São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Isolados, libaneses se unem contra Israel, diz analista

Karim Makdisi fugiu para montanha após bombardeio israelense em seu bairro

Professor libanês cristão avalia que a comunidade internacional assiste inerte ao conflito, enquanto Irã e Síria capitalizam ataques

GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

O Líbano sempre foi um país dividido entre religiões, sobre a presença ou não de tropas sírias, sobre o desarmamento ou não do Hizbollah. Porém, na última semana, o país finalmente se unificou. Hoje todos os libaneses, sem exceção, condenam Israel pela onda de ataques ao país. A avaliação é de Karim Makdisi, professor de ciência política da Universidade Americana de Beirute. Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha pelo professor por telefone de uma vila nas montanhas do Líbano, para onde ele fugiu anteontem depois que Israel alvejou o tradicional bairro de Ashrafyeh, reduto cristão de Beirute onde estão as lojas e os restaurantes mais caros da cidade.
 

FOLHA - Por que o Líbano é o palco do conflito, se Israel culpa sírios e iranianos por armarem o Hizbollah?
KARIM MAKDISI
- O Líbano sempre foi usado como campo de batalha entre Israel e os árabes. Os israelenses sabem que um ataque contra a Síria provocaria uma escalada no conflito e o Irã poderia se envolver, provocando mais estragos em Israel. Já o Líbano tem um Exército fraco, que não pode responder a uma agressão israelense.

FOLHA - O Irã e a Síria controlam ou não o Hizbollah?
MAKDISI
- Não, isso é uma visão errada que existe no Ocidente. O Hizbollah tem autonomia nas suas decisões, apesar de haver coordenação. Na verdade, a Síria precisa muito mais do Hizbollah do que o Hizbollah precisa dos sírios. Já com o Irã há uma aliança ideológica de fato. Irã e Síria nunca tiveram relações fantásticas entre si, assim como a Síria e o Hizbollah.

FOLHA - Israel afirma que as ações farão com que os libaneses no futuro se voltem contra o Hizbollah. O sr. concorda?
MAKDISI
- O que Israel conseguiu fazer foi unificar todo o Líbano contra Israel. Todos condenam as ações de Israel. Nunca houve tanta unanimidade no Líbano como agora. Finalmente Emile Lahoud [presidente] e Fuad Siniora [premiê] concordam em alguma coisa. Os israelenses bombardearam Ashrafyeh [bairro cristão], onde jamais o Hizbollah teria bases. E agora estamos com medo do que está por vir, com os europeus e os americanos indo embora. O pior são os refugiados. Meio milhão de pessoas, a maioria do sul. Nossa economia e nossa sociedade voltaram 15 anos no tempo.

FOLHA - A Síria e o Irã têm mais apoio agora? E os países árabes?
MAKDISI
- A maior parte dos países árabes abandonou o Líbano, nos isolou. Arábia Saudita, Egito e Jordânia temem que o Irã e o Hizbollah roubem as mentes islâmicas. Ao mesmo tempo, a Síria e o Irã celebram e capitalizam com o conflito no território libanês enquanto Teerã e Damasco seguem intactas. O povo árabe é solidário ao Líbano.


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