São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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Premiê polonês alfineta Alemanha na UE

Em disputa sobre votações no bloco, Kaczynski cita mortes na Segunda Guerra para dizer que Polônia deveria ter mais peso

Conferência de governantes europeus discute a partir de hoje tratado de regras do bloco; Varsóvia e Londres são os principais entraves

GEORGE PARKER
DO "FINANCIAL TIMES", EM BRUXELAS

Em sua disputa com a Alemanha sobre o peso demográfico que determinará o voto de cada país nas deliberações internas da União Européia, o primeiro-ministro polonês, Jaroslaw Kaczynski, disse que a Polônia teria hoje 66 milhões de habitantes (em lugar de 38 milhões) caso sua população não tivesse sido drasticamente reduzida na Segunda Guerra (1939-45).
"Estamos apenas querendo que nos dêem de volta aquilo que nos tiraram", afirmou.
A evocação dos mortos pelo nazismo, feita a uma emissora de rádio de Varsóvia, reflete de modo inamistoso a intransigência que poderá determinar o fracasso da conferência de governantes da UE, que entre hoje e amanhã deve aprovar, em Bruxelas, um tratado para regulamentar o funcionamento do bloco de 27 países.
Kaczynski disse ainda que lamentava não poder comparecer ao encontro -a delegação polonesa será chefiada pelo seu irmão gêmeo, o presidente Lech Kaczynski-, só para ter o prazer de opor um veto à proposta de Berlim.

Opções na mesa
Pelo projeto de tratado que a Alemanha negociou e que é apoiado por todos os Estados-membros, exceto Polônia e em menor medida a República Tcheca, as decisões internas continuariam a ser votadas segundo um sistema em que cada país tem um peso. A aprovação dependeria de uma "dupla maioria": 55% dos países, desde que eles representem 65% da população da UE.
A Polônia queria até ontem de manhã, em encontro preparatório, que fosse levado em conta apenas o peso demográfico, para teoricamente impedir que os países maiores possam deliberar contra os interesses dos países menores.
Ontem à noite sua delegação dava a entender que poderia aderir ao mecanismo de "dupla maioria", desde que ele fosse modificado para satisfazer sua exigência. Mas assessores da chanceler alemã, Angela Merkel, anfitriã da conferência -exerce a presidência rotativa do bloco- não acreditavam que havia ocorrido uma mudança de posição. A Alemanha tem 82 milhões de habitantes.
O premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, disse entender os gêmeos Kaczynski, filhos de um resistente que lutou contra a ocupação alemã. "Mas é preciso dar um salto até os tempos de hoje", afirmou. "Não dá para ficar olhando pelo espelho retrovisor."
Enquanto isso, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, também chega a Bruxelas com as "linhas vermelhas" que não deseja ver ultrapassadas. Em outras palavras, conforme anunciou há dias, o Reino Unido não abdicará de sua soberania em questões como legislação penal ou trabalhista, política externa e seguridade social.
Um porta-voz de Blair disse ontem que ninguém pode se iludir sobre rápidas concessões. Os britânicos são vistos como "eurocéticos" em questões da comunidade.

Blair "presidente"
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, já sugeriu que Blair -que deixa o governo britânico dia 27- se torne o primeiro presidente europeu, caso o posto seja criado em lugar da Presidência rotativa, assegurada a cada seis meses pelo governante de um país-membro.
Mas Blair, ao colocar suas exigências, tem como alvo o público interno, habituado a expressões como "render-se aos poderes de Bruxelas", sede da UE. O premiê disse recentemente que a cada viagem a Bruxelas ele tinha a sensação de que oscilaria entre "o isolamento e a traição".
O tratado a ser agora votado pretende construir "a Europa do século 21", em substituição a um mal-amado projeto de Constituição, que os referendos da França e da Holanda sepultaram há dois anos.
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, afirmou que "uma sombra de fracasso" cairia sobre toda a UE caso a conferência termine de modo inconclusivo. Mostrou-se disposto a uma longa maratona diplomática.


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