São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Turistas são colocados em "bolha" para não terem contato com violência de país da Copa

RICARDO PERRONE
ENVIADO ESPECIAL A ÁFRICA DO SUL

Os estarrecedores conflitos causados pela xenofobia na África do Sul só não são ignorados completamente pelos turistas que freqüentam as principais cidades do país atualmente graças aos jornais locais.
Primeiro porque hotéis e agências de turismo esforçam-se para construir uma bolha de proteção aos visitantes. Não querem que, na reta final de preparação para a Copa do Mundo 2010, a imagem do país seja arranhada. E também porque os bairros onde acontece a onda de crimes contra estrangeiros não estão nos principais roteiros turísticos.
Apesar do isolamento, basta conversar com os moradores locais para notar que o país é um barril de pólvora, por causa do racismo e da criminalidade gerada pelo desemprego.
Em Durban, uma das cidades mais violentas, funcionários de hotéis chegam a segurar pelo braço turistas que tentam caminhar pela praia à noite.
"Não interessa se você tem dinheiro. O problema é a sua cor, se você não tiver nada para roubar, eles vão te matar porque você é branco", ouvi do porteiro do hotel.
Com os turistas, os sul-africanos não dão sinais de xenofobia. O problema é mesmo com quem se estabelece no país para trabalhar, principalmente os que chegam de outros países da África. A crise desmonta a propaganda dos organizadores do Mundial de que o evento vai unir todos os povos africanos.
A falta de emprego dificulta a convivência entre brancos e negros. Os brancos afirmam que, depois de assumirem os principais postos do governo com o fim do apartheid, os negros não lhe dão empregos. Já os negros dizem que sempre conviveram com a criminalidade, mas que os brancos só se deram conta agora porque passaram a ser vítimas da violência.
Em dez dias de viagem, saí algumas vezes do roteiro turístico, mas fui assaltado justamente enquanto fazia programa recomendado no hotel em que fiquei na Cidade do Cabo.
Caminhava perto do píer da cidade, por volta das duas da tarde. Dois jovens aproximam-se e pedem dinheiro. Digo em que não falo inglês. Irritado, um deles responde: "Temos uma faca e não queríamos usá-la. Mostre logo o dinheiro".
Mudo de estratégia e negocio com a dupla. Digo que só tenho o equivalente a menos de R$ 35 e peço para ficar com a metade para pagar um táxi. O garoto com a faca pede para eu segui-lo. Vai trocar a nota e me dar a metade. Desisto, dou o dinheiro e deixo os dois seguirem.


O jornalista RICARDO PERRONE viajou a convite do South African Tourism e da South African Airways

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