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Zelaya vê diálogo "esgotado" e prepara volta
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANÁGUA
(NICARÁGUA)
Em resposta ao fracasso das
negociações na Costa Rica, o
presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse que o
diálogo está "esgotado" e voltou a exortar os seus seguidores
a promover uma "insurreição"
contra o governo interino de
Roberto Micheletti.
"Estarei em Honduras e farei
tudo o que precisar (...) até que
esse grupo usurpador do poder
acate as ordens que deu a comunidade internacional", disse
Zelaya, anteontem à noite, na
Nicarágua.
Apesar da retórica, Zelaya
deu sinais de que não tentará
voltar a Honduras antes de
amanhã, quando terminam as
72 horas pedidas pelo presidente costa-riquenho e mediador dos diálogos, Óscar Arias,
para resolver o impasse.
A opção mais cogitada, segundo informou um assessor
de Zelaya à Folha, é reunir milhares de simpatizantes na
fronteira com a Nicarágua para
recebê-lo. A data mais provável
do retorno é na sexta.
Desde a deposição de Zelaya,
há 23 dias, simpatizantes do
presidente deposto vêm realizando protestos diários no
país, mas sem conseguir objetivos mais radicais, como fechar
as fronteiras com o país vizinho e realizar uma greve geral.
Apesar da tensão e do toque
de recolher durante a maior
parte dos dias desde a deposição, o comércio tem funcionado normalmente e não há registro de desabastecimento em
artigos de primeira necessidade, como combustíveis.
Ontem, Micheletti voltou a
dizer que não aceita a volta de
Zelaya ao poder em nenhuma
hipótese. Em mais uma demonstração de que tem apoio
interno, o presidente interino
reuniu na sede do governo dezenas de empresários, políticos
e outros simpatizantes.
Embora esteja isolado externamente, o governo interino é
respaldado pelos demais Poderes, pela cúpula dos principais
partidos políticos, pelas Forças
Armadas e pela influente cúpula da Igreja Católica no país.
Micheletti também ratificou
que haverá eleições presidenciais em 29 de novembro, apesar de a OEA (Organização dos
Estados Americanos) já ter dito que o resultado não será reconhecido caso Zelaya não volte à Presidência. "No dia 27 de
janeiro de 2010 de manhã
[quando termina o mandato de
Zelaya], entregarei o poder ao
cidadão que o povo terá escolhido como presidente."
A crise política teve início em
março, quando Zelaya anunciou a intenção de convocar
uma Assembleia Constituinte.
Opositores e membros de seu
próprio partido viram na proposta uma tentativa de permanecer no poder.
Em 28 de junho, no dia em
que Zelaya planejava realizar
consulta sobre a convocação da
Constituinte, militares invadiram a sua casa de madrugada e
o obrigaram a embarcar num
avião rumo à Costa Rica.
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