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Réu assume culpa por ataques em Mumbai
Acusado abandona negativas e relata detalhadamente em tribunal sua participação nos atentados que mataram 166
Dossiê entregue pelo governo paquistanês ao indiano após encontro de premiês na semana passada pode ter motivado confissão
DO "NEW YORK TIMES", EM MUMBAI
O homem que as autoridades
indianas levaram a julgamento
como único sobrevivente do
grupo que matou mais de 160
pessoas em Mumbai em novembro fez uma confissão dramática e inesperada ontem,
após meses negando sua culpa.
Instantes antes de a 135ª testemunha no julgamento começar a depor, o réu, Ajmal Kasab,
se levantou e disse ao juiz que
participou dos ataques.
Em voz baixa, ele fez um relato detalhado do planejamento e
da execução da operação, começando por sua entrada no
grupo extremista islâmico do
Paquistão Lashkar-e-Taiba e
terminando com o ataque contra dois hotéis de luxo, uma estação ferroviária, um café popular e um centro judaico.
"Não acho que eu seja inocente", disse Kasab, 21 anos,
perto do final de sua confissão,
que levou o dia todo. "Meu pedido é que encerremos o julgamento e eu seja sentenciado."
Na Índia, existe previsão legal
de pena de morte -reforçada
por normas antiterrorismo .
Kasab falou de improviso,
sem avisar nem mesmo seu advogado, indicado pelo tribunal.
Agora o tribunal terá de decidir
se aceita sua confissão.
Ele descreveu como se tornou soldado do Lashkar. Disse
que ele e um amigo decidiram
tornar-se assaltantes armados.
Kasab contou que foram à cidade de Rawalpindi, onde pediram a um grupo extremista que
os treinasse para ser militantes.
Perguntaram no mercado local
por combatentes, lhes indicaram o escritório do Lashkar.
Nas semanas seguintes ao
ataque, investigadores da Índia
e dos EUA disseram que o grupo planejara os atentados.
Inicialmente, o Paquistão
negou o envolvimento de seus
cidadãos, mas Islamabad depois acusou criminalmente
cinco homens, que se acredita
serem agentes do Lashkar residentes no país.
Desde novembro, as relações
entre a Índia e o Paquistão, que
sempre foram tensas, estão
congeladas -o avanço das investigações em Mumbai é um
dos principais obstáculos à mudança na situação. Nas últimas
semanas, porém, o clima começou a ficar mais ameno.
Após um encontro na semana passada entre os premiês de
Índia e Paquistão, o governo
paquistanês entregou ao governo indiano um novo dossiê. Segundo pessoas que tiveram
acesso a ele, inclui novas provas
do papel do Lashkar no ataque.
O dossiê parece ter tido impacto sobre a decisão de Kasab.
Interrogado pelo juiz Tahilyani, ele disse que confessa agora
porque o Paquistão, depois de
passar meses negando que ele
fosse paquistanês, reconhecera
que ele é cidadão do país.
Mas não respondeu como
descobrira que aparece no dossiê. É um ponto crucial, porque
ele supostamente não deve ter
acesso a jornais ou TV.
A confissão aumenta a chance de o julgamento ter um desfecho relativamente rápido.
Tradução de CLARA ALLAIN
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