São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Piora conflito em terra; mortos vão a 363

Lotfallah Daher/Associated Press
Presídio é destruído por mísseis disparados por jatos israelenses em Khiam, no sul do Líbano


Autoridades e militares israelenses dão sinais de que aprofundarão incursões no sul do Líbano, abrindo espaço para zona-tampão

Reduto do Hizobollah, sul de Beirute foi quase reduzido a escombros; comércio na cidade segue fechado, e ruas estão praticamente vazias

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM AVIVIM (FRONTEIRA ISRAEL-LÍBANO)

Dois soldados israelenses e quatro membros do Hizbollah morreram ontem, no segundo dia de incursões terrestres das tropas de Israel no sul do Líbano. No nono dia de confronto, o Exército continuou bombardeando alvos do grupo no sul e em Beirute, e deu indicações de que poderá avançar mais no território libanês, onde já tem cerca de 2.000 soldados. O número oficial de mortos passa de 360, sendo 330 do lado libanês.
Reagindo à possível intensificação da incursão terrestre, o Exército do Líbano, que vinha mantendo uma postura distanciada, afirmou que se unirá ao Hizbollah em caso de invasão. "Estamos esperando por eles para podermos defender nossa terra, honra e dignidade", disse o ministro da Defesa, Elias Murr, à rede de TV Al Jazira.
Apesar da pressão israelense, o Hizbollah voltou a lançar foguetes contra Israel, sem deixar vítimas, e afirmou ter destruído dois tanques na aldeia de Maroun al Ras, maior foco de combate. O canal de televisão Al Manar, do Hizbollah, mostrou imagens de equipamentos militares israelenses, como binóculos, um fuzil e granadas.
O líder do grupo, Hassan Nasrallah, manteve o tom de desafio, descartando a possibilidade de rendição. Em entrevista à Al Jazira, um dia depois de Israel ter anunciado o bombardeio de um suposto bunker onde ele estaria escondido, em Beirute, Nasrallah afirmou que a liderança do Hizbollah permanece intacta: "Posso afirmar sem exagero ou guerra psicológica que não fomos atingidos".
Autoridades do governo e do Exército de Israel, por sua vez, voltaram a fazer declarações indicando a iminência de uma operação terrestre mais ampla -o que criaria condições para a criação de uma zona-tampão na região fronteiriça.
"O Hizbollah não deve achar que vamos hesitar em usar todas as medidas militares", disse o ministro da Defesa, Amir Peretz. "Não temos intenção de ocupar o Líbano, mas também não temos intenção de recuar de quaisquer medidas militares necessárias."
Na noite de ontem, dois helicópteros israelenses colidiram na fronteira. Ao menos quatro soldados foram feridos.

Reduzida a escombros
O sul do Líbano, dominado pelo Hizbollah, voltou a ser bombardeado ontem, assim como a área xiita no sul de Beirute, quase reduzida a escombros. No resto da cidade, há poucos sinais de destruição, embora seu ritmo tenha sido completamente alterado pelo conflito.
Há poucas pessoas nas ruas, quase todo o comércio permanece fechado e há falta de luz em alguns pontos, devido ao bombardeio de uma central elétrica. Não há sinais graves de desabastecimento, mas teme-se que os estoques de combustíveis estejam no fim.
Na frente diplomática, apelos internacionais e libaneses não influenciaram o premiê Ehud Olmert, e diversas autoridades israelenses fizeram declarações indicando um conflito longo e a possibilidade de ampliar a invasão. Mas Olmert concordou em abrir um corredor marítimo para o envio de ajuda humanitária ao Líbano, onde há meio milhão de refugiados.
O premiê libanês, Fouad Siniora, criticou os EUA por não pressionarem Israel a interromper os ataques. Ele situou em 330 o número de mortos no país pelos bombardeios e em 1.100 o de feridos.

Três frentes
Autoridades de Israel estimam que metade do arsenal do Hizbollah foi destruído nos bombardeios, o que o grupo nega. Os militares de Israel estão atacando em três frentes. Uma é a liderança do Hizbollah, a segunda é a linha de suprimentos de armas para o grupo, com ataques a estradas e caminhões que, segundo Israel, levam munição iraniana a partir da Síria. A terceira é nas aldeias no sul.
A União Européia afirma que as agências de ajuda estão tendo problemas com segurança para levar suprimentos aos refugiados no Líbano. Em uma estrada perto da fronteira com a Síria, a reportagem da Folha passou por três caminhões destruídos por bombardeios. Dois carregavam caixas com supostos suprimentos médicos doados pelos Emirados Árabes. O terceiro, desfigurado pelo fogo, ainda exalava fumaça.
O Exército atua com unidades de elite, tanques, artilharia e engenharia em pelo menos quatro aldeias. As aldeias atacadas nesta primeira fase ficam na direção da fazenda de Avivim, onde o Hizbollah seqüestrou, na quarta-feira da semana passada, dois soldados, deflagrando a retaliação de Israel.


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