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Iraque está "insuportável", diz brasileiro
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O pesquisador da Embrapa
(Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), José Francisco
Ferraz Toledo, 52, não deixou
mais o hotel onde está hospedado
em Bagdá, depois do atentado
que matou o chefe da missão da
ONU no país, o brasileiro Sérgio
Vieira de Mello. Ele define a situação local como "insuportável" e
não descarta abandonar o país.
Engenheiro agrônomo, Toledo
chefia uma equipe da FAO (Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação) que
trabalha na recuperação da agricultura iraquiana e visitava Vieira
de Mello quase diariamente.
"Todos os nossos projetos passavam pelo Vieira de Mello, três
técnicos nossos, que moram aqui,
morreram no atentado contra o
escritório da ONU. Daí dá para
você sentir o clima e a tensão que
estamos vivendo", disse Toledo à
Agência Folha, por telefone.
Segundo Toledo, no hotel ainda
existem luz e água, o que não
acontece na maior parte de Bagdá. "Imagine um calor de 53C,
sem água ou energia elétrica. A
população está perdendo a paciência. O nível de tensão só aumenta com um atentado como
esse", disse.
Toledo afirmou que acompanhou, pela TV, os trabalhos de remoção dos destroços no escritório da ONU. "Nunca havia acontecido um atentado dessa magnitude contra as Nações Unidas. Foi
brutal e coloca em xeque todo o
trabalho que está sendo desenvolvido por mais de 40 técnicos de
vários países", disse.
Toledo afirmou que o fato de
trabalhar entre 12 e 13 horas por
dia o ajuda a "enfrentar a situação
de tensão". Segundo ele, a insatisfação popular com a lenta reconstrução tem prejudicado a mobilidade dos funcionários da ONU.
"Evitamos deixar o hotel a não
ser em carros oficiais da ONU e
em grupos. E ainda existe o toque
de recolher, com o Exército americano autorizado a disparar contra quem estiver na rua depois das
20h. Está tudo muito complicado
desde a guerra, e agora piorou
com esse ataque à ONU."
O pesquisador disse que participa de reuniões diárias sobre segurança. "Eu deixei claro que, se a situação continuar complicada,
deixo o país independentemente
da posição da ONU."
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