São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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Oposição se divide em pró e contra EUA

RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO

A oposição no Iraque pode ser dividida em dois grupos: o que tem apoio interno, mas desconfia dos EUA (ou vice-versa), e o que não tem capacidade de mobilização dos iraquianos, mas conta com o apoio de Washington.
O primeiro grupo é composto principalmente pelos curdos, do norte do país, e pelos xiitas, do sul do Iraque.
Os curdos são cerca 4,5 milhões da população de cerca de 20 milhões do Iraque -o país é majoritariamente árabe. Desde a Guerra do Golfo, desfrutam de uma independência de fato, protegidos por aviões americanos e britânicos, que mantêm uma zona de exclusão aérea sobre o Curdistão.
O Partido Democrático do Curdistão e a União Patriótica do Curdistão "dividem" o poder local e, nos últimos anos, vêm procurando se manter neutros. Apesar de contar com 80 mil homens armados, sua participação proeminente num novo governo enfrentaria a dura oposição da Turquia, país vizinho que luta contra o separatismo de uma minoria própria de 12 milhões de curdos.
E a Turquia é um dos principais aliados dos EUA na região, considerada essencial para uma ação militar contra Bagdá.
Para o analista Mustafá Alani, especialista em Iraque do Royal United Services Institute, de Londres, isso impediria uma ação como a do Afeganistão, quando os EUA utilizaram a Aliança do Norte para derrubar o regime do Taleban.
Os muçulmanos xiitas, por sua vez, representam 65% da população iraquiana -Saddam é sunita- e têm o Irã como base principal.
Washington teme que um regime tão próximo a Teerã seja pior do que o atual.
O Congresso Nacional Iraquiano, baseado em Londres, é o maior exemplo do grupo com apoio dos EUA, mas sem capacidade de mobilização.
O CNI começou a receber fundos durante o governo Clinton, mas não tem força dentro do Iraque, onde veio perdendo apoio dos comunistas e de grupos islâmicos que antes faziam parte da coalizão.
"Eles não têm base nem popularidade", diz Alani.
Militares no exílio, como o general Naguib Salihi, poderiam ser uma alternativa de poder, afirma o especialista. Porém as reais ligações entre esses oficiais e os militares da ativa no Iraque são incertas.
Essas incertezas estão sendo decisivas para postergar uma ação americana, afirma Alani.


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