São Paulo, sábado, 21 de julho de 2007

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Medo do islã leva turcos laicos a votarem em massa

Partido moderado islâmico, no governo, deve vencer votação e acirrar divisões

Em país de tradição secular, elite laica e nacionalista que lota balneários nesta época do ano se contrapõe à massa muçulmana vinda do campo

VINCENT BOLANDIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM ANCARA

Milhões de turcos devem fazer o sacrifício mais tocante pela pátria neste fim de semana: deixarão as praias para votar em uma eleição em que o índice de comparecimento pode ser crucial. Trata-se da primeira eleição que a Turquia conduz no pico do verão desde os anos 70, e a onda de calor de 40C dos dois últimos meses é um incentivo para evitar as estradas.
O Ministério do Interior proibiu a venda de álcool no dia da eleição, amanhã, e restringiu a posse de armas. Essas são restrições normais em um país no qual as paixões políticas são calorosas -e o voto é obrigatório. Para esquentar ainda mais a atmosfera tensa, há a questão central dessa eleição: a disputa entre o governo e as instituições laicas da Turquia, entre as quais as Forças Armadas, sobre a seleção do novo presidente. A discussão animou eleitores de todos os matizes a votarem.
Conseqüentemente, dezenas de turcos em férias devem retornar às cidades nas quais estão registrados como eleitores. Isso se aplica especialmente aos partidários dos grupos laicos de oposição, que têm mais probabilidade de desfrutar de férias à beira-mar. Muitos deles temem as previsões de que os conservadores sociais e religiosos do governo em final de mandato venham a conquistar uma vitória abrangente, que representaria uma ameaça ao seu estilo de vida liberal e laico.
"Estamos interrompendo as férias porque queremos proteger as instituições laicas", disse Simel Kutman, professora que estava em férias em Ayvalik, cidade turística no mar Egeu. Já o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AK), que governa a Turquia, tem raízes no islamismo político e base eleitoral entre os eleitores rurais e de cidades pequenas, que nunca se relacionaram bem com a região turística da costa turca. Cerca de 42,5 milhões de turcos têm direito a votar, e o comparecimento costuma ser alto. Na mais recente eleição, em 2002, foi de 79%.
Ali Carkoglu, especialista em eleições na Universidade Sabanci, de Istambul, estima que até 7 milhões de potenciais eleitores estejam em férias nas cidades do litoral turco.
Enquanto a campanha chegava ao final, ontem, as pesquisas de opinião indicavam que o AK obteria 40% dos votos, indicando que o partido será capaz de formar um novo governo sem coalizão. Porém, com pelo menos dois partidos laicos e ao menos 30 candidatos independentes tentando um dos 550 assentos no Parlamento, a maioria do AK pode ser bastante estreita. Dependerá, no entanto, do sucesso da oposição em tirar seus eleitores da praia.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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