São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Annan cobra cessar-fogo; Israel o rejeita

Secretário-geral da ONU menciona "sérios obstáculos" para votar resolução; Casa Branca nega que boicote armistício

Condoleezza Rice jantou com Annan e irá para a região na próxima semana; Rússia critica israelenses por supostos excessos militares

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Sob críticas em razão do enfraquecimento do poder de pressão das Nações Unidas no Oriente Médio, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pediu ao Conselho de Segurança um cessar-fogo imediato e propôs o envio de forças internacionais para instituir uma zona-tampão do sul do Líbano, fronteira com Israel, região hoje controlada pelo Hizbollah.
Annan condenou tanto o grupo xiita quanto Israel. "Os atos do Hizbollah são lamentáveis, e Israel tem o direito de se defender. Mas o uso excessivo da força deve ser condenado."
O secretário-geral propõe que, paralelamente ao cessar-fogo, sejam transferidos para o governo do Líbano, sob a escolta da Cruz Vermelha, os dois soldados israelenses seqüestrados pelo Hizbollah.
Sua proposta foi feita durante reunião do Conselho de Segurança, na apresentação do balanço dos trabalhos de uma missão de paz em Beirute, Tel Aviv, Cairo e Gaza. A delegação foi liderada pelo conselheiro político de Annan, Vijay Nambiar. "Serei sincero com o conselho. A conclusão da missão de mediação é que existem sérios obstáculos para alcançar um cessar-fogo ou mesmo uma diminuição rápida da violência."
Foi provavelmente uma menção ao bloqueio americano para que o Conselho de Segurança vote o cessar-fogo. A Casa Branca e o Departamento de Estado reagiram em seguida.
O Departamento de Estado confirmou a viagem da secretária Condoleezza Rice ao Oriente Médio no início da próxima semana. O porta-voz da Presidência, Tony Snow, disse que George W. Bush "adoraria um cessar-fogo", mas que "o Hizbollah tem de ser parte dele". "A esta altura, não há indicação de que o Hizbollah pretenda depor suas armas."
Annan e Rice se reuniriam ontem à noite para avaliar a crise no Líbano, em meio ao desacordo entre a ONU e Washington sobre um cessar-fogo.
O embaixador israelense na ONU, Dan Gillerman, disse "rejeitar terminantemente" o fim dos combates e criticou Annan por não mencionar os papéis da Síria e do Irã no conflito. "Não temos prazo", afirmou.
A chancelaria libanesa vê o discurso do secretário-geral como "a voz da razão no apelo pela suspensão das hostilidades e na urgência da ajuda humanitária para o sofrimento do povo do Líbano".
Segundo Annan, 2.000 membros da força de paz da ONU estão isolados no sul do país, sem água nem comida. Ele pede a criação de um "corredor humanitário" para assistência às vítimas dos bombardeios.
Anteontem, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Louise Arbour, havia afirmado que as "atrocidades" contra civis caracterizam crimes de guerra e podem levar a julgamentos em cortes internacionais. "A escalada das mortes na região poderia implicar responsabilidade criminal dos envolvidos, sobretudo daqueles em posição de comando."
Em Moscou, o governo russo divulgou nota em que volta a pedir o cessar-fogo e acusa Israel de estar conduzindo uma operação desproporcional.
O ministro francês das Relações Exteriores, Philippe Douste-Blazy, embarcou ontem à noite para Chipre, primeira escala de uma viagem que o levará a Líbano, Egito, Jordânia e Israel. A França apresentou terça-feira um projeto de resolução de cessar-fogo. Mas o embaixador americano, John Bolton, julgou inoportuno votá-la.


Texto Anterior: "No Brasil não conhecem nossa realidade", diz Daniel, 19, soldado israelense no front
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.