São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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ANÁLISE

"Missões técnicas" são a porta de entrada para ocupações

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

Em 1975, Cuba enviou dez "conselheiros" para ajudar o precário Exército marxista que tentava se manter no comando da Angola recém-independente. Cinco anos depois, já eram 30 mil.
Em 2006, tropas etíopes entraram na Somália também com o pretexto de dar assistência militar ao frágil governo local. Ainda estão lá, protagonistas da guerra civil do país do leste africano.
E há o mais famoso exemplo de todos, os "ajudantes militares" americanos ao então Vietnã do sul na primeira metade da década de 60, precursores do longo envolvimento dos EUA no conflito.
Como a história mostra, há um cheiro de esperteza na súbita conclusão a que chegaram Reino Unido, França e Itália de que os rebeldes líbios precisam de ajuda rapidamente.
Missões técnicas podem muito bem ser apenas a porta de entrada para a ocupação de um território em conflito.
No caso líbio, foi a forma que a coalizão que bombardeia o ditador Muammar Gaddafi encontrou de contornar a explícita proibição do Conselho de Segurança da ONU de envio de tropas terrestres.
Degrau a degrau, os aliados, sobretudo europeus, vão se afastando do texto original que autorizou os ataques. Enfatizam o trecho que fala da "proteção aos civis" como objetivo a ser atingido a qualquer custo.
Não há mais vergonha em defender a queda de Gaddafi, o envio de armas para rebeldes e, agora, de tropas.
Os tais conselheiros militares parecem muito mais uma forma de acostumar as pessoas à ideia de uma invasão em larga escala. Difícil supor que estejam ali apenas para dar aulas de tiro.


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