São Paulo, terça-feira, 21 de maio de 2002

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AMÉRICA LATINA

Exército, Marinha e Aeronáutica patrulham divisa na Amazônia na semana que antecede eleição colombiana

Brasil mobiliza militares perto da Colômbia

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

De olho no transbordamento do conflito da Colômbia, as Forças Armadas do Brasil realizam nesta semana a maior operação militar conjunta de Exército, Marinha e Aeronáutica na região da fronteira com o país vizinho.
A área coberta, de floresta amazônica, é de 252 mil km2, pouco superior ao tamanho do Estado de São Paulo. A tropa de 4.000 soldados está dividida em bases terrestres e navais entre os municípios de Tefé, Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira, no oeste do Amazonas. Com aviões, helicópteros e lanchas, os soldados patrulharão ostensivamente a região até sábado -um dia antes da eleição presidencial na Colômbia.
Os militares negam relação entre a ação e o pleito, mas a Agência Folha apurou que a preocupação existe, em especial pelo acirramento das ações do governo de Andrés Pastrana contra guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Desde fevereiro o conflito se intensificou com a quebra dos acordos entre governo e guerrilha. O governo passou a atacar as Farc -o grupo deixou a zona desmilitarizada que ocupava e foi ao revide, reacendendo a guerra no país.
Além disso, narcotraficantes vêm aumentando sua ação na fronteira. Um dos objetivos da ação, chamada Operação Tapuru, é justamente localizar e destruir pistas clandestinas de traficantes.
A operação começou a ser planejada em dezembro. Seus objetivos são testar procedimentos de comando, apoio logístico e de comunicações empregados pelas três Forças em caso de emergência de segurança nacional.
O coordenador do Comando Combinado Amazônia, general Hedel Fayad, nega influência da situação da Colômbia na realização da manobra. "Não há relação nem com as eleições nem tampouco com problemas do governo colombiano com as Farc."
Os soldados da Operação Tapuru estão habilitados a enfrentar invasores no território brasileiro. Pelo menos foi a mensagem que o Ministério da Defesa passou à população do Amazonas em comunicado, em forma de quadrinhos, anteontem nos jornais locais.
Durante a operação, a Polícia Federal será acionada para intervir, caso soldados prendam traficantes. A Receita Federal e o Ibama também apóiam a manobra.
Os últimos incidentes na fronteira do Brasil com a Colômbia apontam que os guerrilheiros da Farc fazem incursões no país. Em março, um grupo de 197 índios buscou refúgio numa base em Vila Bittencourt após ser ameaçado por guerrilheiros.
Em fevereiro, soldados brasileiros trocaram tiros com cinco ocupantes de uma embarcação suspeita no rio Apoporis. O barco afundou, e nenhum dos seus ocupantes foi localizado.
O conflito da Colômbia já causou mal-entendido diplomático entre os países, em 98, quando militares do país vizinho usaram uma pista de pouso de Querari, na região da Cabeça do Cachorro (AM), sem permissão brasileira.
O incidente mais grave aconteceu em 1991. Forças das Farc atacaram um destacamento do Exército brasileiro no rio Traíra, matando três soldados e deixando nove feridos. Sete colombianos morreram.



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