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Líder da Colômbia tem votação histórica
Alta votação do ex-ministro Juan Manuel Santos bate resultados do seu popular padrinho político, Álvaro Uribe
Para marcar diferenças do atual governo, eleito promete a vizinhos e opositores "virar a página de divisões"
John Vizcaino/Reuters
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Juan Manuel Santos acena a eleitores em Bogotá ao votar; ex-ministro da Defesa de Álvaro Uribe superou o opositor Antanas Mockus no segundo turno
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ
Eleito ontem presidente da
Colômbia com a maior votação absoluta da história,
Juan Manuel Santos, 58, ofereceu o triunfo a seu padrinho político, Álvaro Uribe,
mas, num movimento para
marcar diferenças do atual
governo, prometeu a países
vizinhos e a opositores "virar
a página de ódios e divisões".
"É a hora da unidade nacional", discursou Santos,
que, com 99,7% das mesas
de votação reportadas, obteve mais de 9 milhões de votos
-ou 69,1% do total-, contra
27,5% do ex-prefeito de Bogotá Antanas Mockus (Partido Verde).
Com a marca, o ex-ministro da Defesa de Uribe, do
conservador Partido de La U,
se transforma no presidente
eleito com a terceira maior
porcentagem de votação relativa em ao menos 50 anos e
supera as conquistas de Uribe em 2002 e 2006.
Os números foram alcançados apesar da alta abstenção: 55,6%. Contribuíram para a queda de participação
em relação ao primeiro turno
o mau tempo -fez frio em
Bogotá e choveu em grande
parte do país-, o "frisson"
pela Copa do Mundo e a previsibilidade do resultado, antecipado pelas pesquisas.
O presidente eleito agradeceu a vitória em uma coreografada cerimônia montada
num estádio, com telões de
alta definição. Por vezes
emocionado, pontuou os
agradecimentos a Uribe, que
deixa o governo em de agosto
com mais de 70% de aprovação, com um convite explícito ao pós-uribismo.
Prometeu manter a mão
dura contra as Farc (Forças
Armadas Revolucionárias da
Colômbia), mas também devolver a harmonia entre os
Poderes num momento em
que o atual presidente e a
Corte Suprema se enfrentam
quase diariamente.
O ex-ministro ofereceu
uma política externa de "diplomacia e respeito", num
esforço de refazer pontes
com os governos esquerdistas de Equador e Venezuela.
"Todo o discurso mostra
que Santos quer se diferenciar muito rápido de Uribe
porque sabe que, apesar da
popularidade do presidente,
há um ambiente de muita polarização e tensão institucional que não são bons para
um governo que tem os desafios que ele tem", diz o analista Jorge Ivan Cuervo.
VERDES E CONGRESSO
O eleito elogiou o Mockus
e convidou-o a participar do
governo. Mais cedo, porém, o
ex-prefeito afirmara que o
seu recém-turbinado Partido
Verde, a maior novidade da
política colombiana da década, seria uma "força independente e deliberante" que
se preparará para as eleições
locais de 2011.
Mockus, que é filósofo e
matemático, agradeceu os
3,5 milhões de votos obtidos
e repetiu os slogans "a vida é
sagrada" e "o dinheiro público é sagrado" que marcaram
sua heterodoxa campanha,
espécie de cruzada ética que
empolgou jovens e a classe
média urbana pregando o
fim do "vale tudo" político.
Santos anunciará nos próximos dias a composição do
novo governo, com o desafio
de acomodar na administração uma coalizão legislativa
ainda mais ampla do que a
de Uribe. Nas últimas semanas, ele conseguiu a adesão
de parte do atualmente opositor Partido Liberal.
"Ele vai ter de administrar
forças contrárias dentro da
coalizão. Um facção mais uribista, que defenderá seu legado, e uma mais moderada", continua Cuervo.
Durante o pleito de ontem,
ao menos sete policiais, três
soldados e seis guerrilheiros
morreram em confrontos. Segundo a ONG MOE (Missão
de Observadores Eleitorais)
foram registrados 20 incidentes de violência no país.
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