São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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Brasil incentiva Cuba, mas faz ressalvas

Governo Dilma louva reformas anunciadas e oferece ajuda, mas diz haver "caminho a percorrer" em liberdades

Havana deseja elevar linha de crédito para financiar importações, que atualmente é de US$ 400 milhões

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O Brasil vê com satisfação as reformas econômicas em Cuba e se dispõe a ajudar no que for necessário em sua implementação, inclusive com assessoria técnica. Mas não desconhece que em termos de liberdades públicas a ilha tem "caminho a percorrer".
A avaliação é do chanceler brasileiro, Antonio Patriota, transmitida à Folha por meio do porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes.
Com a oferta de ajuda técnica e o desejo de ampliar a parceria econômica, o governo Dilma Rousseff segue o caminho traçado pela gestão anterior: a ilha comunista é considerada um parceiro privilegiado no Caribe e, a longo prazo, pode se converter num entreposto estratégico para o comércio brasileiro.
Já a menção aos problemas de direitos humanos -ainda que com a ressalva de que as falhas no setor existem em todos os países, Brasil incluído- marca uma diferença de tom em relação à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva ao tocar em um tema incômodo para os Castro.
Lula deve voltar à ilha em breve -provavelmente antes da primeira visita de Dilma, que ainda não está em pauta.
Um diplomata que acompanha de perto da relação bilateral resume: não haverá desengajamento, mas calibragem de estilo.
Em setembro passado, o então presidente Lula ofereceu ajuda ao governo cubano na implementação das reformas econômicas. Dois meses depois, uma comissão de 30 pessoas que incluía integrantes de vários ministérios, além da Caixa Econômica e do Sebrae, desembarcou na ilha. E a expectativa é que as conversas sejam retomadas.

PORTO E CRÉDITO
No horizonte imediato, Cuba está interessada em aumentar a linha de crédito estabelecida com o Brasil para financiar importações, hoje em US$ 400 milhões.
O desejo de Havana é ampliá-la em ao menos US$ 60 milhões, num momento em que a ilha se debate com problemas de liquidez e se prevê alta mundial de alimentos.
Cuba traz do exterior 80% da comida que consome e deverá gastar 25% a mais em importação em 2011.
Havana espera ainda negociar com o Brasil a ampliação de outro financiamento estratégico: para a construção do complexo do Porto de Mariel, a 50 km de Havana.
O porto está sendo construído pela brasileira Odebrecht e têm aprovados US$ 300 milhões. Outros US$ 150 milhões estão em fase de aprovação, e podem ser liberados mais US$ 230 milhões.
A obra é uma das apostas do governo cubano. O Ministério da Defesa, que na prática comanda grande parcela do relacionamento com credores estrangeiros, preparou vídeo promocional do porto.
A mensagem é de que Mariel -mesmo com o embargo imposto pelos EUA- pode se transformar num entreposto comercial importante no Caribe. O porto será operado por empresa de Cingapura.
A ampliação também liberará o porto de Havana para incrementar o turismo, como o recebimento de cruzeiros.


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