São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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AUSTRÁLIA

Em novo caso no escândalo de pedofilia na igreja, arcebispo deixa cargo para ser investigado; ele nega ter molestado garoto

Acusação de abuso afasta bispo de Sydney

KATHY MARKS
DO ""THE INDEPENDENT", EM SYDNEY

O conservador arcebispo católico de Sydney, George Pell, foi obrigado a se afastar de seu cargo ontem, após a divulgação de alegações de que ele teria molestado sexualmente um menino de 12 anos quando era seminarista, 40 anos atrás.
Pell, que causou polêmica no mês passado ao afirmar que o aborto é pior do que os abusos sexuais cometidos por religiosos, disse que vai se afastar de seu cargo temporariamente, enquanto as acusações são investigadas. Ele negou as acusações ""total e completamente" e afirmou ser vítima de uma campanha difamatória vingativa.
Um juiz aposentado da Suprema Corte, Alec Southwell, foi indicado ontem para conduzir uma investigação independente. A Igreja Católica da Austrália, assim como a irlandesa e a norte-americana, vem sendo tumultuada por acusações de abusos sexuais cometidos por religiosos. Milhões de dólares já foram pagos a vítimas a título de compensação, e o arcebispo Pell disse recentemente que, nos últimos seis anos, 90 padres foram condenados por molestar crianças.
Adversário acirrado da presença de homossexuais entre religiosos, Pell disse que vai se afastar para preservar a dignidade da Igreja Católica e do cargo de arcebispo.
""É evidente que vou cooperar com esse inquérito independente de todas as maneiras possíveis -de maneira franca, aberta e sem reservas", disse o arcebispo em comunicado lido numa entrevista coletiva, convocada às pressas. ""Alegar que eu, pessoalmente, esteja envolvido neste mal é uma calúnia vingativa. Os supostos fatos nunca aconteceram. Repito enfaticamente: as alegações são falsas."
Pell disse que foi um dos primeiros a expor os abusos sexuais ocorridos na igreja, tendo criado a primeira comissão independente para examinar a questão, há seis anos. Em junho, ele e seu colega de Melbourne, o arcebispo Denis Hart, publicaram anúncios de página inteira em jornais pedindo desculpas pela demora da igreja em enfrentar o problema.
Os anúncios foram publicados após a divulgação de alegações de que Pell teria oferecido o equivalente a R$ 84,5 mil aos pais de duas meninas abusadas por um padre durante seis anos, numa tentativa de comprar o silêncio deles.
Num primeiro momento ele refutou a acusação; em seguida, admitiu ter oferecido o dinheiro, mas disse que seria uma compensação, e não um cala-boca.
Pell também negou ter oferecido um suborno a um homem que o abordou, há dez anos, pedindo ajuda e dizendo que tinha sido sexualmente abusado por seu tio, um padre. O homem alega que o arcebispo lhe disse: ""Quero saber o que será preciso para manter você de boca fechada".
A equipe de investigação de abusos sexuais da Igreja Católica, o Comitê Nacional de Padrões Profissionais, disse ontem que o homem que está acusando Pell de abusos foi incentivado a procurar a polícia, mas não o fez. O inquérito foi pedido pelo presidente do Comitê, o arcebispo Philip Wilson.
Pell disse que não fará novos comentários para não prejudicar as investigações. Mas o primeiro-ministro australiano, John Howard, lhe ofereceu seu apoio, dizendo acreditar inteiramente em seu desmentido.


Tradução de Clara Allain


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