São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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Só agiremos se formos chamados, diz Amorim

Chanceler diz que não mediará trato nuclear

DO "FINANCIAL TIMES"

O Brasil está interrompendo sua tentativa de mediar acordos quanto ao programa nuclear do Irã -tema que levou as relações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governo Obama a um novo ponto baixo.
O chanceler Celso Amorim disse ao "Financial Times" que o Brasil não almeja mais acalmar a disputa em torno da questão, após os EUA rejeitarem um pacto, mediado por Brasil e Turquia, que previa o envio de 1.200 kg do urânio iraniano para enriquecimento no exterior.
Desde o pacto, o Conselho de Segurança (CS) aprovou novas sanções a Teerã, apesar do voto contrário de Brasil e Turquia, e avançaram no Congresso dos EUA projetos de sanções unilaterais.
"Queimamos os nossos dedos ao fazer coisas que todos diziam que seriam úteis e, no fim das contas, descobrimos que algumas pessoas não aceitavam "sim" como resposta", disse Amorim, em clara referência aos EUA.
Antes do acordo, Obama havia enviado carta a Lula pregando justamente os termos do pacto firmado entre Brasília, Ancara e Teerã. Mas, depois, os EUA o consideraram insuficiente.
"Se somos chamados [a negociar novamente], talvez possamos ser úteis. Mas não vamos agir de forma proativa a não ser que sejamos chamados", disse Amorim.
Um funcionário sênior dos EUA saudou a notícia de que Brasília não tomará mais a dianteira na questão.
"Não vejo Brasil e Turquia estando realmente na posição de mediar" por terem votado contra as sanções, disse o funcionário, em condição de anonimato, argumentando que seria preferível que as potências com assento permanente no CS -EUA, China, Rússia, França e Reino Unido- conduzissem as conversas com Teerã.
Falas dos dois lados revelam cicatrizes deixadas pela disputa envolvendo o Irã.
"Fomos diretamente envolvidos em buscar uma solução e fomos estimulados a isso", argumentou Amorim. "E, quando produzimos um resultado, ele não teve consequência. No mesmo dia do acordo, antes mesmo de ele ser analisado, a resposta foi um pedido por resolução."
O Brasil argumenta que seu acordo com o Irã segue os termos da carta de Obama. Os EUA responderam que o pacto falhou em contemplar outros problemas que Washington tinha expressado separadamente a Brasília.
O Brasil também arrisca irritar EUA e outros países ao insistir que exportará etanol ao Irã -o que não seria banido, por contribuir com o setor energético iraniano, pode ser tido como uma violação ao espírito da resolução.


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