São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2010

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Após conflitos, Bancoc vive tensa calma

Com toque de recolher e os principais líderes opositores na cadeia, "camisas vermelhas" deixam a capital tailandesa rumo ao norte

Violência deixou 39 prédios incendiados ou danificados, entre os quais a Bolsa e o Central World, o 2º maior shopping center da Ásia


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BANCOC

Ainda sob toque de recolher, as ruas de Bancoc amanheceram mais calmas ontem, um dia depois de uma ofensiva militar contra manifestantes oposicionistas ter deixado dezenas de edifícios da cidade em chamas e ao menos 15 mortos, num dos episódios mais violentos da história recente do país.
Com todos os principais líderes na cadeia e pressionados pela polícia, vários "camisas vermelhas", como os oposicionistas são conhecidos, deixaram a capital, principalmente rumo a regiões rurais do norte e do noroeste do país.
Alguns incidentes menores foram registrados ontem, segundo o jornal "Bangkok Post".
No maior deles, cerca de cem manifestantes cercaram um grupo de policiais, mas não houve confronto.
Nada que se compare à véspera, quando houve embates entre militares e "camisas vermelhas", que exigem a saída do premiê Abhisit Vejjajiva.
Com mais seis corpos descobertos ontem, o número de mortos já chega a ao menos 15.
A violência deixou 39 prédios incendiados ou danificados, entre os quais a Bolsa e o Central World, o segundo maior shopping center da Ásia e um símbolo de Bancoc.
Esses ataques foram atribuídos aos "camisas vermelhas", enquanto fugiam dos militares.
Há poucas informações sobre a situação no interior do país, onde os "camisas vermelhas" têm mais presença.
Entre os incidentes confirmados, manifestantes oposicionistas queimaram a Prefeitura de Udon Thani (nordeste).
Junto com o toque de recolher, o governo tailandês censurou as TVs do país, que ontem só transmitiram programas aprovados previamente.
A Folha chegou a Bancoc na noite de ontem, quando a cidade já estava sob toque de recolher entre as 21h e as 5h.
A medida, que voltou a ser usada após hiato de 15 anos e permanece ao menos até amanhã, vale para a capital e para 23 das 76 Províncias.
Estrangeiros com passaporte em mãos têm permissão para circular à noite, num aparente esforço do governo para minimizar o impacto da crise no turismo, setor responsável por 6% do PIB e que emprega 15% da mão de obra do país.

Mais polarização
Apesar de Abhisit ter prometido "devolver a paz e ordem ao país mais uma vez", porta-vozes do governo e da oposição reconhecem que a crise está longe do fim e que o confronto de anteontem tende a polarizar ainda mais a Tailândia.
"Ontem [anteontem] foi o dia mais trágico da história tailandesa que eu me lembre. Ninguém ganhou nada. Ninguém venceu. O país perdeu", disse o senador governista Anusart Suwanmongkol, ao jornal "New York Times".
A crise tem origem em 2006, quando o então premiê Thaksin Shinawatra foi deposto. Em exílio voluntário, ele foi ainda condenado a dois anos de cadeia por corrupção.
Bilionário das telecomunicações, Thaksin é bastante popular entre os camponeses pobres do país, principalmente por ter adotado medidas como assistência médica barata.
Mesmo fora do país, suas declarações mantêm enorme peso na política tailandesa.
Os camponeses são o principal motor dos "camisas vermelhas", que reúnem ainda intelectuais e militantes esquerdistas simpatizante de Thaksin.
Desde o início de março, eles haviam montado um acampamento no movimento distrito comercial de Bancoc, forçando lojas a fecharem.
Exigiam a deposição de Abhisit, considerado ilegítimo por ter chegado ao governo via pacto parlamentar, e não pelo voto.
A tensão aumentou ainda mais após o atentado contra o general rebelde Khattiya Sawatdiphol -baleado no dia 13, morreu dias depois, enfurecendo os "camisas vermelhas".
Mais de 80 pessoas morreram em choques politicamente motivados nos últimos 60 dias.
Já os prejuízos econômicos ainda estão sendo calculados.
Só no setor de turismo, o governo estima que 2,5 milhões de estrangeiros deixarão de visitar o país neste ano.

Com agências internacionais



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