São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Disputa peruana joga luz sobre índios amazônicos

Até então, voz indígena era representada principalmente por povos da cordilheira

Especialistas enxergam articulação inédita entre populações da selva e da serra; país abriga pelo menos 60 etnias distintas

DA ENVIADA A TARAPOTO, YURIMAGUAS E BÁGUA GRANDE

O recuo do governo Alan García no Peru, que cedeu à reivindicação principal do movimento indígena em ser consultado previamente sobre um pacote de leis sobre a Amazônia, foi uma conquista política importante para os povos nativos num país que, à diferença dos vizinhos andinos, não se diz uma sociedade plurinacional.
Os amazônicos também ganharam espaço político quando a "voz indígena", em geral, é a do mestiço camponês de origem quéchua e aymara, da cordilheira dos Andes.
Os indigenistas mais otimistas viram, porém, na manifestação de apoio de grupos andinos à Aidesep (Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana), o embrião de uma articulação historicamente frágil entre a selva e a serra, frente à elite da costa representada por Lima.
Em Apurímac, a segunda região (Estado) mais pobre do Peru, na serra andina, o Comitê de Luta dos Camponeses de Andahuaylas, a capital, tomou aeroporto, bloqueou estradas em apoio ao movimento da selva. O aeroporto segue tomado, e o movimento exige o cumprimento de sua própria demanda: a construção de uma estrada e a luta contra a pobreza.
Seguem, portanto, separando os índios amazônicos e os camponeses de origem quéchua e aymara principalmente a concepção de etnicidade, organização e agenda.
Os indígenas amazônicos vivem, em geral, em comunidades rurais de terra compartilhada. São cerca de 400 mil, divididos em 60 etnias.
Com apoio de ONGs e de setores da Igreja Católica, o movimento da selva ganhou força nas últimas três décadas com agenda de titulação de suas terras e defesa da floresta.
Já os povos da cordilheira tiveram contato desde a colonização com os europeus. No ditadura nacionalista de Juan Velasco (1968-1975), o Estado evocou o imaginário inca e passou a tratar os povos da região com uma abordagem de classe, como "camponeses", termo que permanece apesar do movimento recente de valorização étnica. (FLÁVIA MARREIRO)


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