São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Corte restitui juiz opositor no Paquistão

Suspenso por Musharraf, Chaudhry, presidente da Suprema Corte e símbolo da oposição, retoma cargo

DA REDAÇÃO

A Suprema Corte paquistanesa anulou ontem a suspensão do juiz Iftikhar Chaudhry, presidente do tribunal e principal símbolo da oposição ao regime do general Pervez Musharraf. A decisão é um duro revés para o governo, acossado por uma onda de ataques terroristas e pressões pela democratização.
O regime declarou que honrará o veredicto. Chaudhry tinha sido suspenso em março, sob alegações de abuso de poder e conduta inapropriada. A recusa em se afastar da Suprema Corte e a refutação de todas as alegações transformaram o já popular juiz em uma espécie de herói nacional.
Dezenas de milhares de pessoas participaram de manifestações pró-Chaudhry. O veredicto foi comemorado pelos partidários do juiz com canto, dança e distribuição de mithai -doce compartilhado com vizinhos em ocasiões festivas.
Para a oposição, a suspensão do juiz teve motivos políticos. Chaudhry determinou a investigação das denúncias de "desaparecimento" de pessoas suspeitas de terrorismo e reverteu a privatização de uma das maiores minas do país.
Analistas acreditam que o governo enfrente seu pior momento desde que chegou ao poder, em 1999. Perdeu o controle dos radicais islâmicos e o apoio dos moderados, assustados com a repressão violenta do governo e ansiosos por maior democratização.
A volta de Chaudhry é mais um obstáculo aos planos de reeleição, em quatro meses. "Ele [Musharraf] já não pode ter certeza de que a Suprema Corte será seu capacho", diz G. Parthasarathy, ex-diplomata indiano no Paquistão. "Os planos de usar um uniforme indefinidamente estão liquidados."
O país está imerso em uma onda de atentados, agravada com o ataque militar a radicais islâmicos entrincheirados na Mesquita Vermelha, na capital, Islamabad. A ação, no último dia 10, matou pelo menos 103 pessoas (versão oficial). Segundo a oposição islâmica, o número supera mil. Em reação, uma série de atentados terroristas foi iniciada no país, atingindo principalmente as regiões tribais no norte do Paquistão.

Atentados
Pelo menos cinco pessoas, dentre elas dois civis, morreram ontem em um atentado terrorista em Miran Shah, no Waziristão do Norte. É o terceiro ataque ocorrido no local nos últimos sete dias.
Em 14 de julho, 30 militares morreram em atentado suicida contra uma patrulha do Exército. Dois dias mais tarde, outra explosão atingiu comboio militar que passava pelo local. O número de mortos nos ataques dos últimos dias já passa 180.
Os excessos cometidos pelas forças policiais destruíram os vestígios da almejada imagem de moderação do regime, que tem apoio dos Estados Unidos.
O massacre na mesquita causou indignação mesmo entre muçulmanos não-praticantes, e imagens de advogados ensangüentados apanhando da polícia em um comissão pró-Chaudhry chocaram o país.


Com o "Financial Times" e agências internacionais

Texto Anterior: Dinamarca retira em segredo 200 refugiados do Iraque com suas tropas
Próximo Texto: Oriente Médio: Israel cumpre promessa a Abbas e liberta 250 palestinos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.