São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Réu assume culpa por ataques em Mumbai

Acusado abandona negativas e relata detalhadamente em tribunal sua participação nos atentados que mataram 166

Dossiê entregue pelo governo paquistanês ao indiano após encontro de premiês na semana passada pode ter motivado confissão


DO "NEW YORK TIMES", EM MUMBAI

O homem que as autoridades indianas levaram a julgamento como único sobrevivente do grupo que matou mais de 160 pessoas em Mumbai em novembro fez uma confissão dramática e inesperada ontem, após meses negando sua culpa.
Instantes antes de a 135ª testemunha no julgamento começar a depor, o réu, Ajmal Kasab, se levantou e disse ao juiz que participou dos ataques. Em voz baixa, ele fez um relato detalhado do planejamento e da execução da operação, começando por sua entrada no grupo extremista islâmico do Paquistão Lashkar-e-Taiba e terminando com o ataque contra dois hotéis de luxo, uma estação ferroviária, um café popular e um centro judaico.
"Não acho que eu seja inocente", disse Kasab, 21 anos, perto do final de sua confissão, que levou o dia todo. "Meu pedido é que encerremos o julgamento e eu seja sentenciado." Na Índia, existe previsão legal de pena de morte -reforçada por normas antiterrorismo .
Kasab falou de improviso, sem avisar nem mesmo seu advogado, indicado pelo tribunal. Agora o tribunal terá de decidir se aceita sua confissão. Ele descreveu como se tornou soldado do Lashkar. Disse que ele e um amigo decidiram tornar-se assaltantes armados. Kasab contou que foram à cidade de Rawalpindi, onde pediram a um grupo extremista que os treinasse para ser militantes.
Perguntaram no mercado local por combatentes, lhes indicaram o escritório do Lashkar. Nas semanas seguintes ao ataque, investigadores da Índia e dos EUA disseram que o grupo planejara os atentados. Inicialmente, o Paquistão negou o envolvimento de seus cidadãos, mas Islamabad depois acusou criminalmente cinco homens, que se acredita serem agentes do Lashkar residentes no país.
Desde novembro, as relações entre a Índia e o Paquistão, que sempre foram tensas, estão congeladas -o avanço das investigações em Mumbai é um dos principais obstáculos à mudança na situação. Nas últimas semanas, porém, o clima começou a ficar mais ameno.
Após um encontro na semana passada entre os premiês de Índia e Paquistão, o governo paquistanês entregou ao governo indiano um novo dossiê. Segundo pessoas que tiveram acesso a ele, inclui novas provas do papel do Lashkar no ataque. O dossiê parece ter tido impacto sobre a decisão de Kasab.
Interrogado pelo juiz Tahilyani, ele disse que confessa agora porque o Paquistão, depois de passar meses negando que ele fosse paquistanês, reconhecera que ele é cidadão do país.
Mas não respondeu como descobrira que aparece no dossiê. É um ponto crucial, porque ele supostamente não deve ter acesso a jornais ou TV. A confissão aumenta a chance de o julgamento ter um desfecho relativamente rápido.

Tradução de CLARA ALLAIN



Texto Anterior: Pentágono anuncia acréscimo de 22 mil soldados ao Exército
Próximo Texto: EUA firmam pacto de defesa com Nova Déli
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.