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Disputa peruana joga luz sobre índios amazônicos
Até então, voz indígena era representada principalmente por povos da cordilheira
Especialistas enxergam articulação inédita entre populações da selva e da serra; país abriga pelo menos 60 etnias distintas
DA ENVIADA A TARAPOTO, YURIMAGUAS
E BÁGUA GRANDE
O recuo do governo Alan
García no Peru, que cedeu à reivindicação principal do movimento indígena em ser consultado previamente sobre um pacote de leis sobre a Amazônia,
foi uma conquista política importante para os povos nativos
num país que, à diferença dos
vizinhos andinos, não se diz
uma sociedade plurinacional.
Os amazônicos também ganharam espaço político quando
a "voz indígena", em geral, é a
do mestiço camponês de origem quéchua e aymara, da cordilheira dos Andes.
Os indigenistas mais otimistas viram, porém, na manifestação de apoio de grupos andinos à Aidesep (Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana), o embrião
de uma articulação historicamente frágil entre a selva e a
serra, frente à elite da costa representada por Lima.
Em Apurímac, a segunda região (Estado) mais pobre do Peru, na serra andina, o Comitê de
Luta dos Camponeses de Andahuaylas, a capital, tomou aeroporto, bloqueou estradas em
apoio ao movimento da selva. O
aeroporto segue tomado, e o
movimento exige o cumprimento de sua própria demanda: a construção de uma estrada e a luta contra a pobreza.
Seguem, portanto, separando os índios amazônicos e os
camponeses de origem quéchua e aymara principalmente
a concepção de etnicidade, organização e agenda.
Os indígenas amazônicos vivem, em geral, em comunidades rurais de terra compartilhada. São cerca de 400 mil, divididos em 60 etnias.
Com apoio de ONGs e de setores da Igreja Católica, o movimento da selva ganhou força
nas últimas três décadas com
agenda de titulação de suas terras e defesa da floresta.
Já os povos da cordilheira tiveram contato desde a colonização com os europeus. No ditadura nacionalista de Juan
Velasco (1968-1975), o Estado
evocou o imaginário inca e passou a tratar os povos da região
com uma abordagem de classe,
como "camponeses", termo
que permanece apesar do movimento recente de valorização
étnica.
(FLÁVIA MARREIRO)
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