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Briga de Chávez e igreja vai ao ápice
Críticas de bispos e arcebispos fazem estremecer tumultuada relação entre católicos e venezuelano
Presidente revida, diz que elite da igreja é formada de "fariseus hipócritas" e afirma que Jesus Cristo, "primeiro socialista", está do seu lado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
As tumultuadas relações entre a Igreja Católica e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, atravessam um dos seus
piores momentos depois que o
Conselho Episcopal Venezuelano (CEV) divulgou um duro
documento condenando reformas impulsadas pelo governo.
O documento, aprovado há
duas semanas pela 88ª Assembléia de Bispos e Arcebispos da
Venezuela, classifica o governo
Chávez de "populista" e critica
pontos como a política econômica, a reforma educacional, a
não-renovação da concessão do
canal RCTV e até o lema "pátria, socialismo ou morte".
"Os altos recursos do petróleo se vêem acompanhados pelo aumento da corrupção e do
clientelismo político. Cada dia
nosso país se faz mais rentista e
perde a oportunidade de se
converter num país produtivo",
diz o documento, cuja íntegra
está no site www.cev.org.ve.
Uma das principais preocupações demonstradas pela cúpula da igreja é a reforma educacional, área na qual tem ampla atuação: "Há a preocupação
sobre a pretensão de propor
uma educação com uma única e
determinada orientação política e ideológica".
O documento faz ainda uma
referência direta a Chávez ao
afirmar que "ninguém, e muito
menos o presidente da República, tem o direito a insultar ou
agredir pessoas ou instituições
que discordem de suas opiniões
ou projetos". A resposta de
Chávez veio nesta semana. Na
segunda-feira, o presidente venezuelano disse lamentar que o
CEV atue "como um partido".
Pecado
"Lamento muito isso, que
ataquem com mentiras, isso é
um pecado. Eu me nego a pensar que os bispos e cardeais, que
cursaram muito anos de estudo, não saibam o que dizem",
discursou Chávez a militares.
Na quarta-feira, em tom mais
duro ainda, o presidente chamou a elite da igreja de "fariseus hipócritas" e insinuou que
Jesus Cristo -a quem costuma
chamar de "o primeiro socialista" -está do seu lado.
"Não sei o que faria Cristo a
alguns bispos aqui da Venezuela (...), que se põem ao lado dos
tiranos, dos que exploram o povo, dos que traem o pensamento e a obra de Jesus e apunhalam Cristo pelas costas".
Considerado um dos mais ferozes críticos de Chávez, o vice-presidente do CEV, bispo Roberto Lückert , disse que a politização é necessária devido aos
rumos tomados pelo governo.
"Alguém tem de fazê-lo, alguém tem de dizer as coisas",
disse. "O temor é que se implemente na Venezuela um regime igual ao de Fidel, autocrático, totalitário e militarista."
Para o padre jesuíta Jesús
María Aguirre, o último documento do CEV é também o
mais duro contra Chávez desde
o início de seu governo, há oito
anos. "É o texto que marca mais
distância", disse à Folha. "Desde o ponto de vista ideológico e
conceitual, é o mais frontal."
Aguirre acredita que a estratégia do CEV seja equivocada,
pois tende a afastar a cúpula da
igreja das camadas mais pobres
da população, amplamente favoráveis a Chávez. "Vejo um
grande inconveniente em que
os sacerdotes entrem numa
confrontação pública direta.
Essa posição beligerante simplesmente política rompe relações com o movimento popular", disse o jesuíta, professor
de comunicação da Universidade Católica Andrés Bello.
Para ele há uma ferida "nunca curada" entre o governo e a
cúpula da igreja desde o frustrado golpe de abril de 2002,
quando o então cardeal Velasco
assinou a posse do empresário
Pedro Carmona, que substituiu
Chávez por quase dois dias.
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