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Medo do islã leva turcos laicos a votarem em massa
Partido moderado islâmico, no governo, deve vencer votação e acirrar divisões
Em país de tradição secular,
elite laica e nacionalista que lota balneários nesta época do ano se contrapõe à massa muçulmana vinda do campo
VINCENT BOLANDIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM ANCARA
Milhões de turcos devem fazer o sacrifício mais tocante pela pátria neste fim de semana:
deixarão as praias para votar
em uma eleição em que o índice
de comparecimento pode ser
crucial. Trata-se da primeira
eleição que a Turquia conduz
no pico do verão desde os anos
70, e a onda de calor de 40C
dos dois últimos meses é um incentivo para evitar as estradas.
O Ministério do Interior
proibiu a venda de álcool no dia
da eleição, amanhã, e restringiu
a posse de armas. Essas são restrições normais em um país no
qual as paixões políticas são calorosas -e o voto é obrigatório.
Para esquentar ainda mais a
atmosfera tensa, há a questão
central dessa eleição: a disputa
entre o governo e as instituições laicas da Turquia, entre as
quais as Forças Armadas, sobre
a seleção do novo presidente. A
discussão animou eleitores de
todos os matizes a votarem.
Conseqüentemente, dezenas
de turcos em férias devem retornar às cidades nas quais estão registrados como eleitores.
Isso se aplica especialmente
aos partidários dos grupos laicos de oposição, que têm mais
probabilidade de desfrutar de
férias à beira-mar. Muitos deles
temem as previsões de que os
conservadores sociais e religiosos do governo em final de
mandato venham a conquistar
uma vitória abrangente, que representaria uma ameaça ao seu
estilo de vida liberal e laico.
"Estamos interrompendo as
férias porque queremos proteger as instituições laicas", disse
Simel Kutman, professora que
estava em férias em Ayvalik, cidade turística no mar Egeu.
Já o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK), que governa a Turquia, tem raízes no
islamismo político e base eleitoral entre os eleitores rurais e
de cidades pequenas, que nunca se relacionaram bem com a
região turística da costa turca.
Cerca de 42,5 milhões de turcos têm direito a votar, e o comparecimento costuma ser alto.
Na mais recente eleição, em
2002, foi de 79%.
Ali Carkoglu, especialista em
eleições na Universidade Sabanci, de Istambul, estima que
até 7 milhões de potenciais
eleitores estejam em férias nas
cidades do litoral turco.
Enquanto a campanha chegava ao final, ontem, as pesquisas de opinião indicavam que o
AK obteria 40% dos votos, indicando que o partido será capaz
de formar um novo governo
sem coalizão. Porém, com pelo
menos dois partidos laicos e ao
menos 30 candidatos independentes tentando um dos 550
assentos no Parlamento, a
maioria do AK pode ser bastante estreita. Dependerá, no entanto, do sucesso da oposição
em tirar seus eleitores da praia.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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