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Após conflitos, Bancoc vive tensa calma
Com toque de recolher e os principais líderes opositores na cadeia, "camisas vermelhas" deixam a capital tailandesa rumo ao norte
Violência deixou 39 prédios incendiados ou danificados, entre os quais a Bolsa e o Central World, o 2º maior shopping center da Ásia
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BANCOC
Ainda sob toque de recolher,
as ruas de Bancoc amanheceram mais calmas ontem, um dia
depois de uma ofensiva militar
contra manifestantes oposicionistas ter deixado dezenas de
edifícios da cidade em chamas e
ao menos 15 mortos, num dos
episódios mais violentos da história recente do país.
Com todos os principais líderes na cadeia e pressionados
pela polícia, vários "camisas
vermelhas", como os oposicionistas são conhecidos, deixaram a capital, principalmente
rumo a regiões rurais do norte e
do noroeste do país.
Alguns incidentes menores
foram registrados ontem, segundo o jornal "Bangkok Post".
No maior deles, cerca de cem
manifestantes cercaram um
grupo de policiais, mas não
houve confronto.
Nada que se compare à véspera, quando houve embates
entre militares e "camisas vermelhas", que exigem a saída do
premiê Abhisit Vejjajiva.
Com mais seis corpos descobertos ontem, o número de
mortos já chega a ao menos 15.
A violência deixou 39 prédios
incendiados ou danificados,
entre os quais a Bolsa e o Central World, o segundo maior
shopping center da Ásia e um
símbolo de Bancoc.
Esses ataques foram atribuídos aos "camisas vermelhas",
enquanto fugiam dos militares.
Há poucas informações sobre a situação no interior do
país, onde os "camisas vermelhas" têm mais presença.
Entre os incidentes confirmados, manifestantes oposicionistas queimaram a Prefeitura de Udon Thani (nordeste).
Junto com o toque de recolher, o governo tailandês censurou as TVs do país, que ontem só transmitiram programas aprovados previamente.
A Folha chegou a Bancoc na
noite de ontem, quando a cidade já estava sob toque de recolher entre as 21h e as 5h.
A medida, que voltou a ser
usada após hiato de 15 anos e
permanece ao menos até amanhã, vale para a capital e para
23 das 76 Províncias.
Estrangeiros com passaporte
em mãos têm permissão para
circular à noite, num aparente
esforço do governo para minimizar o impacto da crise no turismo, setor responsável por
6% do PIB e que emprega 15%
da mão de obra do país.
Mais polarização
Apesar de Abhisit ter prometido "devolver a paz e ordem ao
país mais uma vez", porta-vozes do governo e da oposição
reconhecem que a crise está
longe do fim e que o confronto
de anteontem tende a polarizar
ainda mais a Tailândia.
"Ontem [anteontem] foi o
dia mais trágico da história tailandesa que eu me lembre. Ninguém ganhou nada. Ninguém
venceu. O país perdeu", disse o
senador governista Anusart
Suwanmongkol, ao jornal
"New York Times".
A crise tem origem em 2006,
quando o então premiê Thaksin Shinawatra foi deposto. Em
exílio voluntário, ele foi ainda
condenado a dois anos de cadeia por corrupção.
Bilionário das telecomunicações, Thaksin é bastante popular entre os camponeses pobres
do país, principalmente por ter
adotado medidas como assistência médica barata.
Mesmo fora do país, suas declarações mantêm enorme peso na política tailandesa.
Os camponeses são o principal motor dos "camisas vermelhas", que reúnem ainda intelectuais e militantes esquerdistas simpatizante de Thaksin.
Desde o início de março, eles
haviam montado um acampamento no movimento distrito
comercial de Bancoc, forçando
lojas a fecharem.
Exigiam a deposição de Abhisit, considerado ilegítimo por
ter chegado ao governo via pacto parlamentar, e não pelo voto.
A tensão aumentou ainda
mais após o atentado contra o
general rebelde Khattiya Sawatdiphol -baleado no dia 13,
morreu dias depois, enfurecendo os "camisas vermelhas".
Mais de 80 pessoas morreram em choques politicamente
motivados nos últimos 60 dias.
Já os prejuízos econômicos
ainda estão sendo calculados.
Só no setor de turismo, o governo estima que 2,5 milhões
de estrangeiros deixarão de visitar o país neste ano.
Com agências internacionais
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