São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Líder terrorista mencionou missão para matar americanos semanas antes de ataques a embaixadas na África

Bin Laden declarou guerra em vídeo de 98

Associated Press
Osama bin Laden e Ayman al Zawahiri dão entrevista coletiva em maio de 1998, em imagem de TV


DA REDAÇÃO

Semanas antes de terroristas bombardearem as embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, em 1998, Osama bin Laden falou sobre uma missão que resultaria "na morte de americanos", afirmou ontem a TV CNN.
A segunda reportagem da emissora dos EUA sobre fitas de vídeo que obteve de um arquivo da Al Qaeda no Afeganistão também citou Bin Laden declarando em maio de 1998 que vários grupos islâmicos estavam unindo forças para iniciar uma ""guerra santa" contra cruzados e judeus". Bin Laden já utilizou o termo "cruzados" diversas vezes para se referir a ocidentais.
A primeira reportagem do canal sobre as fitas, transmitida anteontem, mostrava imagens de cachorros sendo mortos por gás venenoso e membros da Al Qaeda realizando emboscadas e sequestros simulados. Funcionários do governo dos EUA disseram que as imagens não mostravam nenhuma novidade sobre a capacidade e os equipamentos do grupo acusado de realizar os atentados terroristas de 11 de setembro.
A CNN transmitiu trechos ontem de uma fita mostrando uma entrevista coletiva realizada em 26 de maio de 1998, restrita a repórteres palestinos selecionados e um jornalista chinês, durante a qual Bin Laden declara guerra ao Ocidente e a Israel.
"Com a graça de Deus, formamos com muitos outros grupos e organizações islâmicas no mundo muçulmano uma frente chamada Frente Internacional Islâmica para promover a "guerra santa" contra os cruzados e os judeus", disse o terrorista saudita na entrevista, segundo um intérprete.
Em outro momento da gravação, Bin Laden menciona o uso de americanos como alvos, semanas antes dos ataques quase simultâneos de 7 de agosto de 1998 contra as embaixadas em Nairóbi (Quênia) e Dar es Salaam (Tanzânia), que mataram 231 pessoas, incluindo 12 americanos, e feriram 5.000. "E, com a graça de Deus, os homens reagiram a esse chamado e estão percorrendo esse caminho e estão fazendo um bom trabalho... Se Deus quiser, suas ações terão sucesso em matar americanos, e nos livraremos deles."
Washington culpa a Al Qaeda pelos ataques às embaixadas.
Acredita-se que a coletiva tenha ocorrido em um dos vários campos de treinamento que Bin Laden operava perto de Khost, no sudeste do Afeganistão.
Ismail Khan, um dos jornalistas paquistaneses presentes na coletiva, afirmou que repórteres atravessaram a fronteira do país a pé escoltados por membros do grupo extremista islâmico paquistanês Harkat ul Mujahideen.
O presidente dos EUA, George W. Bush, de férias em seu rancho no Texas, foi informado sobre as fitas, disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer.
A maior parte das fitas parece ter sido gravada antes de 11 de setembro, apesar de alguns trechos exibidos anteontem mostrarem imagens televisivas dos ataques em Nova York e no Pentágono.
Christa Robinson, porta-voz da CNN, afirmou que a TV havia mostrado os vídeos "às autoridades apropriadas, pois nos preocupamos com a segurança das pessoas no mundo". Ela não especificou quais eram as autoridades.

Pagamento
O correspondente da CNN Nic Robertson obteve as fitas de uma fonte não identificada no Afeganistão. A emissora afirmou ter pago "uma quantia modesta" pelos vídeos e que transmitiria mais imagens ao longo desta semana.
Segundo o tablóide americano "New York Daily News", executivos da CNN teriam admitido que a TV pagou "uma quantia de cinco dígitos" (até US$ 99 mil) pelo acesso às fitas.
Em entrevista à publicação, Robertson teria dito que a negociação não foi feita com membros da Al Qaeda no Afeganistão. Questionado se o dinheiro não acabaria nas mãos da rede terrorista, ele respondeu: "Absolutamente não". Robertson teve acesso a mais de 250 fitas, disse a CNN. Ele levou 64 delas para fora do país.

Com agências internacionais


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