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IRAQUE SOB TUTELA
Decisão retira principal ponto de impasse para formação de governo; coalizão xiita deve indicar novo nome
Pressionado pelos EUA, premiê do Iraque sai
DA REDAÇÃO
Em uma reviravolta inesperada
e sob intensa pressão dos EUA, o
premiê do Iraque, Ibrahim al Jaafari, abriu caminho para que sua
coalizão retirasse sua indicação
para um novo mandato. A iniciativa pode pôr fim a meses de impasse na formação do novo governo iraquiano.
Após o anúncio, uma sessão do
Parlamento que estava prevista
para ontem foi adiada para amanhã, com o objetivo de dar tempo
à coalizão xiita Aliança Unificada
Iraquiana, de Jaafari, para indicar
novo candidato ao posto.
Hussein al Shahristani, membro da Aliança, disse que o grupo
decidiria a questão em uma votação interna "muito em breve".
Ao sinalizar sua retirada, Jaafari
abre a possibilidade de solução
para um dos principais pontos de
impasses na formação do governo iraquiano.
Com as eleições parlamentares
de dezembro, a Aliança se tornou
o maior bloco parlamentar, com
130 das 275 vagas.
Isso deu direito à coalizão composta por sete partidos de nomear
o premiê, cuja indicação está sujeita à aprovação do Parlamento.
No entanto, os xiitas não têm votos suficientes para aprovar seu
candidato sem o apoio dos partidos árabes sunitas e curdos.
Esses partidos, além de xiitas seculares, fazem forte oposição à
eleição de Jaafari, a quem consideram um líder fraco por não
conseguir conter a insurgência e a
quem acusam de estimular conflitos sectários entre sunitas e xiitas.
Os árabes sunitas correspondem a 20% da população iraquiana, mas dominaram o país durante o regime do ditador Saddam
Hussein. Os árabes xiitas são majoritários (60%). Já os curdos, que
também são sunitas, respondem
por 15% da população.
Até ontem, Jaafari se recusava a
abrir mão do cargo de premiê. Na
última quarta-feira, ele havia dito
que uma desistência estava "fora
de questão".
A retirada abre ainda caminho
para o preenchimento de outros
postos-chave no governo, incluindo os de presidente, vice-presidentes (dois) e porta-voz do
Parlamento.
"Boas notícias"
"Estamos próximos de alcançar
o pacote inteiro", disse o presidente Jalal Talabani, um curdo,
sobre o preenchimento dos cargos. "Teremos boas notícias no
sábado, notícias que irão agradar
o povo iraquiano."
"Tenho confiança em que conseguiremos formar um governo
de unidade nacional por que todos os iraquianos estão esperando", disse o porta-voz do Parlamento, Adnan Pachachi.
Na carta que divulgou pela manhã, Jaafari afirmou que deixaria
o cargo caso as lideranças xiitas
considerassem "apropriado" indicar outro candidato.
"A única coisa em que não posso ceder é minha dedicação a esse
povo heróico", disse o premiê em
discurso transmitido pela TV, à
noite. "Não posso me permitir ser
um obstáculo, ou parecer ser um
obstáculo a isso. Quero estar certo
do caminho para a aliança, que
representa o desejo do povo."
O premiê disse ainda que concorda que haja nova votação para
que os xiitas "pensem com completa liberdade e vejam o que desejam fazer". Jaafari foi escolhido
há dois meses com a diferença de
apenas um voto, com o apoio do
clérigo radical Muqtada al Sadr.
Dois possíveis novos indicados
são Jawad al Maliki e Ali Al Addeb, ambos altos membros do
partido Dawa, de Jaafari, mas
pouco conhecidos popularmente.
A formação de um governo de
unidade nacional foi alvo de forte
pressão dos EUA e do Reino Unido, desejosos de mostrar progressos políticos a eleitorados cada
vez mais céticos sobre a Guerra do
Iraque.
Ontem, em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse haver
"indicações" de que o impasse seria resolvido.
Desde 15 de dezembro, o Parlamento se reuniu apenas uma vez,
em 16 de março, para dar posse
aos novos membros.
Em meio ao impasse político,
houve uma escalada de violência
sectária desde fevereiro, quando a
explosão de um templo xiita em
Samarra provocou ataques de retaliação contra mesquitas e clérigos sunitas. Ontem, ao menos nove pessoas foram mortas em distintos incidentes no Iraque.
Com agências internacionais
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