|
Próximo Texto | Índice
GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Piora conflito em terra; mortos vão a 363
Lotfallah Daher/Associated Press
|
Presídio é destruído por mísseis disparados por jatos israelenses em Khiam, no sul do Líbano |
Autoridades e militares israelenses dão sinais de que aprofundarão incursões no sul do Líbano, abrindo espaço para zona-tampão
Reduto do Hizobollah, sul de Beirute foi quase reduzido a escombros; comércio na cidade segue fechado, e ruas estão praticamente vazias
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
AVIVIM (FRONTEIRA ISRAEL-LÍBANO)
Dois soldados israelenses e
quatro membros do Hizbollah
morreram ontem, no segundo
dia de incursões terrestres das
tropas de Israel no sul do Líbano. No nono dia de confronto, o
Exército continuou bombardeando alvos do grupo no sul e
em Beirute, e deu indicações de
que poderá avançar mais no
território libanês, onde já tem
cerca de 2.000 soldados. O número oficial de mortos passa de
360, sendo 330 do lado libanês.
Reagindo à possível intensificação da incursão terrestre, o
Exército do Líbano, que vinha
mantendo uma postura distanciada, afirmou que se unirá ao
Hizbollah em caso de invasão.
"Estamos esperando por eles
para podermos defender nossa
terra, honra e dignidade", disse
o ministro da Defesa, Elias
Murr, à rede de TV Al Jazira.
Apesar da pressão israelense,
o Hizbollah voltou a lançar foguetes contra Israel, sem deixar vítimas, e afirmou ter destruído dois tanques na aldeia de
Maroun al Ras, maior foco de
combate. O canal de televisão
Al Manar, do Hizbollah, mostrou imagens de equipamentos
militares israelenses, como binóculos, um fuzil e granadas.
O líder do grupo, Hassan
Nasrallah, manteve o tom de
desafio, descartando a possibilidade de rendição. Em entrevista à Al Jazira, um dia depois
de Israel ter anunciado o bombardeio de um suposto bunker
onde ele estaria escondido, em
Beirute, Nasrallah afirmou que
a liderança do Hizbollah permanece intacta: "Posso afirmar
sem exagero ou guerra psicológica que não fomos atingidos".
Autoridades do governo e do
Exército de Israel, por sua vez,
voltaram a fazer declarações
indicando a iminência de uma
operação terrestre mais ampla
-o que criaria condições para a
criação de uma zona-tampão
na região fronteiriça.
"O Hizbollah não deve achar
que vamos hesitar em usar todas as medidas militares", disse
o ministro da Defesa, Amir Peretz. "Não temos intenção de
ocupar o Líbano, mas também
não temos intenção de recuar
de quaisquer medidas militares
necessárias."
Na noite de ontem, dois helicópteros israelenses colidiram
na fronteira. Ao menos quatro
soldados foram feridos.
Reduzida a escombros
O sul do Líbano, dominado
pelo Hizbollah, voltou a ser
bombardeado ontem, assim como a área xiita no sul de Beirute, quase reduzida a escombros.
No resto da cidade, há poucos
sinais de destruição, embora
seu ritmo tenha sido completamente alterado pelo conflito.
Há poucas pessoas nas ruas,
quase todo o comércio permanece fechado e há falta de luz
em alguns pontos, devido ao
bombardeio de uma central
elétrica. Não há sinais graves de
desabastecimento, mas teme-se que os estoques de combustíveis estejam no fim.
Na frente diplomática, apelos
internacionais e libaneses não
influenciaram o premiê Ehud
Olmert, e diversas autoridades
israelenses fizeram declarações indicando um conflito longo e a possibilidade de ampliar
a invasão. Mas Olmert concordou em abrir um corredor marítimo para o envio de ajuda
humanitária ao Líbano, onde
há meio milhão de refugiados.
O premiê libanês, Fouad Siniora, criticou os EUA por não
pressionarem Israel a interromper os ataques. Ele situou
em 330 o número de mortos no
país pelos bombardeios e em
1.100 o de feridos.
Três frentes
Autoridades de Israel estimam que metade do arsenal do
Hizbollah foi destruído nos
bombardeios, o que o grupo nega. Os militares de Israel estão
atacando em três frentes. Uma
é a liderança do Hizbollah, a segunda é a linha de suprimentos
de armas para o grupo, com ataques a estradas e caminhões
que, segundo Israel, levam munição iraniana a partir da Síria.
A terceira é nas aldeias no sul.
A União Européia afirma que
as agências de ajuda estão tendo problemas com segurança
para levar suprimentos aos refugiados no Líbano. Em uma
estrada perto da fronteira com
a Síria, a reportagem da Folha
passou por três caminhões destruídos por bombardeios. Dois
carregavam caixas com supostos suprimentos médicos doados pelos Emirados Árabes. O
terceiro, desfigurado pelo fogo,
ainda exalava fumaça.
O Exército atua com unidades de elite, tanques, artilharia
e engenharia em pelo menos
quatro aldeias. As aldeias atacadas nesta primeira fase ficam
na direção da fazenda de Avivim, onde o Hizbollah seqüestrou, na quarta-feira da semana
passada, dois soldados, deflagrando a retaliação de Israel.
Próximo Texto: "No Brasil não conhecem nossa realidade", diz Daniel, 19, soldado israelense no front Índice
|