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GUERRA SUJA
Medida pode revelar detalhes da Operação Condor
EUA liberam documentos secretos sobre a ditadura na Argentina
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
O governo argentino recebeu
ontem mais de 4.600 documentos
secretos do Departamento de Estado dos Estados Unidos que contêm informações sobre os atos de
violência cometidos durante a última ditadura militar (1976-1983).
Segundo o chanceler Carlos
Ruckauf, os documentos devem
trazer dados "até agora desconhecidos" sobre a Operação Condor
-nome dado ao acordo de cooperação entre as ditaduras militares que governavam Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e
Uruguai e que facilitou a repressão na década de 70.
Os documentos, elaborados por
agentes da inteligência norte-americana enviados à Argentina
no período, vinham sendo mantidos em sigilo pelo Departamento
de Estado, mas, a partir de agora,
poderão ser consultados livremente pela internet.
Em comunicado, a Embaixada
dos EUA em Buenos Aires informou ter decidido abrir os arquivos para "ajudar a Argentina na
investigação da violência".
Segundo estimativas oficiais, 15
mil pessoas desapareceram no
país durante os últimos quatro
governos militares, vítimas da
violência do Estado.
Os papéis também podem complicar a situação de militares argentinos que teriam cometido crimes contra os direitos humanos
no período da ditadura, inclusive
durante a guerra das Malvinas
(1982).
Entre eles, está o ex-presidente
Leopoldo Galtieri (1981-1982),
que permanece detido em prisão
domiciliar desde julho por acusações de participação no sequestro, tortura e assassinato de 18 militantes do grupo Montoneros,
uma guerrilha de esquerda ligada
ao Partido Justicialista (peronista) que atuou no período.
Pelo menos 4 dos 18 membros
da guerrilha foram presos no Brasil e, depois, transferidos para a
Argentina.
Esse é o caso de Lorenzo Viñas e
Jorge Adur -detidos na cidade
gaúcha de Uruguaiana- e Ricardo Zucker e Mónica Pinus de
Binstock -presos no Rio de Janeiro.
A abertura dos arquivos norte-americanos vinha sendo pedida
há pelo menos dois anos pelos governos argentino e uruguaio, pelas Avós da Praça de Maio (organização de familiares de desaparecidos na Argentina) e pelo Congresso dos EUA.
"Os documentos são uma importante contribuição para as famílias buscando informações sobre parentes desaparecidos e para
os juízes que analisam a responsabilidade dos militares em abusos
cometidos no passado", disse
Carlos Osório, diretor da ONG de
direitos humanos Arquivo de Segurança Nacional.
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