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DIPLOMACIA
Em sua 1ª visita à Casa Branca, líder chinês defende diplomacia para resolver impasse com Irã e Coréia do Norte
Tema nuclear domina encontro Bush-Hu
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
No primeiro encontro na Casa
Branca entre os presidentes da
China, Hu Jintao, e dos EUA,
George W. Bush, os líderes das
duas principais potências mundiais atuais concordaram educada, mas firmemente, em discordar. Ambos mostraram preocupação com o programa nuclear
iraniano e da Coréia do Norte,
mas apenas o chinês citou a via da
"negociação diplomática".
"Nós pretendemos aprofundar
nossa colaboração ao lidar com
ameaças à segurança global, incluindo as ambições nucleares do
Irã", disse Bush. Já Hu afirmou
que a China está pronta para trabalhar ao lado dos EUA "e de outros países que estejam preocupados em solucionar pacificamente
as questões nucleares na Coréia
do Norte e no Irã pelas vias da negociação diplomática".
Em entrevista na segunda-feira,
Bush não havia descartado a intervenção militar como uma maneira de impedir a produção de
armas nucleares pelo Irã, que é
um dos principais fornecedores
de petróleo da China.
A situação de Taiwan, outra
questão delicada para a China,
também foi tema de discussão.
"Nós somos contrários a mudanças unilaterais na situação atual"
do território chinês que busca a
independência, disse Bush. "Pedimos que as partes envolvidas evitem atos de confrontação ou provocação." De novo, o chinês discordou. O território, disse Hu, "é
parte inalienável do território chinês. Nós nunca permitiremos que
se separe, seja pelo meio que for".
Bush tocou ainda na delicada
questão do respeito aos direitos
humanos de seu parceiro comercial. "Conforme o relacionamento entre nossas duas nações amadurece, nós podemos ser mais diretos sobre o que não concordamos. Continuarei a discutir com o
presidente Hu sobre a importância do respeito aos direitos humanos e à liberdade do povo chinês."
Com um timing histórico que não
poderia ser mais adequado, durante a entrevista dos dois líderes,
uma ativista do movimento religioso Falun Gong conseguiu protestar e gritar palavras de ordem
contra o chinês.
No encontro, segundo o relato
posterior dos dois líderes, foram
discutidas ainda outras questões
internacionais, como o estreitamento da colaboração sino-americana nas questões de segurança
mundial e contra a proliferação
de armas de destruição de massa
("a prosperidade depende da segurança", disse Bush), a situação
em Darfur, no Sudão, que Bush
chamou de "genocídio", e até a
epidemia de gripe aviária.
Depois, Bush diria aos repórteres presentes na Casa Branca:
"Nós não concordamos com tudo, mas somos capazes de discutir
sobre nossas diferenças de maneira amigável e cooperativa."
A visita de Hu, a primeira como
presidente, não foi livre de incidentes e mal-entendidos. Além da
manifestante, houve uma gafe
protocolar: o hino nacional chinês foi anunciado como da "República da China", nome de Taiwan, em vez de República Popular da China, nome do país. Além
disso, para a Casa Branca, o evento é uma visita oficial; para Pequim, uma visita de Estado.
Starbucks
A economia não poderia ter sido deixada de fora num périplo
que começou não em Washington, a capital do país, mas no Estado de Washington, anteontem,
sede da fábrica da Boeing e da casa do bilionário da informática
Bill Gates, que recebeu Hu num
jantar ao qual compareceram, entre outros, o presidente da rede de
cafeterias (e símbolo da globalização) Starbucks.
Ontem, a cotação da moeda chinesa, considerada pelos EUA como aquém de seu valor real, veio à
tona. Bush disse esperar "maior valorização" do
yuan, que oscila em uma margem
estreita, mantém artificialmente
baixos os preços das exportações
chinesas e contribui para o forte
déficit comercial dos EUA com a
China, de US$ 202 bilhões. "O governo chinês encara a questão da
moeda muito seriamente, e eu
também", disse Bush.
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