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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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Iraque está "insuportável", diz brasileiro

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), José Francisco Ferraz Toledo, 52, não deixou mais o hotel onde está hospedado em Bagdá, depois do atentado que matou o chefe da missão da ONU no país, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Ele define a situação local como "insuportável" e não descarta abandonar o país.
Engenheiro agrônomo, Toledo chefia uma equipe da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) que trabalha na recuperação da agricultura iraquiana e visitava Vieira de Mello quase diariamente.
"Todos os nossos projetos passavam pelo Vieira de Mello, três técnicos nossos, que moram aqui, morreram no atentado contra o escritório da ONU. Daí dá para você sentir o clima e a tensão que estamos vivendo", disse Toledo à Agência Folha, por telefone.
Segundo Toledo, no hotel ainda existem luz e água, o que não acontece na maior parte de Bagdá. "Imagine um calor de 53C, sem água ou energia elétrica. A população está perdendo a paciência. O nível de tensão só aumenta com um atentado como esse", disse.
Toledo afirmou que acompanhou, pela TV, os trabalhos de remoção dos destroços no escritório da ONU. "Nunca havia acontecido um atentado dessa magnitude contra as Nações Unidas. Foi brutal e coloca em xeque todo o trabalho que está sendo desenvolvido por mais de 40 técnicos de vários países", disse.
Toledo afirmou que o fato de trabalhar entre 12 e 13 horas por dia o ajuda a "enfrentar a situação de tensão". Segundo ele, a insatisfação popular com a lenta reconstrução tem prejudicado a mobilidade dos funcionários da ONU.
"Evitamos deixar o hotel a não ser em carros oficiais da ONU e em grupos. E ainda existe o toque de recolher, com o Exército americano autorizado a disparar contra quem estiver na rua depois das 20h. Está tudo muito complicado desde a guerra, e agora piorou com esse ataque à ONU."
O pesquisador disse que participa de reuniões diárias sobre segurança. "Eu deixei claro que, se a situação continuar complicada, deixo o país independentemente da posição da ONU."


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