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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Dividida, oposição tem tarefa difícil

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

O presidente Hugo Chávez, que estava ontem na Argentina, ironizou a possibilidade de o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) autorizar a realização de um referendo para revogar seu mandato, após a oposição ter entregue um abaixo-assinado com milhões de assinaturas pedindo a votação.
"Parece que vai haver um referendo logo. Sim, nos EUA vai haver um referendo logo", disse Chávez, em referência ao referendo para revogar o mandato do governador da Califórnia, marcado para outubro.
Chávez vem afirmando não haver tempo disponível para a realização de um referendo neste ano, argumentando que os integrantes do CNE ainda precisam ser indicados, que deve haver um recadastramento eleitoral e que o abaixo-assinado precisa ser autenticado, entre outras coisas.
Caso consiga evitar a realização do referendo neste ano, Chávez poderia evitar deixar o poder mesmo sendo derrotado na votação. Isso porque a Constituição determina que, até o quarto ano do mandato presidencial, uma nova eleição é convocada em caso de afastamento do titular. A partir do quarto ano (agosto de 2004), quem assume é o vice -indicado pelo próprio presidente.
"Nesse caso, o presidente poderia indicar alguém de sua confiança, como seu irmão, Adán Chávez, para o cargo de vice, caso perceba que será derrotado no referendo", disse à Folha o analista político Alfredo Keller, da consultoria Alfredo Keller & Associados. "No limite, esse novo vice poderia, ao assumir, indicar o próprio Chávez como seu vice e renunciar para que ele pudesse assumir o cargo novamente", diz.
Ainda que o referendo ocorra antes do ano que vem, os analistas vêem grandes dificuldades para que a oposição consiga afastá-lo, apesar de as pesquisas indicarem que entre 65% e 70% dos venezuelanos rechaçam sua administração. Para aprovar o afastamento de Chávez, a oposição necessita mais votos do que ele recebeu em sua última eleição, em 2000 -3,7 milhões, ou 59% dos votantes.
Para Luis Vicente León, diretor do instituto de pesquisas Datanálisis, a oposição terá de vencer um possível boicote dos chavistas, a desmotivação do eleitorado e a tradicional abstenção alta para levar às urnas mais eleitores que aqueles que votaram em 2000.
A falta de uma liderança opositora única é considerada o maior trunfo de Chávez, que, com 30% de popularidade estável, tem mais apoio individual que qualquer nome da oposição. "A oposição segue muito dividida, sem unidade, desde o fim da greve geral", afirma León.


Com agências internacionais

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