São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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EUA aumentam pressão sobre Honduras

Hillary "encoraja" Micheletti a se concentrar nas negociações e indica que fracasso do diálogo pode levar a novas sanções

Em Washington, estudantes protestam contra lobista ligado ao casal Clinton, contratado por empresários hondurenhos pró-golpe


Arnulfo Franco/Associated Press
Partidário do presidente hondurenho deposto,Manuel Zelaya, protesta diante do Congresso, cercado por policiais em Tegucigalpa

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Seguindo grita de quase todos os governos da América Latina e de especialistas em relações entre o continente e os EUA, o Departamento de Estado americano elevou o tom e aumentou a pressão sobre o governo golpista hondurenho e sobre os setores da sociedade que o estão apoiando. O objetivo é que sejam aceitos os termos propostos pelo mediador, o costa-riquenho Óscar Arias.
A secretária de Estado, Hillary Clinton, telefonou ao líder do regime golpista, Roberto Michelletti, para dizer que haveria consequências sérias se fossem ignorados os sete pontos da mediação apresentados no sábado, entre os quais o mais importante é a volta do presidente deposto Manuel Zelaya. Advertiu também que podem ser punidos empresários que apoiem o golpe.
"Ontem [no domingo], a secretária teve uma conversa por telefone com o líder do regime de fato e o encorajou a continuar se concentrando nas negociações", disse o porta-voz P.J. Crowley. "Também o ajudou a entender as potenciais consequências de deixar de se beneficiar dessa mediação."
Em linguagem diplomática, Hillary acena que a atitude dúbia dos EUA em relação ao golpe de Estado está para terminar. Desde o ocorrido, o governo de Barack Obama teve uma reação a princípio tíbia e depois dura de condenação em relação ao golpe. A secretária de Estado, no entanto, manteve-se quase equidistante entre governo e golpistas em declarações públicas, evitando mesmo usar o termo "golpe".
A mudança de atitude pode se dever também à percepção cada vez mais disseminada de que Hillary estaria se contrapondo a aspectos da política externa obamista e de que estaria sofrendo conflito de interesses pelo fato de apoiadores do golpe terem contratado em Washington dois lobistas muito ligados ao casal Clinton.
Ontem, em Washington, uma ONG de estudantes de esquerda pendurou uma faixa em frente ao escritório do lobista Lanny Davis, que junto com o relações-públicas Bennett Ratcliff foi contratado pelo braço hondurenho do Conselho de Empresários da América Latina para fazer lobby nos EUA contra a volta de Zelaya.
A faixa dizia: "Lanny Davis, o sangue do golpe militar hondurenho está em suas mãos. Pare de mentir".

Reação
Além do telefonema de Hillary, empresários hondurenhos foram convidados ontem a conversar com o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, que lembrou do arsenal de leis de que seu país dispõe para bloquear dinheiro hondurenho nos EUA e secar a torneira de ajuda ao país, hoje só parcialmente suspensa.
A mudança de tom não foi bem recebida pelo regime golpista. "Nós temos recebido pressões de todos os lados", respondeu Micheletti num discurso. "Aprendemos na vida que as pessoas que parecem amigas na verdade não são, mas estão só interessadas no que você pode fazer ou dar a elas."
Ele disse que, na conversa com Hillary, pediu "que ela envie alguém de confiança para dizer se neste país há mortos [pela repressão], se há gente presa ou se estamos ultrajando a dignidade do ser humano".

OEA
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, disse ontem que é necessário respeitar o prazo de 72 horas dado por Arias para destravar as negociações. "Se o presidente pede outras 72 horas para fazer um esforço nessa direção, tem minha plena confiança e respaldo."
Antes, Insulza tinha dito em entrevista à rádio chilena Cooperativa que seria "quase impossível evitar" o confronto entre as facções lideradas por Zelaya e Michelletti, ou mesmo "pedir calma quando a ditadura pretende ficar no poder". "Não há ninguém no mundo que apoie a ditadura, então isso é uma loucura, mas uma loucura que pode custar muito caro aos hondurenhos", disse.


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