São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Europa, hora de fazer ou quebrar


Há hipóteses diversas em jogo, para todos os paladares; mas os europeus preferem falar, falar e falar, em vez de agir de uma vez


Em sua coluna de ontem, Delfim Netto citou Vilfredo Pareto, "sociólogo e economista matemático sério", que dizia já faz um século: "Concedam-me as hipóteses e eu lhes demonstrarei qualquer coisa".
A frase deveria servir de epígrafe para os testes de estresse a que foi submetida a banca europeia, cujos resultados foram divulgados na última sexta-feira, e para a reação de agentes de mercado a eles.
Foram reprovados apenas oito bancos, que, na história oficial, precisariam de apenas € 2,5 bilhões para ficarem sadios. Já a consultoria JP Morgan jogou para impressionantes € 80 bilhões o valor necessário para recapitalizar a banca.
Cada um pegou as hipóteses que quis e, com elas, demonstrou qualquer coisa. E tome especulação. Hoje é outro bom dia para formular hipóteses e especular em cima delas porque é dia da cúpula europeia que deveria disparar a bala de prata para resolver a crise grega, que já se tornou continental e até global (do que dão provas os telefonemas de anteontem do presidente americano, Barack Obama, para Nicolas Sarkozy e Angela Merkel).
Em tese, a hipótese que deveria ser formulada é simples, assim posta pelo Nobel de Economia Joseph Stiglitz em artigo para o jornal "Financial Times": "A dívida grega deveria ser trazida para um nível sustentável. Isso só pode ser feito reduzindo a taxa de juros que a Grécia paga, reduzindo seu endividamento e/ou aumentando seu produto interno bruto".
Já Barry Einchengreen, outra ilustre grife, professor de Ciência Política e Econômica da Universidade da Califórnia em Berkeley, exige que a Europa reconheça que não está funcionando a presente estratégia (trocar empréstimos à Grécia por pacotes de austeridade).
"Equivale a tentar tirar sangue de pedra", diz Eichengreen. Nada que você ainda não tenha lido aqui, mas escrito em inglês é mais chique.
As hipóteses são, portanto, muito fáceis de expor, mas a Europa está bloqueada pela divisão em torno de quem paga a conta, se só os contribuintes, como é em geral a praxe, ou se também a banca.
Parece, no entanto, que a negociação reservada entre autoridades e representantes graúdos da banca produziu uma hipótese de solução. Ou três, mais exatamente, segundo o jornal francês "Le Figaro".
Os credores privados poderiam escolher entre três formas de contribuir: trocar seus papéis gregos por outros que só vencerão dentro de cinco anos; participar no esquema idealizado na França, em que novos créditos seriam concedidos a 30 anos, mas haveria garantias europeias para eles; ou vender seus créditos por 60% do valor de face em operação de compra a ser financiada pelo Fundo Europeu de Estabilização Financeira.
Em qualquer desses casos, haveria o que o jargão batiza de "calote seletivo", a que se opõe o Banco Central Europeu, mas que poderia ser convencido se ficar claro que será limitado no tempo.
Enfim, hipóteses há muitas. À cúpula europeia cabe o que Mario Monti, presidente da Universidade Bocconi, chama de "escolha fundamental", em artigo para o "Financial Times": "Ou a União Europeia declara, mais uma vez, que está pronta para fazer o que for necessário para superar a crise da eurozona, ou de fato o faz".

crossi@uol.com.br


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