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Premiê polonês alfineta Alemanha na UE
Em disputa sobre votações no bloco, Kaczynski cita mortes na Segunda Guerra para dizer que Polônia deveria ter mais peso
Conferência de governantes
europeus discute a partir de hoje tratado de regras do bloco; Varsóvia e Londres são os principais entraves
GEORGE PARKER
DO "FINANCIAL TIMES", EM BRUXELAS
Em sua disputa com a Alemanha sobre o peso demográfico
que determinará o voto de cada
país nas deliberações internas
da União Européia, o primeiro-ministro polonês, Jaroslaw
Kaczynski, disse que a Polônia
teria hoje 66 milhões de habitantes (em lugar de 38 milhões)
caso sua população não tivesse
sido drasticamente reduzida na
Segunda Guerra (1939-45).
"Estamos apenas querendo
que nos dêem de volta aquilo
que nos tiraram", afirmou.
A evocação dos mortos pelo
nazismo, feita a uma emissora
de rádio de Varsóvia, reflete de
modo inamistoso a intransigência que poderá determinar
o fracasso da conferência de governantes da UE, que entre hoje e amanhã deve aprovar, em
Bruxelas, um tratado para regulamentar o funcionamento
do bloco de 27 países.
Kaczynski disse ainda que lamentava não poder comparecer ao encontro -a delegação
polonesa será chefiada pelo seu
irmão gêmeo, o presidente
Lech Kaczynski-, só para ter o
prazer de opor um veto à proposta de Berlim.
Opções na mesa
Pelo projeto de tratado que a
Alemanha negociou e que é
apoiado por todos os Estados-membros, exceto Polônia e em
menor medida a República
Tcheca, as decisões internas
continuariam a ser votadas segundo um sistema em que cada
país tem um peso. A aprovação
dependeria de uma "dupla
maioria": 55% dos países, desde
que eles representem 65% da
população da UE.
A Polônia queria até ontem
de manhã, em encontro preparatório, que fosse levado em
conta apenas o peso demográfico, para teoricamente impedir
que os países maiores possam
deliberar contra os interesses
dos países menores.
Ontem à noite sua delegação
dava a entender que poderia
aderir ao mecanismo de "dupla
maioria", desde que ele fosse
modificado para satisfazer sua
exigência. Mas assessores da
chanceler alemã, Angela Merkel, anfitriã da conferência
-exerce a presidência rotativa
do bloco- não acreditavam que
havia ocorrido uma mudança
de posição. A Alemanha tem 82
milhões de habitantes.
O premiê de Luxemburgo,
Jean-Claude Juncker, disse entender os gêmeos Kaczynski, filhos de um resistente que lutou
contra a ocupação alemã. "Mas
é preciso dar um salto até os
tempos de hoje", afirmou. "Não
dá para ficar olhando pelo espelho retrovisor."
Enquanto isso, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair,
também chega a Bruxelas com
as "linhas vermelhas" que não
deseja ver ultrapassadas. Em
outras palavras, conforme
anunciou há dias, o Reino Unido não abdicará de sua soberania em questões como legislação penal ou trabalhista, política externa e seguridade social.
Um porta-voz de Blair disse
ontem que ninguém pode se
iludir sobre rápidas concessões. Os britânicos são vistos
como "eurocéticos" em questões da comunidade.
Blair "presidente"
O presidente francês, Nicolas
Sarkozy, já sugeriu que Blair
-que deixa o governo britânico
dia 27- se torne o primeiro
presidente europeu, caso o posto seja criado em lugar da Presidência rotativa, assegurada a
cada seis meses pelo governante de um país-membro.
Mas Blair, ao colocar suas
exigências, tem como alvo o público interno, habituado a expressões como "render-se aos
poderes de Bruxelas", sede da
UE. O premiê disse recentemente que a cada viagem a Bruxelas ele tinha a sensação de
que oscilaria entre "o isolamento e a traição".
O tratado a ser agora votado
pretende construir "a Europa
do século 21", em substituição a
um mal-amado projeto de
Constituição, que os referendos da França e da Holanda sepultaram há dois anos.
O presidente da Comissão
Européia, José Manuel Barroso, afirmou que "uma sombra
de fracasso" cairia sobre toda a
UE caso a conferência termine
de modo inconclusivo. Mostrou-se disposto a uma longa
maratona diplomática.
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