São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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Zelaya vê diálogo "esgotado" e prepara volta

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MANÁGUA (NICARÁGUA)

Em resposta ao fracasso das negociações na Costa Rica, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse que o diálogo está "esgotado" e voltou a exortar os seus seguidores a promover uma "insurreição" contra o governo interino de Roberto Micheletti.
"Estarei em Honduras e farei tudo o que precisar (...) até que esse grupo usurpador do poder acate as ordens que deu a comunidade internacional", disse Zelaya, anteontem à noite, na Nicarágua.
Apesar da retórica, Zelaya deu sinais de que não tentará voltar a Honduras antes de amanhã, quando terminam as 72 horas pedidas pelo presidente costa-riquenho e mediador dos diálogos, Óscar Arias, para resolver o impasse.
A opção mais cogitada, segundo informou um assessor de Zelaya à Folha, é reunir milhares de simpatizantes na fronteira com a Nicarágua para recebê-lo. A data mais provável do retorno é na sexta.
Desde a deposição de Zelaya, há 23 dias, simpatizantes do presidente deposto vêm realizando protestos diários no país, mas sem conseguir objetivos mais radicais, como fechar as fronteiras com o país vizinho e realizar uma greve geral.
Apesar da tensão e do toque de recolher durante a maior parte dos dias desde a deposição, o comércio tem funcionado normalmente e não há registro de desabastecimento em artigos de primeira necessidade, como combustíveis.
Ontem, Micheletti voltou a dizer que não aceita a volta de Zelaya ao poder em nenhuma hipótese. Em mais uma demonstração de que tem apoio interno, o presidente interino reuniu na sede do governo dezenas de empresários, políticos e outros simpatizantes.
Embora esteja isolado externamente, o governo interino é respaldado pelos demais Poderes, pela cúpula dos principais partidos políticos, pelas Forças Armadas e pela influente cúpula da Igreja Católica no país.
Micheletti também ratificou que haverá eleições presidenciais em 29 de novembro, apesar de a OEA (Organização dos Estados Americanos) já ter dito que o resultado não será reconhecido caso Zelaya não volte à Presidência. "No dia 27 de janeiro de 2010 de manhã [quando termina o mandato de Zelaya], entregarei o poder ao cidadão que o povo terá escolhido como presidente."
A crise política teve início em março, quando Zelaya anunciou a intenção de convocar uma Assembleia Constituinte. Opositores e membros de seu próprio partido viram na proposta uma tentativa de permanecer no poder.
Em 28 de junho, no dia em que Zelaya planejava realizar consulta sobre a convocação da Constituinte, militares invadiram a sua casa de madrugada e o obrigaram a embarcar num avião rumo à Costa Rica.


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