manhã, Jaafari afirmou que deixaria o cargo caso as lideranças xiitas considerassem "apropriado" indicar outro candidato.
"A única coisa em que não posso ceder é minha dedicação a esse povo heróico", disse o premiê em discurso transmitido pela TV, à noite. "Não posso me permitir ser um obstáculo, ou parecer ser um obstáculo a isso. Quero estar certo do caminho para a aliança, que representa o desejo do povo."
O premiê disse ainda que concorda que haja nova votação para que os xiitas "pensem com completa liberdade e vejam o que desejam fazer". Jaafari foi escolhido há dois meses com a diferença de apenas um voto, com o apoio do clérigo radical Muqtada al Sadr.
Dois possíveis novos indicados são Jawad al Maliki e Ali Al Addeb, ambos altos membros do partido Dawa, de Jaafari, mas pouco conhecidos popularmente.
A formação de um governo de unidade nacional foi alvo de forte pressão dos EUA e do Reino Unido, desejosos de mostrar progressos políticos a eleitorados cada vez mais céticos sobre a Guerra do Iraque.
Ontem, em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse haver "indicações" de que o impasse seria resolvido.
Desde 15 de dezembro, o Parlamento se reuniu apenas uma vez, em 16 de março, para dar posse aos novos membros.
Em meio ao impasse político, houve uma escalada de violência sectária desde fevereiro, quando a explosão de um templo xiita em Samarra provocou ataques de retaliação contra mesquitas e clérigos sunitas. Ontem, ao menos nove pessoas foram mortas em distintos incidentes no Iraque.


Com agências internacionais

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