|
Próximo Texto | Índice
EUA aumentam pressão sobre Honduras
Hillary "encoraja" Micheletti a se concentrar nas negociações e indica que fracasso do diálogo pode levar a novas sanções
Em Washington, estudantes protestam contra lobista ligado ao casal Clinton, contratado por empresários hondurenhos pró-golpe
Arnulfo Franco/Associated Press
|
|
Partidário do presidente hondurenho deposto,Manuel Zelaya, protesta diante do Congresso, cercado por policiais em Tegucigalpa
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Seguindo grita de quase todos os governos da América Latina e de especialistas em relações entre o continente e os
EUA, o Departamento de Estado americano elevou o tom e
aumentou a pressão sobre o governo golpista hondurenho e
sobre os setores da sociedade
que o estão apoiando. O objetivo é que sejam aceitos os termos propostos pelo mediador,
o costa-riquenho Óscar Arias.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, telefonou ao líder
do regime golpista, Roberto
Michelletti, para dizer que haveria consequências sérias se
fossem ignorados os sete pontos da mediação apresentados
no sábado, entre os quais o
mais importante é a volta do
presidente deposto Manuel Zelaya. Advertiu também que podem ser punidos empresários
que apoiem o golpe.
"Ontem [no domingo], a secretária teve uma conversa por
telefone com o líder do regime
de fato e o encorajou a continuar se concentrando nas negociações", disse o porta-voz
P.J. Crowley. "Também o ajudou a entender as potenciais
consequências de deixar de se
beneficiar dessa mediação."
Em linguagem diplomática,
Hillary acena que a atitude dúbia dos EUA em relação ao golpe de Estado está para terminar. Desde o ocorrido, o governo de Barack Obama teve uma
reação a princípio tíbia e depois
dura de condenação em relação
ao golpe. A secretária de Estado, no entanto, manteve-se
quase equidistante entre governo e golpistas em declarações públicas, evitando mesmo
usar o termo "golpe".
A mudança de atitude pode
se dever também à percepção
cada vez mais disseminada de
que Hillary estaria se contrapondo a aspectos da política externa obamista e de que estaria
sofrendo conflito de interesses
pelo fato de apoiadores do golpe terem contratado em Washington dois lobistas muito ligados ao casal Clinton.
Ontem, em Washington,
uma ONG de estudantes de esquerda pendurou uma faixa em
frente ao escritório do lobista
Lanny Davis, que junto com o
relações-públicas Bennett Ratcliff foi contratado pelo braço
hondurenho do Conselho de
Empresários da América Latina para fazer lobby nos EUA
contra a volta de Zelaya.
A faixa dizia: "Lanny Davis, o
sangue do golpe militar hondurenho está em suas mãos. Pare
de mentir".
Reação
Além do telefonema de Hillary, empresários hondurenhos foram convidados ontem
a conversar com o embaixador
dos EUA em Honduras, Hugo
Llorens, que lembrou do arsenal de leis de que seu país dispõe para bloquear dinheiro
hondurenho nos EUA e secar a
torneira de ajuda ao país, hoje
só parcialmente suspensa.
A mudança de tom não foi
bem recebida pelo regime golpista. "Nós temos recebido
pressões de todos os lados",
respondeu Micheletti num discurso. "Aprendemos na vida
que as pessoas que parecem
amigas na verdade não são, mas
estão só interessadas no que
você pode fazer ou dar a elas."
Ele disse que, na conversa
com Hillary, pediu "que ela envie alguém de confiança para
dizer se neste país há mortos
[pela repressão], se há gente
presa ou se estamos ultrajando
a dignidade do ser humano".
OEA
O secretário-geral da OEA
(Organização dos Estados
Americanos), José Miguel Insulza, disse ontem que é necessário respeitar o prazo de 72
horas dado por Arias para destravar as negociações. "Se o
presidente pede outras 72 horas para fazer um esforço nessa
direção, tem minha plena confiança e respaldo."
Antes, Insulza tinha dito em
entrevista à rádio chilena Cooperativa que seria "quase impossível evitar" o confronto entre as facções lideradas por Zelaya e Michelletti, ou mesmo
"pedir calma quando a ditadura
pretende ficar no poder". "Não
há ninguém no mundo que
apoie a ditadura, então isso é
uma loucura, mas uma loucura
que pode custar muito caro aos
hondurenhos", disse.
Próximo Texto: Zelaya vê diálogo "esgotado" e prepara volta Índice
|